Adorado. Admirado. Idolatrado. Processado. Ronaldinho Gaúcho,
conhecido no mundo inteiro pela genialidade com que fazia gols, acabou levando
dos campos a arte do drible para a vida privada. Ronaldo de Assis Moreira, seu
nome de batismo, aparece em quase 30 processos em diversos tribunais e comarcas
do país. A maioria deles no Rio Grande do Sul, onde nasceu.
Prestes a fazer 40 anos no próximo dia 21, R10 corre o risco
de passar o aniversário na cela de uma cadeia paraguaia após ter seu nome
envolvido num imbróglio de falsificação de passaportes e lavagem de dinheiro
naquele país. “Ninguém entende o que ele foi fazer lá e por que precisaria de
um documento paraguaio já que poderia, inclusive, entrar no país com a carteira
de identidade. Estamos chocados com tudo isso, mas também não nos espantamos”,
diz um amigo de longa data, dos tempos que o ex-jogador era uma estrela do
Grêmio.
Até outubro do ano passado, Ronaldinho e o irmão Roberto de
Assis Moreira, empresário, fiel escudeiro e muitas vezes apontado pelos amigos
do craque como “a raiz de todos os problemas do Ronaldo”, não podiam dar seus
rolês aleatórios pelo exterior. Os passaportes da dupla estavam apreendidos
pela Justiça por conta de uma dívida ambiental de R$ 6 milhões que os dois têm
por conta de uma obra irregular no sítio que a família tem na capital gaúcha.
Um acordo de pagamento em parcelas foi feito e os documentos
devolvidos após sentença do STF (Supremo Tribunal Federal). “Antes desse
acordo, os dois apresentaram contas sem fundo suficiente para emgambelar o
juiz. Não colou. R$ 10 milhões, que era a dívida total, são troco para o
Ronaldo”, conta um advogado do ramo.
Fato é que a família Assis (e aí também estão a irmã Deise e
a mãe, Miguelina, apontadas em alguns processos ao lados de Ronaldinho e
Roberto) está há anos encalacrada com as leis brasileiras.
Os processos vão da esfera trabalhista (há quatro anos existe
um processo no TRT-RS de um ex-funcionário que já teve ganhou de causa, uma
dívida de R$ 25 mil parcelada, que não consegue receber o total pendente),
passando por danos morais (o jogador é acusado de participar de um esquema de
pirâmide através de uma antiga empresa, a 18k World que lesou dezenas de
pessoas), até um processo por agressão e ainda partilha de bens aberto pela
ex-noiva, a jornalista Priscilla Coelho, que viveu com Ronaldo de 2012 a 2018.
As ações movidas em várias esferas miram a fortuna do
ex-jogador, eleito o melhor do mundo em 2004 e 2005, estimada em R$ 500
milhões. Em território nacional, ele aparece sendo dono de apenas uma empresa,
United Consultoria Esportiva e Licenciamentos Ltda, cujo capital social é de R$
100 mil. Roberto, aparece como sendo sócio de oito empresas, que unidas
valeriam apenas R$ 240 mil. Muitas vezes, os irmãos Assis apelaram para terem
direito à gratuidade e serem representados pela Defensoria Pública.
Nas inúmeras movimentações dos mais de 20 processos
envolvendo a dupla e outros réus, a maior dificuldade dos Oficiais de Justiça é
notificá-los. “Ninguém os encontra nunca. Os oficiais são impedidos de entrar
nos condomínios e com isso eles ganham tempo. As ações duram anos, eles fazem
um acordo e pronto”, aponta um advogado que já esteve numa dessas audiências.
O drible do bruxo, no entanto, acabou ficando conhecido do
judiciário. Em 2012, o Juiz de Direito Alex Gonzalez Custodio usou 14 páginas
para proferir sua sentença, condenando Ronaldinho Gaúcho e Assis ao pagamento
de R$ 302 mil numa ação por danos morais e materiais movida contra eles, que
construíram um muro numa de suas casas, sem autorização da secretaria de obras
de Porto Alegre, e que acabou caindo e destruindo a casa vizinha.
“Constata-se a desconsideração e o desrespeito que o dinheiro
e fama em excesso podem causar em uma pessoa, mesmo com seus vizinhos, em total
descaso, mesmo conscientes de que causaram prejuízos a terceiros, necessitando
essas pessoas virem a Juízo buscar a satisfação de seus direitos. E não é a
primeira vez que isso ocorre! Os requeridos entendem estarem acima da lei e da
Justiça (...) Até onde irá esta inversão de valores, por conta do Capital, como
único e exclusivo mandante dessa sociedade e que norteia os procedimentos da
Família Moreira? O Poder Judiciário não pode se curvar a estes expedientes!”.
JORNAL EXTRA
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