Por Leonardo Ferreira / Portalozk.com
Ministério Público levou caso à Justiça após queixa de
paciente.
O cirurgião plástico Renato Tatagiba, de Campos dos
Goytacazes, e a secretária da clínica onde trabalhava em Vila Velha, Priscila
Nascimento de Souza Cyrilo, foram denunciados pelo Ministério Público do
Espírito Santo (MPES). Tatagiba foi acusado de lesão corporal culposa em uma
cirurgia estética realizada há dois anos. O crime prevê pena de dois meses a um
ano de detenção. Ele também foi denunciado por falsificação de documentos. Já
Priscila foi acusada de falsificar receituários e atestados médicos.
A paciente, uma empresária de 34 anos – que preferiu não ter
a identidade revelada –, fez uma queixa ao MPES, que solicitou investigação à
Polícia Civil. Após a conclusão do inquérito criminal, a denúncia foi
apresentada à Justiça.
Segundo o promotor do caso, Roberto Silveira Silva, Tatagiba
praticou lesão corporal culposa, “na modalidade de erro médico”, em uma cirurgia
de mastopexia (correção de mamas caídas), lipoaspiração e correção de cicatriz
de cesárea. Na ocasião, após a intervenção que foi realizada em janeiro de
2016, a empresária apresentou sintomas que, de acordo com a denúncia, não eram
previstos como normais no pós-cirúrgico como “falta de ar, dores insuportáveis
e a presença de secreções nos seios”.
“Minha vida virou um inferno. Todos os médicos que me
atenderam depois disseram que eu passei mal devido ao bloqueio (a anestesia)
que me fizeram no dia da mamoplastia. Eles acreditam que eu tive uma parada
cardíaca durante a cirurgia e que o doutor Renato Tatagiba só amenizou a
situação, não me socorreu”, afirmou a paciente.
Ainda segundo a denúncia, a paciente, que sentia fortes
dores, tentou marcar uma consulta de emergência com Tatagiba depois que teve
alta. Ela manteve contato com a secretária Priscila, que afirmava que o médico
não estava no Espírito Santo.
INTERNAÇÃO
Quando conseguiu falar com o cirurgião, ele orientou que a
mulher retirasse a cinta de proteção e caminhasse. No entanto, as dores
permaneceram e depois de uma semana do procedimento cirúrgico, a empresária deu
entrada no hospital. Ela ficou internada por sete dias em uma UTI.
Após receber alta, as dores continuavam e a paciente tentou
retomar o contato com Tatagiba. Com dificuldades de falar com o cirurgião, a
empresária ligou para um médico da equipe dele, que, por sua vez, procurou
Priscila que finalmente viabilizou o contato da vítima com Tatagiba.
RECEITA MÉDICA
A denúncia do MPES traz ainda mais detalhes sobre o caso. O
documento diz que o médico afirmou que deixaria uma receita médica com a
secretária, mas, procurada, Priscila disse que não ficou com nenhum
receituário. Segundo a denúncia, Priscila questionou a paciente qual seria a
medicação porque ela mesma confeccionaria a receita e assinaria o documento. De
acordo com a denúncia do promotor Roberto Silveira Silva, a secretária disse
ainda que Tatagiba a autorizava assinar os receituários em nome dele, fato que
foi comprovado pelos áudios anexados na denúncia. Por conta deste fato, o
cirurgião também foi enquadrado no artigo 298 do Código Penal, por falsificação
de documentos.
O promotor ainda destacou a grande quantidade de cirurgias
realizadas no dia em que a vítima foi operada. Segundo a denúncia, foram
aproximadamente nove procedimentos dos mais variados tipos, como próteses de
silicone, lipoaspiração, entre outras.
Intimados a comparecerem na delegacia, Tatagiba e Priscila se
reservaram o direito de se manifestarem apenas em juízo. Ao serem solicitados a
fornecer material grafotécnico para comparação com as assinaturas que estão nos
autos, os acusados se negaram, alegando que não produziriam provas contra si
mesmos. No entanto, de acordo com o promotor do caso, é possível perceber com
facilidade as inconsistências das assinaturas.
SOFRIMENTO
Agora, a empresária convive com uma insuficiência cardíaca e
diz que depende de medicação para o resto da vida. “Se eu converso por muito
tempo já fico ofegante. Não faço mais atividade física e eu era simplesmente
apaixonada por muay thai. Minha vida foi destruída depois dessa cirurgia.”
Além disso, ela diz que os danos não foram apenas
cardiológicos. A empresária conta que precisou encarar o fato de que as mamas
ficaram deformadas. Com a sensação de que os seios latejavam de tanta dor, ela
procurou outro médico e precisou se submeter a outra cirurgia para corrigir o
procedimento anterior. “Hoje tomo remédios fortíssimos e faço tratamento para
depressão.”
SIGILO
Procurado para comentar a denúncia do Ministério Público do
Espírito Santo (MPES) contra o médico Renato Tatagiba, o Conselho Regional de
Medicina (CRM-ES) informou que os processos e sindicâncias tramitam em sigilo.
Segundo o órgão, se a atuação ou a omissão de um médico
estiver prejudicando um paciente ou a população, uma interdição cautelar pode
ser aplicada pelo conselho.
Essa interdição pode acontecer no início ou durante o curso
de um processo ético-profissional contra um médico. Ainda de acordo com o
CRM-ES, em casos de punições como censura pública, suspensão do exercício ou
até a cassação de um profissional, a divulgação é feita no Diário Oficial e em
jornal de grande circulação.
MÉDICO NEGA QUE HOUVE ERRO
O médico Renato Tatagiba disse que ainda não foi comunicado
oficialmente sobre a denúncia do Ministério Público do Espírito Santo (MPES). O
advogado do cirurgião plástico, Celso Papaleo, também afirmou que vai se
manifestar no processo assim que for notificado.
“O que temos é que o processo está em fase de inquérito
policial. Vamos fazer uma manifestação no processo para que seja concluído que
não houve crime porque de fato não houve”, afirmou Papaleo, que também faz a
defesa de Priscila Nascimento de Souza Cyrilo, acusada de falsificar
receituários e atestados médicos quando era secretária de Tatagiba, em uma
clínica de Vila Velha.
Segundo o cirurgião plástico, a defesa desse caso está
fundamentada e comprova que as acusações são falsas. “Como houve erro médico se
não foi julgado? Não foi feito sequer um laudo confirmando isso”, pontuou
Tatagiba.
Ainda segundo ele, é possível realizar 10 procedimentos
cirúrgicos em um mesmo dia dependendo do tipo de cirurgia e do médico. “Tempo
cirúrgico é muito relativo. Para colocar uma prótese de silicone preciso de 45
minutos. Mal de ser lerdo eu não padeço. Nunca perdi um paciente na minha
vida”, afirmou, acrescentando que já atendeu a mais de 17 mil pacientes.
Já sobre a acusação do MPES de falsificação de documentos,
Renato Tatagiba explicou que os receituários ficam prontos no consultório. “A
receita já fica pronta, carimbada e assinada. Não existe nada para prescrever.
Se a paciente precisar, a receita é entregue a ela.”
Para Tatagiba, o caso em questão faz parte de uma “indústria
da possibilidade do dano moral”. Ou seja, pacientes entram na Justiça contra
cirurgiões plásticos para se beneficiarem com o dinheiro que pode ser adquirido
nas causas.
Fonte: A Gazeta online
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