Depois de mais um ano de espera, o professor Fabrício César
Heleno Santos foi chamado para assumir a vaga conquistada num concurso público
para diretor de uma escola no Guarujá, no litoral de São Paulo. Sua posse
aconteceria no começo de janeiro, mas ele foi impedido de tomá-la. Isso porque
o registro de seu diploma em Pedagogia, pré-requisito para exercer a função,
estava cancelado. O diploma de Santos foi um dos 65.173 documentos cancelados
por uma portaria do Ministério da Educação (MEC) do fim do ano passado. Todos
os diplomas haviam sido chancelados pela Universidade Iguaçu (Unig), com sede
em Nova Iguaçu, no estado do Rio de Janeiro, investigada por participar de um
esquema de fraude na educação com alcance nacional.
—Ser diretor era um sonho, fiz um planejamento de vida,
estudei pro concurso, fiz cursos preparatórios. Quando acho que vou relaxar, me
estoura uma bomba dessa. Não tive férias, não tive Natal nem final de ano. Vou
fazer 42 anos e, pela primeira vez na minha vida, tomei calmante — disse Santos.
Assim como os donos dos mais de 65 mil diplomas cancelados,
Santos foi pego de surpresa. Soube por amigos, via WhatsApp, que diplomas com a
chancela da Unig estavam numa espécie de “lista suja” do MEC e não tinham mais
validade. Embora o registro de seu diploma fosse da Unig, Santos nunca cursou
essa universidade. Em 2013, quando ingressou na segunda licenciatura, em
Pedagogia, fazia aulas num instituto de ensino em Santos, parceiro da Faculdade
da Aldeia de Carapicuíba (Falc), que obtinha os registros da Unig. Até então,
pelas regras do MEC, diplomas expedidos por faculdades tinham de ser
registrados por universidades — abrindo brecha para possíveis fraudes.
Santos diz ter se assegurado de que a situação da Falc estava
regular no site do MEC. Contou ter frequentado aulas presenciais, feito provas
e Trabalho de Conclusão de Curso. Pelo curso todo, pagou 18 parcelas de R$ 350.
Um ano e nove meses depois, já tinha o diploma. O GLOBO ouviu outros cinco
professores em situação semelhante. Alguns também prejudicados em concursos
públicos. Para o advogado Rafael Leoni, que defende alguns deles, a medida fere
os direitos do consumidor.
— Eles cursavam uma faculdade com boa avaliação no MEC, nome
no mercado e que estampava legalidade. Faziam tudo como manda o figurino —
disse Leoni.
A fraude da qual Santos foi vítima se tornou conhecida das
autoridades por uma Comissão Parlamentar de Inquérito da Assembleia Legislativa
no Estado de Pernambuco. Em 2016, o relatório final da CPI concluiu que o
esquema, em geral, envolve três entidades associadas: uma instituição de ensino
que oferta cursos livres como se fossem de graduação e pós-graduação; uma
faculdade reconhecida pelo MEC, mas sem permissão para terceirizar estes cursos
; e, por fim, uma universidade, que garante
os registros dos diplomas. Na maior parte dos casos, os cursos oferecidos eram
mais baratos que a média no mercado e menos exigentes em carga horária e
avaliações.
Segundo a CPI, essas instituições iludiam alunos a partir da
venda de cursos irregulares ao terceirizar o serviço de educação. A Unig teve
papel chave na fraude por conferir “o aspecto formal de legalidade ao esquema
de diplomação irregular em todo território nacional”. Depoimentos na CPI
mostraram que a Unig levava de um a dois meses para chancelar os diplomas. Em
outras universidades, o processo levava mais de um ano. As investigações
apontaram crimes como propaganda enganosa, sonegação fiscal, falsidade
ideológica, estelionato e associação criminosa.
A Unig era uma das dezenas de instituições envolvidas na
fraude, segundo a CPI. Na ocasião, o MEC instaurou um processo administrativo.
Afastou o corpo diretivo da Unig (reitor, vice, entre outros), suspendeu sua
autonomia universitária, o que a impediu de registrar novos diplomas, nomeou um
interventor e determinou uma auditoria interna. Depois de cumprir um protocolo
de compromisso com o MEC, com a interveniência do Ministério Público Federal
(MPF) de Pernambuco, a Unig cancelou os mais de 65 mil diplomas registrados
para terceiros. Em troca, limpou sua barra com o MEC. De acordo com a portaria
recente, retomou a permissão para emitir diplomas e tem até autonomia para
abrir cursos.
Professores que buscavam uma segunda licenciatura em
Pedagogia para melhorar salários nas redes municipal e estadual de ensino, ou
ainda para prestar concursos, foram prejudicados. O Centro do Professorado
Paulista, que representa os profissionais do magistério, solicitou ao
secretário de Educação de São Paulo que “assegure a utilização dos referidos
diplomas para todos os fins”. Como não obteve retorno, entrará com um mandado
de segurança coletivo. Não é possível estimar quantos professores deixaram de
tomar posse por terem seus diplomas cancelados. A Secretaria de Educação de São
Paulo se limitou a afirmar que aguarda a tramitação do processo administrativo
instaurado pelo MEC, além de apreciação da Procuradoria-Geral de Estado, e que
“todas as medidas administrativas serão adotadas”.
Assustados com o cancelamento dos diplomas, os professores se
organizaram no WhatsApp. Há pelo menos três grupos em São Paulo, com mais de
700 pessoas. Com medo da exposição, firmaram uma espécie de pacto de silêncio.
Muitos deles não quiseram conceder entrevista. Temem ser acusados de contratar
um curso fácil. As vítimas da Unig reconhecem que alguns dos cursos com
diplomas cancelados eram irregulares, mas não todos.
O professor Everton Lara Seixas, de 38 anos, cursou Pedagogia
na sede da Falc, em Carapicuíba. O curso durou três anos. No ano passado, ele
foi convidado por uma escola de Diadema para assumir a vice-direção, cargo que
exige o diploma, mas não concurso. Ao apresentar a documentação, foi
surpreendido pela recusa da Secretaria de Educação. Teve de voltar à escola de
origem.
— Precisei convencer a diretora a me aceitar de volta. Foi
transtorno grande. Noites de insônia, preocupação… Em vez de rever caso a caso,
a Unig cancelou esse monte de diplomas. Não separou o joio do trigo — afirmou.
Tanto Santos quanto Seixas entraram na Justiça. Ambos
obtiveram uma liminar para assumirem seus postos. Santos tomou posse há alguns
dias. Seixas conseguiu a vice-diretoria da escola de origem. Depois do caso
Unig, as regras para emissão e registro de diplomas para graduação foram
alteradas pelo MEC no ano passado, a fim de evitar fraudes.
Em nota, a Unig disse que os cancelamentos ocorreram “em
decorrência do processo de supervisão instaurado pelo MEC que visava apurar os
registros realizados em diplomas emitidos por faculdades sem autonomia para
registro do próprio diploma, em desacordo com seus atos autorizativos”.
A defesa da Falc afirmou que entrou na Justiça para tentar
“reverter a decisão e revalidar os diplomas, a fim de não prejudicar os alunos,
que não tem culpa”. Segundo o MEC, no processo de apuração de irregularidades
ficou constatado que, no período de 2011 a 2016, a Unig teria realizado 94.781
registros de diplomas de cursos superiores de outras instituições. Depois de
firmar o protocolo de compromissos, “a Unig adotou, efetivamente, providências
para normatizar e sistematizar seus procedimentos de registro de diplomas de
modo a conferir a idoneidade da documentação apresentada pela instituição
emitente do diploma”.
Do total de diplomas registrados, regularizou parte deles e
cancelou 65.173 dos registros irregulares (67,45%). O MEC afirmou ainda que
Faculdade da Aldeia de Carapicuíba (FALC) foi uma das 25 instituições de ensino
superior “descredenciadas por este Ministério com comprovada atuação irregular
de emissão de diplomas e certificados irregulares pela CPI da Alepe”.
Fonte: Aline Ribeiro / O Globo
Vem para UNIG de Itaperuna investigar porque tem alunos de Teixeira de Freitas na Bahia, Mato Grosso do Sul, Brasília estudando medicina tão longe de casa.
ResponderExcluirComo corre dinheiro em uma cidade de 80 mil habitantes que só tem praticamente uma indústria.
Venham investigar porque estão formando pessoas em medicina que vão matar muita gente depois de formado.
Vem rápido, começa por obter uma vaga.
Fica a dica!