Mais duas denúncias que revelam mortes suspeitas na UTI da
Santa Casa de Guaçuí e indícios de fraudes chegaram ao Ministério Público
Estadual (MPES) na quarta-feira. Ao todo, 15 pessoas são investigadas num
esquema de desvio de dinheiro público da instituição, destas, nove estão
presas.
O Aqui Noticias teve acesso com exclusividade aos
documentos e não revelará os nomes dos denunciantes e das vítimas para não
atrapalhar as investigações.
A filha de um idoso, de 72 anos, que morreu em abril do ano
passado revelou ao MPES que no prontuário médico constava uma cirurgia que
jamais havia sido realizada.
“O senhor Joaquim (nome fictício) deu entrada na enfermaria,
bloco D, em razão de uma fratura no colo do fêmur. No dia seguinte foi levado
para a UTI para fazer a cirurgia. Chegando lá, a barriga do idoso apresentou
inchaço e os médicos disseram que era uma distensão abdominal. Após ultrassom,
o médico Carlos Augusto, angiologista, decidiu fazer uma cirurgia para
averiguar as causas e nenhuma patologia foi encontrada. Após a cirurgia,
Joaquim estava cada dia melhor, se recuperava muito bem, apenas sentia dores no
fêmur já que a cirurgia ainda não havia sido realizada. Cinco dia depois, na
parte da manhã a família viu que o idoso estava muito bem, porém, no mesmo dia,
à noite, sem avisar a família, Dr. Hélio Ferraz Filho refez a cirurgia, sob o
argumento de que estava se abrindo. Às 00h45, o hospital entrou em contato com
uma filha de Joaquim e informou o óbito do pai. Inconformada com a situação e
necessitando dar entrada em um processo do DPVAT, a filha da vítima pediu ao
hospital cópia do prontuário onde constava uma cirurgia do fêmur, que não foi
feita, bem como não havia registro de alguma tomografia realizada antes da
primeira cirurgia”, diz trecho do relato na denúncia feita ao MPES.
Outras duas mulheres, irmãs, também procuraram o Ministério
Público para relatar a morte suspeita da mãe, ocorrida em agosto do ano passado
após ela passar pela UTI e setor de hemodiálise da Santa Casa de Guaçuí.
“Após 23 dias internada na UTI para tratamento de trombose, o
médico Diogo informou a família de dona Maria (nome fictício) que ela estava
com quadro estável, que iria para o quarto e logo receberia alta. Dois dias
depois, quando os filhos chegaram para visitar a mãe perceberam que ela estava
com um aparelho no pescoço e sentindo muita dor. Dr. Victor Almeida informou
para a família que a paciente passaria por uma sessão de hemodiálise já que
tinham aplicado Riparina e estavam tentando reverter a situação. O pai de
Victor, Carlos Almeida, ainda indagou o filho se ela realmente precisaria fazer
aquilo e ele disse: ‘precisa sim pai’. A família, vendo o desespero da mãe e
não podendo acompanhar os procedimentos, ligava para o hospital e a única
informação passada era de que ela estava bem. Na madrugada do dia seguinte, às
00h50, dona Maria faleceu. Porém, seus familiares acreditam que a morte ocorreu
antes”, diz trecho de outro relato das denunciantes ao Ministério Público
Estadual.
Investigação de 22 mortes no setor de hemodiálise
O MPES, por meio da Promotoria de Justiça de Guaçuí,
requisitou na quarta-feira a instauração de Inquérito Policial para apurar 22
mortes de pacientes do setor de hemodiálise da Santa Casa. Um paciente que faz
tratamento no hospital denunciou as mortes e várias irregularidades no
atendimento, como demora na realização do procedimento de filtragem do sangue e
máquinas com defeitos que ficam sem uso por vários dias.
A medida adotada é um desdobramento da operação “Carro de
Boi”, deflagrada no último dia 7, com objetivo de desarticular um esquema
irregular na celebração de contratos de prestação de serviços envolvendo o
hospital, destinados ao funcionamento da UTI e ao setor de hemodiálise. Ao
todo, 11 pessoas, entre médicos, empresários, provedores e ex-provedores da
unidade foram presas na ação.
Após a deflagração da operação, o denunciante procurou a
Promotoria de Justiça de Guaçuí e revelou a situação do setor de hemodiálise,
informando que, somente no ano passado, 16 pacientes morreram. Nesse ano,
outras seis mortes foram registradas.
Investigação
O MPES espera que a apuração da Polícia Civil seja concluída
em 30 dias. Após a investigação policial, se comprovada as mortes por
ineficiência no atendimento da hemodiálise, os proprietários da empresa que
presta o serviço serão responsabilizados pelos óbitos.
Uma audiência pública será realizada no dia 27 de junho, às
19h, na sede da Promotoria de Justiça de Guaçuí, para tratar das
irregularidades apuradas na Santa Casa.
Jehovah não cometeu crimes, afirmam defesa e familiares
O advogado Ludgero Liberato, que defende o médico Jehovah
Guimarães Tavares, afirma que o profissional da saúde, em mais de 10 anos de
serviços prestados, em momento algum praticou qualquer ato que possa ser
considerado ilícito e, muito menos, criminoso.
“O fato restará comprovado quando se permitir o exercício do
direito de defesa, que deve ser assegurado a todo cidadão”, disse a defesa.
Segundo o advogado, por conta de seu histórico profissional
de dedicação à medicina e por sua atuação íntegra, família e amigos lamentam
profundamente que as acusações sejam feitas antes da apuração cabal e do
efetivo contraditório, o que acaba por manchar a reputação de pessoas e o nome
de honradas famílias.
“Após o devido processo legal, será possível perceber a
injustiça acometida a pessoas que são acusadas e julgadas sumariamente. Jehovah
e toda sua família e amigos confiam no Poder Judiciário para que se restabeleça
a normalidade constitucional”, finalizou o advogado Ludgero Liberato.
Santa Casa
A Santa Casa, por meio de nota, informou que não vai se
pronunciar, uma vez que se trata de denúncias feitas ao Ministério Público e
que não foram informados oficialmente.
“Com relação aos procedimentos médicos adotados, somente os
mesmos podem se manifestar. Seguimos colaborando com o Ministério Público com
relação às investigações em curso. A
Santa Casa de Misericórdia de Guaçuí é a maior interessada na apuração destas
questões”, disse a instituição, em nota.
POR
WANDERSON AMORIM - AQUI NOTICIAS
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