A campanha “Campos, doe esperança. Doe medula” foi encerrada
neste sábado (19) duas horas antes do previsto e superou a meta de mais de três
mil cadastros efetuados, nos dois dias de mobilização. Até às 12h, 1.200
pessoas compareceram ao Ciep da Lapa para praticar o gesto de solidariedade.
Ontem, foram contabilizados 1.700 cadastros. Diante das dificuldades para o
cadastramento de doadores, a campanha, iniciada na sexta-feira (18), foi
organizada por um grupo de mais de 200 voluntários. Devido a grande adesão, a
expectativa é de que novas campanhas sejam promovidas na cidade.
De acordo com a organização da campanha, por volta das 14h,
somente as pessoas que já estavam no interior da unidade de ensino puderam
fazer o cadastro, cujo prazo inicialmente seria encerrado às 16h.
— O sucesso da campanha superou todas as expectativas da
organização. A equipe do Laboratório de Histocompatibilidade e Criopreservação
(HLA) da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) veio com profissionais
e material para atender duas mil pessoas, o que já seria um número maravilhoso.
Como só no primeiro dia foram 1.700 cadastros, a organização da campanha foi em
busca de mais material. Foi então que conseguimos mais kits do próprio HLA,
fomos ao Rio e buscamos nessa madrugada. Ainda conseguimos a doação de mais mil
kits de suas empresas privadas em Campos que gentilmente nos fizeram a doação.
Todo material foi esgotado. Agradecemos do fundo do coração a todos que vieram
e aqueles que por esse ou outro motivo não puderam se cadastrar — disse a
organização.
Em março, a professora Priscila Pixoline Eiras Costa, de 34
anos, iniciou um tratamento para combater a leucemia, em um hospital de
Niterói. Desde então, ela faz parte da fila de pacientes que aguardam doação de
medula óssea. “Se eu acordo todos os dias com a vitória na cabeça, é por causa
dele, do meu filho”, declarou.
Após confirmada a hipótese de leucemia, que surgiu durante
uma consulta de rotina com uma obstetra, Priscila disse que, ao descobrir a
necessidade do transplante de medula, o irmão fez o teste de compatibilidade,
com resultado de 50%. No entanto, o índice de rejeição é grande, o que levou a
professora a entrar na fila de espera.
— A gente está nessa busca por doador de 80%, 90%, 100%
compatível. Seria o ideal. A nossa é luta é diária. Por mais que eu possa ficar
um tempo em casa, a gente ainda fica com receio de ter alguma coisa e voltar
para o hospital. A medula, além de fabricar as células do sangue, ela também é
responsável pelo sistema imunológico. Tem várias restrições quanto à
alimentação, além de evitar aglomeração. Hoje eu estou aqui porque eu sei que é
uma quadra, es-paço aberto. O risco é muito menor, mas existe. Eu estou
abraçando todo mundo e não tem como me segurar, não tem como não receber esse
carinho — declarou.
A professora, que tem um filho de um ano e dois meses, também
enfrentou restrição quanto à amamentação. Para ela, o afastamento de casa, para
tratamento, é um dos momentos mais difíceis:
— A primeira internação foi a mais difícil e a mais demorada
também. Eu fiquei uns 30 dias no hospital. Parei de amamentar. Eu era mãe em
tempo integral, tive que cortar a amamentação de um dia para o outro e foi
muito difícil, porque meu filho não tinha acesso à chupeta, à mamadeira, nada
disso. Estava começando na fase de introdução alimentar. Eu falo que nada que
acontece comigo no hospital vai superar a dor da saudade. O tempo passa muito
rápido. Duas semanas fora do hospital passam voando. No hospital, a gente fica
contando as horas que não passam. Então, eu quero aproveitar sempre o máximo.
Um dos organizadores da campanha, o enfermeiro e professor
Rafael dos Santos Batista, de 37 anos, disse estar se sentindo realizado com o
número de doadores que compareceram ao Ciep. A quantidade foi além da esperada
para as primeiras horas do cadastramento. Ele relatou que, para a realização da
campanha, foram necessários aproximadamente quatro meses de organização, com
auxílio de voluntários, igrejas e divulgações para conscientizar a população
sobre a importância da doação.
— A campanha começou com o Fernando. Ele pediu autorização do
HLA (Laboratório de His-tocompatibilidade da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro) para que eles pudessem vir aqui. Quando chegou a autorização, ele
mobilizou os amigos. Aí, fizemos uma reunião na Igreja do Saco (Nossa Senhora
do Rosário), com pouquíssimas pessoas. A mobilização começou ali. O mais
interessante é que essa campanha ficou na mão da sociedade civil. Não tem
dinheiro público aqui. São doações de pessoas que queriam ajudar. É uma
campanha de voluntários. Ela aconteceu com a vontade das pessoas de Campos —
relatou Rafael, destacando que, para efetuar o cadastro, os doadores tinham que
ir até o Rio de Janeiro ou Vitória.
Para o enfermeiro, a campanha deste final de semana é o
primeiro passo para que seja insta-lado um ponto de coleta no município. “Creio
eu que nós vamos colher uns 1000 só hoje (sexta).
Além de campistas, o espaço de cadastramento reuniu moradores
de outros municípios da região, como São João da Barra, São Francisco de
Itabapoana e São Fidélis. “Tem ônibus para vir amanhã (sábado) de São Fidélis.
Mobilizou muito porque a região viu a oportunidade de fazer algo. A gente só
escuta coisas ruins sobre Campos. Então, foi uma oportunidade para o campista
mostrar que tem força e pode fazer algo diferente sem depender do poder
público. E eu agradeço muito a todos os voluntários que participaram dessa
ação”, pontuou.
Para se cadastrar como doador, é necessário ter entre 18 e 54
anos, estar em bom estado geral de saúde, não ter doença infecciosa ou
incapacitante e não precisa estar em jejum. É preciso apresentar documento
oficial com foto. Pessoas que tenham tatuagens e piercings também podem
realizar o cadastramento. A restrição para doação ocorre apenas em casos de
doenças sanguíneas, imunológicas e pessoas que tenham feito tratamentos
oncológicos.
Apoio à ação — Junto aos que compareceram para se cadastrar
como doadores, diversas pessoas foram até o Ciep para apoiar a campanha nesta
sexta-feira. Entre os apoiadores, estava a pequena Manuela Ribeiro de Morais,
de 10 anos, acompanhada pelo pai, Júnior Ri-beiro, e pela médica Sandra Chalhub
de Oliveira, que diagnosticou a leucemia na criança no ano passado. Diversas
campanhas de doação de sangue foram realizadas em prol da menina. Atualmente,
ela está em fase de remissão completa da doença, com consultas quinzenais para
revisão.
Júnior relatou que, no dia 24 de outubro do ano passado,
Manuela apresentou um quadro de febre. Os pais a levaram ao hospital, e surgiu
a possibilidade de a menina estar com a doença. O diagnóstico foi confirmado
dois dias depois, por Sandra. Logo depois, Manuela foi levada para o Rio de
Janeiro, onde passou pelo tratamento. Para o pai, a participação na campanha de
doação de medula é uma forma de incentivar a população sobre a importância do
gesto.
— Na verdade, foi o que eu coloquei nas redes sociais: quando
a gente se depara com o “precisar”, quando chega à nossa casa — mesmo que não
tenha sido o caso dela (Manu), mas vimos, neste um ano de tratamento, como
muitos necessitam —, vemos como é importante a doação de medula. No caso dela
mesmo. Ela necessitou de infinitas transfusões de sangue, plaquetas e hemácias.
Para nós, o doar é que é importante — afirmou.
Sandra se recordou dos primeiros momentos do diagnóstico de
Manu e dos passos dados até a remissão da doença.
— Ela está na fase de remissão completa. Em criança, há uma
chance muito grande de cura sem o transplante, dependendo da leucemia. No caso
dela, foi uma possibilidade que conseguimos alcançar — contou, ressaltando
acreditar que a campanha é o primeiro passo para se criar uma cultura de
doação, tanto de medula quanto de sangue, em Campos e na região.
FONTE: FOLHA 1
Nenhum comentário:
Postar um comentário