G1 entrevista produtores para explicar o número alto de
acidentes com cantores e equipes. Em 2019, foram pelo menos 14 casos
noticiados. Entenda por que eles fazem tantos shows.
O estilo que mais toca no Brasil é o que mais viaja e faz
shows. E quanto mais tempo os sertanejos estão nas estradas, mais riscos. Neste
ano, o G1 noticiou 14 acidentes de trânsito com sertanejos ou suas equipes.
"Por mais que a maioria dos escritórios, principalmente
médios e grandes, tenham sempre cuidado em ter bom ônibus, boas carretas e
profissionais qualificados, a exposição ao risco sempre existe. Quanto mais
você precisa se deslocar, mais você está exposto a isso", explica Dan
Rocha, diretor do grupo Chaves, escritório que administra a carreira do cantor
Léo, ex-parceiro de Victor.
O G1 conversou com ele e outros produtores de empresas do
mercado sertanejo. Quase nenhum quis se identificar nesta reportagem: um
indício de que o assunto ainda é tabu entre eles.
Eles citaram alguns pontos que podem levar ao aumento dos
acidentes:
Alta demanda de shows sem bom planejamento de logística
Pressa de voltar para casa para ficar com a família
Serviços de transporte precários no início de carreira
Estradas em más condições e cansaço dos motoristas
"Tem assalto também para roubar equipamento”, diz um dos
produtores ouvidos, antes de relembrar o caso de Henrique e Juliano. A dupla
teve a carreta roubada em 2015. "O cavalo do caminhão, até hoje ninguém
achou", conta, citando a cabine do veículo.
Logística sertaneja
"Os acidentes são causados porque querem fechar vários
shows e fazer uma logística muito louca. Isso é mais sério no sertanejo, porque
tem uma demanda grande, principalmente em algumas épocas do ano. Quando
Cristiano Araújo morreu, era junho, que é um mês que tem muito sertanejo
fazendo show", explica uma assessora de imprensa do mercado sertanejo.
Para diminuir os riscos diante de uma agenda intensa, existe
um planejamento feito pelos escritórios, que administram as carreiras dos
artistas. Os produtores focam em alguns pontos:
Marcar shows próximos em uma mesma região
"Ir para o nordeste e conseguir fazer todos os shows da
sua semana ali, facilita. É melhor do que você fazer dois shows no nordeste,
depois descer pro sudeste ou pro sul. Isso põe toda a empresa, a equipe e o
artista a situações bem arriscadas", explica Dan.
Trocar de motorista quando viagem é logo após show
"O descanso do motorista é uma das coisas que
influencia", diz o produtor de um dos maiores escritórios sertanejos, que
prefere não ter seu nome citado. "O ritmo para ônibus de banda é mais
intenso que o de turismo normal. A gente já tem no mercado motoristas
acostumados nesse tipo de ritmo." Normalmente, o motorista é contratado
como parte fixa da equipe.
Contar sempre com um plano B
É preciso fazer um contrato de equipamento e mão de obra no
local do show, caso necessário. Também tem que checar, antes de qualquer
imprevisto, qual o aeroporto mais próximo em caso de pista fechada. Esses são
exemplos do que deve ser feito para que a equipe não faça "loucuras"
se algo der errado.
Cadê a verba do planejamento?
Muitos artistas não contam com uma equipe para fazer todo
esse planejamento. No início de carreira, os músicos aceitam todos os shows
oferecidos, independentemente das condições.
LEIA MAIS: Como são os escritórios do sertanejo?
“Tem esse risco [de contratar empresas mais precárias]. Não
checam a condição salarial, a condição do veículo, não troca o pneu que
precisa, usa o meia vida, freio não condicionado", diz um produtor.
Ele teoriza:
"Quem paga não está dentro do ônibus e quer economizar,
desde a mão de obra até a manutenção. As bandas com menor orçamento buscam
economizar de todos os lados. Pode ser que economize em segurança."
"Um artista, quando é muito estourado, quer fazer vários
shows em um mês pra ganhar dinheiro, porque ele está aproveitando o momento. Um
artista que não está estourado está um dia no Pará, no outro dia em Porto
Alegre. Isso é um outro problema", compara outra assessora.
Mas por que tantos shows?
São poucos os artistas que tomam conta de sua própria agenda.
A maioria está “presa” a um escritório, que fica responsável por fechar os
shows. Os dois lados precisam ganhar e com isso a agenda fica mais intensa.
"Uns 70%, 75% dos artistas não manda na carreira. Fica
ali no que o empresário mandar. Só a partir do momento que ele se torna sócio
do projeto, que ele consegue falar de igual pra igual, fazer limitações,
exigências", arrisca outro produtor ouvido pelo G1.
"Tem artista que não aceita a dobra, que são dois shows
na mesma noite. Quando é iniciante, ele é só mais um funcionário. Tem que
cumprir a agenda. Se for somar transporte aéreo, fretado, e todos os custos, a
conta não fecha com o valor do cachê do show."
FONTE: G1
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