Moradora da Vila Kennedy tem estoque, mas teme pela falta de clientes - Reprodução internet
Pesquisa mostra que 84% dos moradores de áreas periféricas
preveem diminuição de renda provocada pelo coronavírus. Quase metade dos 13,6
milhões de brasileiros que residem em favelas dependem do próprio negócio
Rio - Cerca de 97% dos moradores de favela afirmam que
tiveram sua rotina alterada devido à pandemia causada pelo novo coronavírus. Não
à toa, 84% deles projetam uma redução de renda nas próximas semanas. Em um
universo onde quase metade da população vive como autônomo (47%), o baixo
número de clientes e o aumento da despesas em casa são as maiores preocupações
de quem vive nas áreas mais pobres e depende do próprio negócio para
sobreviver. É o que mostra uma pesquisa do Data Favela, feita em 262 regiões
periféricas do país.
É o caso de Suzane Alvarenga, de 30 anos. Moradora da Vila
Kennedy, Zona Oeste do Rio, a moça que há três anos fabrica bolos e salgados em
casa para vender, se preparava para as encomendas de Páscoa e teme uma queda
nos pedidos. “Tenho ingredientes estocados, mas essa insegurança causada pelo
coronavírus gerou uma queda no movimento. Vou tentar captar encomendas de casa
e tentar alternativas de entrega”, conta.
Fundada no Complexo do Alemão, a marca de roupas Complexidade
Urbana, já começa a repensar o modelo de negócio. Com o fechamento obrigatório
da loja física, a esperança está nas promoções e ações na internet. “Reduzimos
alguns preços em 40%. Estou produzindo um vídeo para compartilhar nas redes
sociais e mostrar às pessoas como é importante consumir produtos feitos por
nós. É preciso fortalecer esse movimento dentro das favelas, pois é o único
sustento para muitos”, diz Denis Torres, de 42 anos, proprietário da marca.
Para Celso Athayde, fundador da Central Única das Favelas
(Cufa) e do Data Favela, os dados indicam que a covid-19, doença causada pelo
coronavírus, atinge a população de forma desigual. “Existem aqueles que, ainda
bem, conseguem ficar no conforto do seu lar, com a geladeira cheia, fazendo
home office. No entanto, a pesquisa deixa claro que existe milhões de
brasileiros, autônomos, e com a geladeira vazia. São mais de 13,6 milhões de
pessoas que não tem as mesmas condições de quarentena que os moradores do
asfalto”, diz.
Outros dados chamam atenção
Cerca de 53% dos moradores de favela têm filhos. Desses, 86%
disseram ter filhos que deixaram de ir à escola por conta do coronavírus. Sendo
que, 84% destas famílias relataram aumento considerável nos gastos. Também é
grande o percentual de quem está tentando economizar (80%).
Para o sociólogo Renato Meirelles, um dos responsáveis pelo
estudo, é preciso direcionar ações específicas. "Cesta básica ajuda, mas
é, de novo, um morador da cidade dizendo para o morador da favela o que ele tem
direito. Mais efetivo seria transferir renda diretamente para que eles pudessem
comprar o que precisam", afirma.
SOLUÇÕES PROPOSTAS
O G10, grupo formado por líderes comunitários das maiores
favelas do país e que inclui duas favelas cariocas - Rocinha e Rio das Pedras
-, pretende formular ideias que causem impacto positivo. "Por enquanto,
estamos criando vaquinhas online que possam ajudar essas pessoas. Parcerias com
empreendedores das outras favelas serão fundamentais para a sobrevivência do
comércio local", diz o representante da Rocinha, William de Oliveira.
Na última semana, a Cufa propôs uma lista de medidas para que
o poder público, garanta condições de proteção para os moradores de favela
contra o coronavírus. A ONG destacou que a desigualdade social, o desemprego e
a informalidade estão entre os problemas sociais que precisam ser considerados
no combate à doença.
1 - Distribuição gratuita de água, sabão, álcool 70º em gel e
água sanitária
2 - Organização em mutirões do Sistema S e das Centrais de
abastecimento para a distribuição de alimentos
3 - Aluguel de pousadas ou hotéis para idosos e grupos
vulneráveis
4 - Parceria com agências locadoras de veículos ou com
operadores de transportes de passageiros para locomoção de infectados
5 - Aumento do apoio financeiro para famílias já inseridas no
programa de tarifas sociais
6 - Decreto apoiando economicamente as micro e pequenas
empresas
7 - Apoio às empresas de água, luz e gás que isentar o
consumidor do pagamento durante 60 dias
8 - Incentivo para que a população compre dos pequenos
comerciantes
9 - Liberação de pontos de internet junto às empresas de
fibra óptica
10 - Financiamento para as redes de comunicação próprias de
cada favela
11 - Apoio financeiro para as famílias das crianças que
estarão impedidas de frequentar as creches
12 - Apoio financeiro para famílias com pessoas portadoras de
deficiência
13 - Criar uma rede de comunicação com apoio técnico do
Ministério da Saúde para filtrar e fazer verificações, em tempo real, das
informações compartilhadas em redes sociais
14 - Ampliação das equipes de saúde da família
LAVATÓRIOS NAS FAVELAS
Ontem, o secretário de Ordem Pública, Gutemberg Fonseca,
falou sobre o projeto da prefeitura de instalar lavatórios públicos na entradas
das favelas para que os moradores possam lavar as mãos. "Serão estruturas
com água e sabão, para as pessoas levarem as mãos ao chegarem. Mas, depois, é
importante que lavem também assim que entrarem em casa", disse Fonseca.
A Secretaria municipal de Infraestrutura, Habitação e
Conservação informou que deu início, na última segunda-feira, a vistorias nos
principais complexos de favelas da cidade para a futura instalação de bicas com
água e sabão. A medida, diz a nota, tem o objetivo de garantir uma higienização
correta para os moradores, para afastar o risco de contágio pelo novo
coronavírus.
Segundo a secretaria, a medida será implantada na Maré,
Alemão, Penha, Chapadão, Vila Aliança, Vila Kennedy, Rollas e Vidigal, mas
ainda não há data para o início das instalações.
Navios da Marinha
Ontem, durante uma reunião entre o secretário estadual de
Saúde, Edmar Santos e líderes de pelo menos 40 favelas, o governo anunciou que
pode utilizar navios da Marinha para abrigar moradores dessas áreas, que
estejam dentro dos grupos de risco do coronavírus, como diabéticos e idosos. “É
preciso que o movimento seja organizado e compartilhado com as diferentes
esferas, envolvendo também as prefeituras de cada município e, principalmente,
o governo federal”, explicou o secretário.
Na última segunda-feira, o governador Wilson Witzel já havia
sancionado nove projetos para minimizar os impactos sociais e econômicos da
pandemia no estado. Entre eles, a concessão de bolsas de auxílio para famílias
de alunos da rede pública que estão com as aulas suspensas e a concessão de uma
renda (meio salário mínimo) aos empreendedores da economia popular solidária e
da cultura cujos projetos estejam registrados. Interrupção de serviços
essenciais (água, gás e energia elétrica) por falta de pagamento, também estão
proibidas.
FONTE:O DIA
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