O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta,atualiza dados em
coletiva de imprensa sobre à infecção pelo novo coronavírus no Brasil — Foto:
Marcello Casal/ Agência Brasil
Em entrevista que confirmou 114 mortes e 3.904 casos no país
neste sábado (28), Mandetta reforçou necessidade de isolamento social em
declarações que vão contra as de Jair Bolsonaro.
O ministro da saúde, Henrique Mandetta, mudou neste sábado
(28) o tom novamente de suas declarações sobre isolamento social. Na
terça-feira (24), ele tinha ajustado o seu discurso ao do presidente Jair
Bolsonaro, contrário a um isolamento mais geral e favorável ao isolamento
apenas de idosos e pessoas de 60 anos e mais.
Brasil tem 114 mortes e 3.904 casos confirmados de
coronavírus até este sábado (28)
Neste sábado, Mandetta foi mais enfático na defesa de que as
pessoas que podem devem ficar em casa. Ele justificou sua defesa de que as
pessoas devem permanecer em casa para que o sistema de saúde não se
sobrecarregue, aumentando a letalidade da Covid 19 por falta de leitos e de
UTI.
Ele disse que o fato de as pessoas estarem em casa já fez o
número de internados por acidentes de trânsito diminuir, o que libera espaço
para os que precisam se tratar da Covid:
" Mais uma razão pra gente diminuir bastante a atividade
de circulação de pessoas no intuito de diminuir o trauma, que é um efeito
também secundário, benefico, além do efeito de diminuir a transmissão",
ele disse.
O ministro afirmou: "Mais uma razão pra gente ficar em
casa, parado, até que a gente consiga colocar os equipamentos na mão dos
profissionais que precisam. Porque se a gente sair andando todo mundo de uma
vez vai faltar pro rico, pro pobre, pro dono da empresa, pro dono do botequim,
pro dono de todo mundo".
Critérios técnicos
Mandetta disse que vai se pautar por critérios técnicos e
pela ciência:
"Nós precisamos ter racionalidade e não nos mover por
impulso neste momento. Nós vamos nos mover, como eu disse desde o princípio,
vamos nos mover pela ciência e pela parte técnica, com planejamento. Pensando
em todos os cenários quando a gente fala de colapso, de sobrecarga, ou de
sobreuso no sistema, a gente tá falando disso. Não só de sobrecarga na saúde
mas por exemplo na logística."
Desafio inédito
O ministro da saúde enfatizou que o desafio do novo
coronavírus é inédito no mundo. E que a doença ataca a saúde, a economia e a
sociedade como um todo. E que por esse motivo exige toda a cautela:
"E aí eu volto a repetir: muitas vezes... Hoje está
cheio de professor de epidemiologia, cheio de fazedores de conta, de cálculos.
Preste atenção: essa epidemia é totalmente diferente da H1N1."
"Não há receita de bolo. Quem raciocinar pensando: nesta
aqui foi assim, vai errar feio. Essa não é assim. Essa causou não uma
letalidade pro indivíduo, não é esse o nosso problema. Nem daqueles que falam
assim: ah essa doença vai matar só 5 mil, só 10 mil. Não é essa a conta",
ele disse.
"A conta é: esse vírus ele ataca o sistema de saúde e
ataca o sistema da sociedade como um todo. Ele ataca logística, ele ataca
educação, ele ataca economia, ele ataca uma série de estruturas, no
mundo."
Setores essenciais
O ministro da saúde descartou nesse momento a discussão sobre
quarentena vertical - só de idosos - ou horizontal, que pega todas as idades.
Ele disse que o que não pode haver é uma parada de todos, em
todo o Brasil. Um discurso compatível com o que vem sendo praticado: fica em
casa quem pode para que os trabalhadores de setores essenciais possam
trabalhar, entre eles aquele que abastecem as cidades de alimentos e outros
insumos:
"Não existe quarentena vertical, horizontal. Existe a
necessidade de arbitrar em determinado tempo qual o grau de retenção que uma
sociedadade deve fazer", disse o ministro.
"O lockdown - parada absoluta ou total -, pode vir a ser
necessário, em algum momento, em alguma cidade. O que não existe é um lockdown
ao mesmo tempo, desarticulado. Isso é um desastre que vai causar muito problema
pra nós da saúde", ele afirmou.
Articulação
O ministro disse que, enquanto um acordo nacional não sai, os
governadores devem seguir os parâmetros que adotaram até aqui:
"Agora não é hora de sobrecarregar o sistema de saúde
seja em nome do que for. Agora é hora de aguardar, vamos ver como essa semana
vai se comportar, e nós vamos ter nessa semana a discussão dentro da Saúde para
achar os parâmetros, aqueles que tomaram medidas de acordo com a sua localidade
sem o parâmetro, usou o parâmetro próprio, utiliza o seu parâmetro que nós
vamos construir um consenso para nós podermos andar."
A entrevista foi precedida por uma reunião na manhã de hoje
entre o presidente Jair Bolsonaro e outros ministros. Isso gerou novamente
boatos de que o ministro seria demitido por discordar do presidente na questão
do isolamento na atual fase da pandemia. Mandetta comentou os rumores:
"Eu sei que hoje, essa semana, todo mundo ficou 'mas e o
ministro? ele sai? ministro não sai?'. Eu volto a repetir: vou ficar aqui junto
com vocês, enquanto o presidente permitir, enquanto eu tiver saúde e não puder
sair. E digo mais, aqui no fundo do Ministério da Saúde tem um lugarzinho pra
uma creche, tem um quarto, se toda a equipe aqui estiver com gripe e tiver tudo
bem, inclusive eu, nós vamos ficar no quartinho ali, pra gente ficar perto pra
pelo menos a gente ficar conversando"
"Ou na hora que não for mais necessário nós estarmos
aqui, na hora que falarmos 'olha, cumprimos o nosso dever', e tá encerrada a
nossa participação no Ministério da Saúde. E vamos trabalhar com essa equipe e
vamos terminar com essa equipe."
O ministro criticou aqueles que querem convocar protestos
pelo fim do isolamento:
"Fazer movimento assimétrico, de efeito manada, agora
nós vamos daqui duas semanas, três semanas, os mesmos que falam 'vamos fazer
uma carreata de apoio' os mesmos que fizerem vão ser os mesmos que vão estar em
casa. Não é hora agora. "
Jovens em casa e comércio
Mandetta explicou por que o comércio não pode reabrir e
também por que os jovens têm de ficar em casa, apesar de terem apenas sintomas
leves em sua maioria:
"Por que se suspendem aulas? Se todas as crianças e
jovens, como vocês viram, se têm a doença e são assintomáticos e são sintomas
leves, por que a gente os tira da aula? Muitas vezes é o que fala: 'Deixa as
crianças e adolescentes'. É porque eles são assintomáticos e não sabem, só
transmitem. Como voltam para casa e casa tem comodo, temos déficit habitacional
enorme, pode contaminar cinco, seis pessoas. Quando a gente diminui a
mobilidade, cada um positivo contamina dois. Quando deixa todo mundo andando,
cada um contamina seis, e isso faz progressão geométrica, faz essa curva super
rápida."
"Se eu deixar a movimentação social contínua eu não
estou preparado para hora da periferia sobrecarregar em bloco o sistema de
saúde. Todo comércio diz: eu quero abrir, eu quero abrir. Calma porque vamos
ter que fazer isso. Uma regrinha para saberem. Vou abrir assim: faço teste com
funcionário, menos mesa, não pode ter fila de espera, buffet, fila um atras do
outro. Algumas coisas que vamos colocar para serem pontos de referência. Para
não falar que está tratando assim ou assado."
E, pouco antes do fim da entrevistas, o ministro elogiou a
preocupação do presidente Bolsonaro:
"Espero que tenhamos tranquilizado todos vocês, Vamos
trabalhar, essa semana a gente encerra, começa amanhã domingo com trabalho no
Ministério da Saúde e vamos ver se conseguimos fazer um plano mínimo que
compatibilize saúde e economia. Esse é nosso trabalho de fim de semana junto
com a equipe econômica. Como ir, como voltar, o que funciona, o que é
essencial, o que pode rodar a economia. O presidente está certíssimo quando
fala que a crise econômica vai matar as pessoas. As pessoas não aguentarão a
fome. Está certíssimo. E estamos 100% engajados em achar a solução junto com a
equipe da economia, mostrar a fórmula para o Ministério da Economia. Vamos
aumentar, vamos melhorar. Precisa de um grande pacto para que possamos sair do
outro lado", disse Mandetta.
FONTE:G1
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