EM ABRIL, CONSUMIDORES COMPRARAM
APENAS O ESSENCIAL, MOSTRA PESQUISA
Prévia de pesquisa mostra que apenas 15,4% dos entrevistados
afirmaram ainda não terem sido afetados pela crise provocada pelo coronavírus
Quase 80% dos consumidores estão comprando apenas produtos
essenciais em meio à quarentena para conter o avanço da covid-19, mostram
recortes específicos das pesquisas de confiança na Fundação Getulio Vargas
(FGV). Conforme dados prévios de abril, aos quais o Estadão/Broadcast teve
acesso com exclusividade, o setor empresarial que está mais pessimista com a
crise econômica é a construção civil.
Em março, as pesquisas da FGV já haviam registrado fortes
quedas na confiança, de consumidores e de empresários, por causa da pandemia.
Por isso, para as sondagens de abril, que serão divulgadas na próxima semana,
foram elaboradas questões específicas sobre a nova crise econômica. Com 85% das
entrevistas já feitas, a FGV fez uma prévia dos resultados.
Entre os consumidores, 79,1% disseram que estão comprando
apenas o essencial. Na média geral, apenas 15,4% do total de entrevistados responderam
que, “por enquanto, não foram afetados”.
O pesquisador Rodolpho Tobler, do Instituto Brasileiro de
Economia (Ibre) da FGV, afirmou que a quantidade de respostas dando conta de
que os orçamentos familiares não foram afetados poderá diminuir. A pergunta
específica questionou sobre a situação financeira das famílias. Aquelas cuja renda
vem do emprego com carteira assinada ou de aposentadorias tendem a não ser
afetadas num primeiro momento.
“É um retrato de abril, mas as coisas podem mudar muito
rápido”, afirmou Tobler, lembrando que as famílias ainda poderão ser atingidas
pelo desemprego ou por quedas na renda por conta da redução de salários,
permitida como uma medida emergencial do governo federal para preservar postos
de trabalho.
Tanto que apenas 10,6% dos mais pobres disseram que ainda não
foram afetados pela crise econômica. Nessas famílias, muitas vezes dependentes
da renda de trabalhos informais, o impacto da crise chega logo, lembrou Tobler.
Entre as famílias mais ricas, 20,6% disseram que não foram afetados.
Tobler chamou atenção para o fato de que 67,8% dos
consumidores disseram acreditar que a economia brasileira voltará ao normal
apenas depois de seis meses. Isso sinaliza para uma lenta recuperação da
economia. “Mesmo com a abertura do comércio, com a volta da vida normal, a
recuperação da atividade não vai acontecer de uma hora para outra”, disse o
pesquisador da FGV.
Pessimismo empresarial
Nas pesquisas sobre a confiança empresarial, chamou a atenção
o pessimismo da construção civil. Entre os entrevistados do setor, 94,3%
responderam que a crise terá impacto “negativo ou muito negativo” nas suas
empresas, superando o setor de serviços, com 91,7% – nos segmentos de
alojamento, serviços de transporte rodoviário e obras de acabamento, mais de
75% das empresas consideram que foram afetadas muito negativamente.
Segundo Tobler, o setor da construção vinha num ciclo
sustentado de recuperação da confiança, desde o ano passado. O indicador de
confiança do setor não foi tão abalado pela covid-19 em março, mas, em abril,
com a impossibilidade de continuar as obras para manter os trabalhadores em
casa, o pessimismo se instalou com força.
Na indústria, as atividades com maior proporção de empresas
reportando impacto muito negativo em seus negócios foram vestuário (87,8%),
couros e calçados (81,8%) e veículos automotores (79,7%). No comércio, o
segmento mais afetado, assim como na indústria, são veículos, motos, peças,
tecidos, vestuário, calçados, móveis e eletrodomésticos, com mais de 90%
afirmando que estão sendo afetadas negativamente.
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