O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC-RJ), negou
hoje que esteja envolvido em um esquema de corrupção nos órgãos de saúde do
estado supostamente chefiado desde 2012 pelo empresário Mário Peixoto, preso
preventivamente ontem
"Vou me apresentar espontaneamente [para depor]. Não vão
encontrar nenhum tipo de favorecimento a mim. Minha vida sempre foi modesta,
fui juiz por 17 anos e nunca fui acusado de vender sentença. Não vão
transformar minha vida em um inferno agora", disse o governador em
entrevista à CNN Brasil.
Witzel também criticou o juiz Marcelo Bretas pela condução do
processo, que considerou lenta. Segundo o governador, a ação se arrasta na
Justiça Federal há alguns anos e, se a prisão de Peixoto tivesse acontecido
antes, "não teríamos problema de corrupção em nenhum governo."
"Essa empresa vem do governo [Sergio] Cabral, do governo
[Luiz Fernando] Pezão, e o inquérito que investiga esses fatos estava
adormecido na Justiça Federal", apontou Witzel. "É o que eu falo:
enquanto a Justiça for lenta na apuração desses crimes, esses crimes vão
continuar acontecendo."
Witzel: Acusações de Bretas são 'ilações'
O governador ainda chamou de "ilações" as acusações
feitas por Bretas, lembrando que o juiz está sendo investigado pelo Tribunal
Regional Federal da 2ª Região (TRF2) por suposta atividade político-partidária
ligada ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
Em 15 de fevereiro, Bretas compareceu à inauguração de uma
alça de acesso à Ponte Rio-Niterói e até posou ao lado de Bolsonaro e outros
políticos. Por conta disso, o juiz virou alvo de um processo administrativo
disciplinar, aberto a pedido do corregedor nacional do CNJ (Conselho Nacional
de Justiça), ministro Humberto Martins. A ação corre em sigilo.
"[Bretas] Apagou todas as fotos que tinha comigo na
internet. É preciso avaliar a decisão [dele], essa ilação. Até onde eu li, é
extremamente frágil. Eu acho, assim como vários governadores, que a Polícia
Federal está fazendo várias ilações. Estão tentando colocar todos os
governadores em investigação", rebateu.
Questionada pela CNN Brasil, a assessoria de Bretas disse que
o juiz não ficou surpreso com as "atitudes proferidas ao seu nome".
Ele optou por não rebater as acusações de Witzel.
Entenda o caso
A tese de que Mário Peixoto —principal alvo da Operação
Favorito, deflagrada pela força-tarefa da Lava Jato no Rio— manteve seu esquema
de corrupção durante o governo Witzel foi apontada ontem pelo MPF (Ministério
Público Federal).
Segundo a Lava Jato, interceptações de ligações telefônicas e
mensagens feitas com autorização judicial mostram que Peixoto continuou sendo
beneficiado com contratos direcionados na atual gestão. A relação entre Witzel
e o empresário é questionada desde a campanha eleitoral.
Braço direito do governador, o secretário Lucas Tristão
(Desenvolvimento Econômico e Geração de Emprego e Renda), seria o elo entre o
governador e o empresário, de quem foi advogado.
Segundo os procuradores, diálogos de pessoas ligadas a
Peixoto mostram que ele seguiu sendo beneficiado com contratações direcionadas
no governo em órgãos como Detran-RJ e Faetec (Fundação de Apoio à Escola
Técnica), que mantém escolas profissionalizantes e cursos de graduação no Rio.
As investigações ainda apontam que o empresário tinha a
intenção de se beneficiar dos contratos emergenciais na área de saúde para o
combate da pandemia de covid-19, doença causada pelo novo coronavírus.
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