Ele citou motivos pessoais e profissionais para deixar o
cargo e afirmou que há falhas na estrutura que podem permitir fraudes
O ex-secretário de Saúde do Estado do Rio de Janeiro,
Fernando Ferry, prestou depoimento na manhã desta quinta-feira (25) na comissão
da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro que fiscaliza gastos durante a
pandemia do coronavírus. Ele justificou a saída dizendo que viu muitas
irregularidades e percebeu que teria muito trabalho para cumprir os pagamentos,
inclusive os salários atrasados.
Ferry afirmou que assumiu o cargo com a informação de ter R$
330 milhões no caixa da pasta, sendo que R$ 168 milhões já estariam
comprometidos com o pagamento de contratos.
Ele citou práticas adotadas pela gestão anterior como, por
exemplo, a mesma área da Superintendência de Orçamento e Finanças ser
responsável por fazer e pagar os contratos. Segundo o ex-secretário a prática
abriria brechas para fraudes e corrupção.
No dia 17 de junho, o superintendente de Orçamento e Finanças
da Secretaria Estadual de Saúde, Carlos Frederico Verçosa Duboc, foi preso em
uma operação contra irregularidades na compra de respiradores.
O secretário era esperado para prestar depoimento na quarta
(24), mas não compareceu. A comissão foi criada após a decretação do estado de
calamidade pública no RJ. Ela não tem poder de uma CPI, de intimar e obrigar o
comparecimento.
Motivos pessoais
O ex-secretário citou motivos pessoais para deixar o cargo.
Disse que tinha se separado e estava tentando retomar o casamento.
Ele insistiu em uma preocupação de se proteger de possíveis
acusações.
“Eu fiquei com muito medo do meu CPF. De ter que passar o
resto da minha vida tendo que me explicar para tentar consertar coisas que eu
não dei causa. Mais uma vez eu digo: ali tem solução, o dinheiro não falta,
podemos construir uma das melhores redes de saúde pública do país, mas é
preciso que haja um grande impacto para que haja uma proteção do secretário”,
destacou Ferry.
Mudança
O ex-secretário afirmou que não sofreu nenhuma intervenção
política durante os 24 dias úteis que permaneceu no cargo. Ao ser questionado,
ele afirmou por qual motivo mudou de opinião em relação aos hospitais de
campanha.
“Quando me deparei com estes hospitais de campanha e fui
fazer um levantamento da situação deles eu fiquei preocupado. Por exemplo,
Casimiro de Abreu, naquela época, estava 40% construído. Ele foi construído no
quintal de um hospital. Então eu falei: 'por que não vamos concluir e vamos
fazer aqui?'”, disse Ferry.
Com inauguração das sete unidades previstas para o dia 30 de
abril, apenas os hospitais do Maracanã e de São Gonçalo estão abertos.
“Aí eu anunciei aquilo na mídia e o governador me chamou e
falou que seria importante pois há um vazio sanitário ali, de hospitais, de
CTI, este já estava em construção e fazer o outro hospital ia demorar mais.
Então vamos tentar concluir todos os hospitais”, afirmou na comissão.
Ferry afirmou no fim de maio que eles poderiam não ser
abertos. Segundo ele, o cenário era diferente.
“Quando eu assumi, eram de 500 a 600 pessoas esperando vaga
de CTI da Covid-19. E eu fiquei com muito medo em relação ao interior. Então
ele me convenceu de que a gente deveria fazer aquilo. Estávamos no começo e
ainda não havia um estudo importante, técnico, para falar sobre a viabilidade
destes hospitais. E depois eu fui sabendo uma série de outras coisas. Com esta
avaliação global, a gente vê que as decisões tomadas lá atrás, infelizmente que
não foram tomadas por mim, não foram decisões que, ao longo do tempo, se
mostraram acertadas”, explicou o ex-secretário.
Um estudo feito por uma equipe técnica da Secretaria Estadual
de Saúde do RJ recomendou que os cinco hospitais de campanha que ainda não
foram inaugurados no estado não sejam abertos.
Fonte: G1
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