SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O policial militar aposentado
Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro e amigo do presidente
Jair Bolsonaro, foi preso na manhã desta quinta-feira (18) em Atibaia, no
interior de São Paulo.
O mandado de prisão foi expedido pela Justiça do Rio de
Janeiro. Queiroz estava em um imóvel do advogado Frederick Wassef, responsável
pelas defesas de Flávio e do presidente Bolsonaro. Wassef é figura constante no
Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência, e em eventos no Palácio
do Planalto.
A Operação Anjo é coordenada pelo Ministério Público do Rio
de Janeiro. O ex-assessor de Flávio será transferido para o Rio de Janeiro
ainda na manhã desta quinta-feira. Ainda não houve denúncia, e a suspeita é de
interferência de Queiroz nas investigações, por isso a prisão preventiva.
A mulher de Queiroz, Márcia Aguiar, que foi assessora do hoje
senador, também teve a prisão decretada ela não foi encontrada em seu endereço e é considerada foragida.
Queiroz é investigado por participação em suposto esquema de
"rachadinha" na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, no gabinete
do então deputado estadual Flávio Bolsonaro. "Rachadinha" é quando
funcionários são coagidos a devolver parte de seus salários. O filho de Bolsonaro
foi deputado estadual de fevereiro de 2003 a janeiro de 2019.
A operação que prendeu Queiroz em SP foi comandada pelo
delegado Nico Gonçalves, chefe do Dope (Departamento de Operações Policiais
Estratégicas) da Polícia Civil. Segundo ele disse à GloboNews, Queiroz estaria
na casa do advogado há cerca de um ano.
O Dope foi criado pelo governador João Doria (PSDB-SP) em
agosto do ano passado para coordenar ações em casos sensíveis, como extorsão
mediante sequestro, agrupando policiais de diversas delegacias especializadas.
Ela é vista dentro da polícia como a menina dos olhos do governador na área
investigativa no estado.
Policiais civis e promotores também fazem busca e apreensão
em outros endereços de investigações no Rio de Janeiro. Um deles é uma casa em
Bento Ribeiro de propriedade do presidente da República.
Contra outros suspeitos de participação no esquema da
"rachadinha", o MP-RJ obteve na Justiça a decretação de medidas
cautelares que incluem busca e apreensão, afastamento da função pública, o
comparecimento mensal em juízo e a proibição de contato com testemunhas.
São eles o servidor da Assmbleia Matheus Azeredo Coutinho, os
ex-funcionários Luiza Paes Souza e Alessandra Esteve Marins e o advogado Luis
Gustavo Botto Maia. Alessandra é atualmente assessora de Flávio no Senado.
Flávio é investigado desde janeiro de 2018 sob a suspeita de
recolher parte do salário de seus subordinados na Assembleia do Rio de 2007 a
2018. Os crimes em apuração são peculato, lavagem de dinheiro, ocultação de
patrimônio e organização criminosa.
A apuração relacionada ao senador começou após relatório do
antigo Coaf, hoje ligado ao Banco Central, indicar movimentação financeira
atípica de Fabrício Queiroz, seu ex-assessor e amigo do presidente Jair
Bolsonaro.
Além do volume movimentado, de R$ 1,2 milhão em um ano,
chamou a atenção a forma com que as operações se davam: depósitos e saques em
dinheiro vivo em datas próximas do pagamento de servidores da Assembleia.
Queiroz afirmou que recebia parte dos valores dos salários
dos colegas de gabinete. Ele diz que usava esse dinheiro para remunerar
assessores informais de Flávio, sem conhecimento do então deputado estadual. A
sua defesa, contudo, nunca apontou os beneficiários finais dos valores.
Em abril do ano passado, a Justiça autorizou as quebras de sigilo
bancário de Flávio, sua mulher, Queiroz e outras 101 pessoas físicas e
jurídicas. Os alvos eram ex-funcionários e pessoas que compraram ou venderam
imóveis para o senador nos últimos anos.
Em dezembro, o magistrado autorizou o cumprimento de mandados
de busca e apreensão em 24 locais, incluindo a franquia da Kopenhagen em que o
senador é um dos sócios.
A Promotoria suspeita que a empresa era usada para lavar
dinheiro obtido na rachadinha. Outro meio de lavagem, avaliam
promotores, é a compra de venda de imóveis. De
acordo com o MP-RJ, Flávio lavou R$ 2,3 milhões cuja origem é a
"rachadinha" operada por Queiroz.
O senador nega desde o fim de 2018 que tenha praticado
"rachadinha" em seu gabinete. Afirma que não é responsável pela
movimentação financeira de seu ex-assessor.
QUESTÕES AINDA SEM RESPOSTA NO CASO QUEIROZ
Quem eram os assessores informais que Queiroz afirma ter
remunerado com o salário de outros funcionários do gabinete de Flávio?
Por que o único assessor que prestou depoimento ao Ministério
Público do Rio de Janeiro não confirmou a versão de Queiroz?
Como Flávio desconhecia as atividades de um dos seus
principais assessores por dez anos?
Por qual motivo Jair Bolsonaro emprestou dinheiro a alguém
que costumava movimentar centenas de milhares de reais?
De que forma foi feito esse empréstimo pelo presidente e onde
está o comprovante da transação?
Onde estão os comprovantes da venda e compra de carros
alegadas por Queiroz?
Por que há divergência entre as datas do sinal descrita na
escritura de permuta de imóveis com o atleta Fábio Guerra e as de depósito em
espécie fracionado na conta de Flávio?
INCONSISTÊNCIAS NO PEDIDO DO MP-RJ
Pessoas não nomeadas por Flávio Bolsonaro - Há três casos de
pessoas sem vínculo político com Flávio que foram alvo de quebra de sigilo.
Elas estavam nomeadas no gabinete da liderança do PSL na Assembleia Legislativa
do Rio de Janeiro quando o senador assumiu o cargo e, em seguida, as demitiu.
Remuneração de Queiroz - Ao comparar gastos com vencimentos
de Fabrício Queiroz, o Ministério Público considera apenas salário da
Assembleia e ignora remuneração que ele recebe da Polícia Militar.
Saques - Há erro na indicação do volume de saques feitos por Queiroz
em dois dos três períodos apontados.
Laranja potencial - Promotoria atribui ao gabinete de Flávio
servidora da TV Alerj que acumulava cargo com outro emprego externo.
Patrimônio - Ao falar sobre um negócio que envolve 12 salas
comerciais, os promotores do Ministério Público do Rio escreveram que Flávio
adquiriu os imóveis por mais de R$ 2,6 milhões, quando, na verdade, ele deteve
apenas os direitos sobre os imóveis, que ainda não estavam quitados e
continuaram sendo pagos em prestações por outra empresa que assumiu a dívida.
FONTE:FOLHAPRESS
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