O empresário Benedito José Possan, 62, não acreditava na
covid-19. Para ele, a doença que já matou mais de 380 mil pessoas todo o mundo,
segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), não passava de um "jogo
político". "Eu não ligava mais a TV, porque não aceitava o que
estavam falando. Não acreditava no número de mortes, que estavam morrendo não
sei quantas pessoas na Espanha, na Itália... Não acreditava em nada disso.
Achava que se tratava de um jogo político.”
Sendo assim, Pinduka, como é conhecido em Indaiatuba, no
interior de São Paulo, onde mora, continuava trabalhando, mesmo durante a
quarentena estabelecida no Estado, em seu restaurante, em esquema delivery.
“Não via necessidade na medida de quarentena, pois achava que se tratava de uma
gripe comum.”
Apesar disso, ele afirma que havia adotado medidas de
prevenção obrigatórias em seu estabelecimento. “Usava máscara e exigia que
todos os meus funcionários também usassem", diz.
Nas últimas semanas, no entanto, o empresário foi
surpreendido com a notícia de que havia contraído a covid-19. Ele é uma das 253
mil pessoas recuperadas da doença, segundo dados do Ministério da Saúde
divulgados na terça-feira (2).
Benedito afirma não saber ao certo quando e como se infectou,
mas seu drama começou no dia 11 de maio, uma segunda-feira. Como seu
restaurante não abre nesse dia da semana, ele decidiu andar de charrete em sua
fazenda. Chegando em casa, percebeu que não se sentia bem. “A partir daí, eu
comecei a não sentir mais paladar, a não ter vontade de me levantar. Só queria
dormir”. Em um primeiro momento, achou que estivesse com dengue.
Três dias depois, Benedito foi ao médico. Na ocasião, fez uma
radiografia do pulmão que detectou uma mancha. O especialista, então, solicitou
um exame para covid-19.
Naquela noite, ele começou a apresentar outros sintomas. “Meu
filho disse que eu dormia sufocando, puxando o ar, e que ronquei muito. Ele já
não dormiu aquela noite, ficou de plantão do lado da minha cama.”
Na manhã do dia seguinte, Benedito realizou o teste para a
doença em um laboratório particular da cidade, que confirmou o diagnóstico.
Em seguida, foi para o Hospital Augusto de Oliveira Camargo,
onde realizou uma tomografia. Horas depois, os médicos entraram em contato com
um de seus filhos, solicitando que o pai fosse internado com urgência.
Benedito chegou ao hospital por volta do meio-dia e, seis
horas depois, estava internado. A partir daí, seu quadro piorou de forma
súbita. “Por volta das 22 horas, senti muita falta de ar e entrei em pânico.
Comecei a gritar e tocar a campainha desesperadamente. Tive medo de morrer.”
Ele foi socorrido e transferido imediatamente para a UTI, mas
continuou sofrendo com falta de ar. “Colocaram dois aparelhos de oxigênio, um
na boca e outro no nariz. Mesmo assim, eu não conseguia respirar direito.” Ele
estava lúcido e ouviu uma conversa entre os médicos. “Eles falavam que a minha
saturação de oxigênio não subia.”
Foram seis dias de internação. Quando recebeu alta, se
emocionou. “Chorei muito. Não via a hora de usar meu banheiro, minha cama,
comer comida caseira. A primeira coisa que fiz quando cheguei em casa foi
comer. Comi arroz, feijão, ovo frito, torresmo e salada de tomate, tudo que eu
adoro.”
Benedito pensava que seu pesadelo havia chegado ao fim, mas
foi surpreendido pela notícia de que a mulher, dois filhos e um neto também
haviam contraído a covid-19. “Entrei em desespero. Fui para o banheiro e
comecei a chorar. Perguntava: ‘por
quê?’”. Mas todos apresentaram um único
sintoma, perda de paladar, e se recuperaram em casa.
Em 23 de maio, ele enviou um áudio a um grupo de WhatsApp
alertando sobre a gravidade da doença. Em um trecho, ele diz: “Eu era uma das
pessoas que achavam que o vírus não existia, que era palhaçada. Mas ele existe,
sim, e mata. Essa doença é séria, vamos tomar cuidado. Enquanto não existir uma
vacina, não vai ser fácil, ela vai matar muita gente.” Segundo ele, o áudio
viralizou na cidade.
Fonte R7
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