Quase a totalidade dos estudantes matriculados no ensino
superior privado querem continuar os estudos, no entanto, cerca da metade, 42%,
afirma que há um risco de ter que desistir. O principal motivo para o possível
abandono é não conseguir pagar as mensalidades, seja porque o emprego foi
afetado pela pandemia do novo coronavírus, seja porque os pais ou responsáveis
não conseguirão arcar com os custos.
As estimativas foram divulgadas nesta quarta-feira (10) na
terceira etapa da pesquisa Coronavírus e Educação Superior: o que pensam os
alunos e prospects da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior
(Abmes), feita em parceria com a empresa de pesquisas educacionais Educa
Insights. Ao todo, foram entrevistados 644 estudantes e 963 potenciais alunos
entre os dias 28 e 31 de maio.
Dentre os estudantes matriculados, 52% disseram querer
continuar estudando não importa o cenário. Essa porcentagem caiu em relação a
primeira etapa da pesquisa, realizada em março, quando era 57%. Outros 42%
dizem querer continuar estudando, mas reconhecem que há risco de desistirem.
Esse percentual era 37% em março. Outros 4% disseram que provavelmente irão
desistir do curso e 2% que irão desistir por conta do cenário atual.
De acordo com a pesquisa, o emprego ser afetado pela pandemia
pesa como fator de decisão para deixar os estudos para 60% dos entrevistados.
Já a dificuldade dos responsáveis arcarem com os custos pesa para 22%. Apenas
8% dizem que pretendem desistir porque a faculdade não migrou as aulas para o
ensino a distância.
“Esse desafio tem que ser endereçado pelas instituições”, diz
o diretor presidente da Abmes, Celso Niskier. “A gente tem recomendado [para as
instituições de ensino] que sejam identificados os grupos que têm maior risco
por perda de renda e emprego e que sejam oferecidas alternativas, que seja
analisado caso a caso”. A entidade diz que além dos descontos, têm buscado
alternativas de financiamento tanto para os estudantes quanto para as
instituições de ensino, para que possam arcar com as despesas do período.
No levantamento, 22% dos entrevistados informaram ter perdido
o emprego em função da pandemia. No levantamento anterior, feito em abril, esse
percentual era de 20%.
As novas matrículas também preocupam. O estudo mostra que
caiu de 22% para 14%, entre março e maio, a porcentagem dos potenciais alunos
que planejam começar o curso no segundo semestre deste ano. Cerca de um terço,
36%, pretende adiar o ingresso no ensino superior para o começo de 2021; 7%
para o segundo semestre de 2021; e, 43% decidirão quando a situação se
normalizar.
Ensino a distância
O ensino presencial é o mais impactado neste contexto. A
pesquisa mostra que para não interromper as aulas, as faculdade migraram as
disciplinas para modalidades remotas. Entre os estudantes de cursos presenciais,
82% disseram que estão tendo aulas a distância. De acordo com o estudo, embora
67% avaliem como positiva a experiência com ensino a distância, 73% manteriam a
decisão pelas aulas presenciais. Apenas 3% disseram que migrariam
definitivamente para a modalidade a distância.
Na hora de começar a estudar, apenas 7% dos futuros alunos
entrevistados disseram que pretendem iniciar um curso na modalidade presencial
ainda neste ano. Já na modalidade a distância, esse percentual chega a 30%.
Entre os estudantes já matriculados, 45% pretendem seguir os estudos
independente do cenário no ensino presencial. No ensino a distância, são 60%.
Para Niskier, a pandemia acelerou um processo que já vinha
ocorrendo na educação superior, que é um aumento do ingresso de novos
estudantes na modalidade a distância. De acordo com a Abmes, o Brasil terá mais
alunos do ensino superior estudando na modalidade a distância do que na
presencial em 2022. Antes, a projeção da entidade é que isso ocorreria em 2023.
A pandemia pode ser vista, segundo o diretor presidente como oportunidade para
que as instituições aprimorem essa modalidade que tem mensalidades mais
acessíveis e é mais flexível que a presencial, podendo chegar a locais remotos
do país. Pode-se inclusive, segundo ele, desenvolver melhor um modelo híbrido.
Segundo dados do Censo da Educação Superior de 2018,
divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira (Inep), o setor privado é responsável por 70,2% de todas as matrículas
realizadas em cursos presenciais no país e 91,6% das matrículas nos cursos de
educação a distância.
Fonte: Agência Brasil
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