Ele é investigado por suspeitas de irregularidades nos
contratos assinados durante a pandemia de Covid no estado. Santos e outras sete
pessoas são acusados pelo Ministério Público de improbidade administrativa.
O ex-secretário de Saúde Edmar Santos foi preso manhã desta
sexta-feira (10) em seu endereço residencial, em Botafogo, na Zona Sul do Rio.
Investigado por suspeitas de irregularidades nos contratos de Saúde do RJ
durante a pandemia de Covid-19, ele vai responder por peculato - corrupção
cometida por funcionário público - e organização criminosa.
Edmar Santos, que é policial militar da ativa, foi exonerado
da Secretaria de Saúde do RJ no dia 17 de maio.
O G1 ligou para a defesa do ex-secretário, mas o advogado
Bernardo Braga não atendeu a chamada.
Há suspeitas de fraudes, inclusive já apontadas pelo Tribunal
de Contas do Estado, em alguns contratos firmados sem licitação, entre eles, o
de compra de respiradores, oxímetros e medicamentos e o de contratação de
leitos privados. O governo do RJ gastou R$ 1 bilhão para fechar contratos
emergenciais.
A prisão de Santos aconteceu durante uma operação do
Ministério Público estadual, por meio do Grupo de Atuação Especializada no
Combate à Corrupção (GAECC). A informação inicial era que ele havia sido detido
em Itaipava, na Região Serrana, onde tem uma casa. Mas por volta das 7h50, o MP
confirmou que ele foi encontrado em seu apartamento em Botafogo.
Santos e outras sete pessoas são acusados pelo Ministério
Público de improbidade administrativa.
A prisão de Santos é um novo desdobramento da Operação
Mercadores do Caos, que também cumpre mandados de busca e apreensão na outra
casa dele em Itaipava. Todos os mandados foram expedidos pelo juiz Bruno
Rulière, da 1ª Vara Criminal Especializada da Capital.
A Justiça também autorizou o acesso e extração do conteúdo
armazenado nos materiais apreendidos, como telefones celulares, computadores e
pen drives, inclusive de registros de diálogos telefônicos ou telemáticos, como
mensagens SMS ou de aplicativos como WhatsApp.
Além disso, foi deferido pela Justiça o arresto de bens e
valores de Edmar até o valor R$ 36.922.920,00, que, segundo o MP é equivalente
aos recursos públicos desviados em três contratos fraudados para aquisição dos
equipamentos médicos.
"Edmar Santos atuou, com vontade livre e de forma
consciente, em comunhão de ações e desígnios, com os demandados na anterior
denúncia oferecida na fase I da Operação Mercadores do Caos, desviando um
milionário volume de recursos públicos destinados à compra de respiradores/ventiladores
pulmonares, até hoje não entregues para o atendimento à população, ainda em
meio à grave pandemia do novo coronavírus no estado. Edmar vai responder pelos
crimes de organização criminosa e peculato", diz o MP.
Na denúncia apresentada à Justiça, o MPRJ diz ainda que Edmar
Santos seguia exercendo influência política mesmo após a descoberta do esquema
de desvio de recursos. Os promotores argumentam que a tentativa de sua nomeação
para o cargo de secretário extraordinário, após a sua exoneração da pasta, lhe
daria uma “pseudo-blindagem”.
Segundo o MPRJ, o fundamento para o pedido de prisão
preventiva de Santos se baseou no fato de que, em liberdade, ele ainda poderia
"adotar condutas para dificultar mais o rastreamento das verbas públicas
desviadas, bem como destruir provas e até mesmo ameaçar testemunhas."
Quebra de sigilo bancário
Na semana passada, a Justiça determinou a quebra do sigilo
bancário e o bloqueio dos bens de Edmar Santos.
Também na semana passada, ele se recusou a responder as perguntas
feitas pelas Comissões de Fiscalização dos Gastos do Estado, Alerj, contra a
Covid-19 e de Saúde durante uma sessão virtual virtual.
"Ainda não tive acesso integral aos elementos de prova
do inquérito 1338 do Distrito Federal do Superior Tribunal de Justiça, cujos
fatos ali investigados dizem respeito direta ou indiretamente aos motivos me
trouxeram aqui para prestar declarações para seus interesses de esclarecimento.
Dessa forma, fui expressamente orientado por meus advogados e, por ora, exerço
meu direito de silêncio às perguntas que eventualmente sejam
direcionadas", disse o ex-secretário, logo no início a sessão.
Edmar Santos foi exonerado no dia 17 de maio. A decisão do
governador Wilson Witzel foi motivada por conta dos atrasos e problemas nas entregas
dos hospitais de campanha, incluindo o desgaste provocado por denúncias de
fraudes na licitação para a compra de respiradores.
Pagamento antecipado de R$ 36 milhões
O governo pagou R$ 36 milhões antecipadamente para três
empresas, mas nenhum respirador chegou até os hospitais.
A investigação do Ministério Público revelou que o
ex-secretário de Saúde foi quem definiu a quantidade de respiradores que seriam
comprados. E que Edmar Santos deixou nas mãos de Gabriell Neves, então
subsecretário executivo de saúde, os processos de contratações emergenciais.
Mil respiradores foram comprados no fim de março e início de
abril, um número exagerado, segundo o MP.
Os promotores afirmam que o governo do Rio comprou que 411
equipamentos além do necessário.
"O resultado encontrado pela apuração minuciosa feita
pelo TCE-RJ foi de um superdimensionamento de 70%, equivalente à contratação de
411 equipamentos a mais do que seria necessário".
Desvio de dinheiro público e prisões
O ex-subsecretário Gabriell Neves e os donos das empresas
contratadas, sem licitação, foram presos acusados de fraude. Gabriell está
preso desde o dia 7 de maio.
Eles viraram réus por peculato, ou seja, desvio de dinheiro
público, e organização criminosa.
Três dias antes da prisão do subsecretário, o então
secretário Edmar Santos gravou um vídeo negando irregularidades nos contratos
que estavam sendo investigados.
“Fui eu, secretário de Saúde que pediu que os órgão de
controle estivessem próximos, para que a gente possa corrigir qualquer erro
administrativo, e é normal que num momento de emergência, com vários contratos
sendo assinados, que possa ocorrer algum ato administrativo, mas nunca nenhum
ato de inidoneidade. E os atos administrativos cabem à própria administração
corrigi-los. E é o que vamos fazer com cada um que encontrarmos", disse
Edmar Santos na época.
Por Márcia Brasil, Pedro Figueiredo e Octavio Guedes, Bom Dia
Rio – G1
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