Por João Prata
Para Maradona, o melhor jogador com quem atuou foi Careca. A
revelação foi feita em entrevista para a Fifa em 2017. O argentino e o
brasileiro formaram no Napoli uma das grandes duplas de ataque do futebol
mundial entre o final da década de 80 e início dos anos 90.
A ótima relação dentro de campo rendeu ao clube italiano uma
Copa da Uefa (1988/1989), um Campeonato Italiano (1989/1990) e uma Supercopa da
Itália (1990). Fora, uma amizade que continuou após a carreira tomar rumos
diferentes. Maradona passou algumas vezes as férias em Campinas, cidade natal
de Careca. O brasileiro também ia visitar o astro argentino em Buenos Aires.
Careca não quis dar entrevistas após a morte do amigo e se pronunciou
apenas pelas redes sociais. “Senhor, sem palavras. Nosso amigo, irmão Diego
partiu para o seu reino. Por favor, receba ele de braços abertos. Ele foi e
será sempre especial para todos nós”, escreveu Careca no Instagram com uma foto
da dupla nos tempos de Napoli.
Era recorrente a imprensa brasileira procurar Careca sempre
que alguma coisa acontecia com Maradona. A cada problema de saúde, a cada
internação, a cada novo passo na atribulada vida do argentino, o companheiro de
Napoli era chamado para dar sua opinião.
Em 1991, quando Maradona estampou as manchetes de jornal ao
ser preso em Buenos Aires com meio quilo de cocaína em sua casa, o amigo
brasileiro falou ao Estadão e aproveitou para rebater os críticos. “Tem muita
gente que está dando gargalhadas da desgraça dele.”
Oito anos depois, Maradona já tinha tido uma overdose por
cocaína e estava no fim da carreira nos gramados. Careca concedeu entrevista ao
Estadão e falou um pouco sobre como era a relação com o parceiro.
“Apesar de brasileiro e argentino terem essa fama de não se
bicar muito, eu e ele fizemos amizade muito grande e importante, que refletia
muito dentro de campo, onde a gente se entendia até no escuro. Nem precisava
olhar, podiam até apagar as luzes do estádio que a gente já sabia dos nossos
posicionamentos. Nós nos divertimos bastante e até hoje a gente se fala sempre.
Ele é uma pessoa que admiro e faz parte da minha família”, contou à época.
Revelado pelo Guarani, de Campinas, Careca passou pelo São
Paulo antes de ir jogar na Itália. A decisão pelo Napoli foi tomada por causa
de Maradona. O atacante tinha propostas de clubes de outros países da Europa,
mas a opção foi feita para atuar ao lado do ídolo. “Um funcionava como
complemento do outro. O sucesso é simples de explicar. Além da técnica
extraordinária que ele tinha muito mais do que eu, nenhum dos dois tinha inveja
do outro.”
Em 2004, Maradona foi internado na Argentina após mais uma
overdose de cocaína. Ele chegou a ficar em coma por alguns dias e precisou
passar por cirurgia para reduzir o estômago. Além do uso de drogas, Maradona
tinha obesidade mórbida e por isso precisou passar pelo procedimento.
Na época, Careca declarou ao Estadão que Maradona precisava
de ajuda e ainda tinha esperança de ver o argentino dar a volta por cima,
apesar de estar na reta final da carreira. “É uma pessoa que não faz mal a
ninguém, só a ele mesmo, que precisa de ajuda. A gente está sempre disponível a
dar uma mão para que ele possa realmente se recuperar de tudo isso e voltar a
ser um grande jogador.”
RIVALIDADE – Maradona e Careca só se encontraram uma única
vez em Copas do Mundo. Foi na Itália, em 1990, pelas oitavas de final. Nenhum
dos dois teve atuação brilhante. Mas, mesmo sem ser brilhante, o argentino era
decisivo e saiu dos pés dele a assistência para Caniggia marcar o gol da
vitória por 1 a 0 e garantir seu país na próxima fase da competição.
Além de Careca, a seleção brasileira também tinha o volante
Alemão, que era jogador do Napoli. Segundo o atacante, os dois tinham avisado o
treinador Sebastião Lazaroni que Maradona precisava de atenção especial. O
técnico não quis escutá-los e optou pela marcação por zona. Em um
contra-ataque, Maradona arrancou da intermediária e tocou para o companheiro,
livre, eliminar o Brasil.
Fonte:Estadao Conteudo
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