O primeiro domingo de 2021 amanhecia quando a polícia interrompeu uma poll party (festa em torno de uma piscina) sem autorização num sítio de Guaratiba, na Zona Oeste do Rio. Na internet, vídeos mostram o antes, de centenas de pessoas ao som da música eletrônica, aglomeradas e sem máscara, diante de um palco com dançarinos e telão, e o depois, quando os frequentadores iam embora em meio à lama deixada pela chuva. Era só um entre incontáveis eventos nas últimas semanas, muitos deles clandestinos, para vários públicos, gostos e bolsos, em que um afã coletivo por diversão tem ignorado as consequências da pandemia do coronavírus, num momento em que o país ultrapassa a marca dos 200 mil mortos pela Covid-19.
De 25 de novembro a 6 de janeiro, só o Corpo de Bombeiros do
Rio recebeu 434 denúncias e precisou intervir para interditar 168 desses
eventos. Os organizadores de parte deles, contudo, desenvolveram estratégias
para se manterem na surdina, sem provocar alardes às autoridades. Afters
(festas que começam após o horário tradicional das baladas) e pool parties clandestinas,
por exemplo, quase nunca têm divulgação nas redes sociais. Sob a condição de
anonimato, frequentadores contam que, com as restrições da pandemia, elas
costumam ser anunciadas em grupos fechados de WhatsApp e se espalham no boca a
boca.
Os ingressos são comprados por meio de transferências
bancárias, inclusive pagamentos pelo PIX, mas com o endereço da festa revelado
a poucas horas do início. Em geral, ocorrem em sítios e chácaras afastadas, em
bairros como Guaratiba, Vargem Grande e Jacarepaguá, mas também em casas de
bairros da Zona Norte ou em regiões de Campo Grande.
— Às vezes pedem nos grupos que ninguém poste vídeos ou fotos
— conta um frequentador.
Muitas delas são embaladas pelo consumo de drogas sintéticas,
e têm forte apelo comercial. Na do fim de semana passado, em Guaratiba, a
entrada com bebida liberada custava R$ 300. O público era, majoritariamente, de
homens gays, semelhante ao da R:evolution, fechada pelos bombeiros e por
policiais do 23º BPM (Leblon) no último dia 29 de dezembro — essa, contudo, com
ampla divulgação e realizada por uma das maiores produtoras de festas do Rio.
Denúncias de aglomeração levaram os agentes ao Faro Beach Club, no Leblon, onde
a noitada acontecia.
Movimento LGBT repudia encontros
Nem a interrupção da Revolution nem a da pool party de
Guaratiba, porém, resultaram em registros nas delegacias próximas, segundo a
Polícia Civil. Ou seja, ficaram apenas na esfera administrativa, sem a abertura
de investigações. As críticas a eventos do tipo em plena emergência sanitária
encontram ecos, inclusive, no movimento LGBT. Presidente do Grupo Arco-Íris,
Almir França é um dos que repudiam essas festas.
— Não reconhecemos essas eventos como LGBT. A sigla tem
várias identidades, e nessas festas o que há é um bando de homens sem camisa.
Além disso, são festas particulares comerciais, cujos organizadores não fazem
nada pelo movimento. As instituições e eventos LGBT têm um papel social
histórico — diz Almir, ao destacar que os questionamentos a essas festas não
podem se confundir e derivar mais preconceitos contra uma população que há
séculos luta contra discriminações.
Decreto está sendo descumprido
Basta circular pelas ruas e vasculhar a internet para
encontrar todo tipo de festa, com os mais diversos grupos sociais, que
descumpre o decreto 47.345, de 5 de novembro de 2020, determinando que os
produtores de eventos devem garantir o distanciamento social, o uso de máscara,
a utilização de álcool em gel e a lotação máxima de 50% da capacidade total dos
espaços.
Ao Disque-Denúncia, desde outubro, foram 177 ligações sobre
festas com aglomerações só no Rio, principalmente em bairros como Campo Grande,
Jacarepaguá e Barra. Os bailes funk nas comunidades também andam a toda. No
Instagram, o perfil @brasilfedecovid tem denunciado festas com aglomerações em
todo país. A preocupação é que ainda há um longo verão pela frente, com grandes
festas programadas. Os bombeiros afirmam ter aumentado em 40% o efetivo
empenhado nas fiscalizações.Já Guarda Municipal diz manter patrulhamento diário
nas praias.
As informações são do Extra.
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