Bacia de Campos tem cenário complexo, com queda de empregos e investimentos
As
perspectivas e horizontes quanto ao mercado de petróleo e gás na região da
Bacia de Campos para 2021 estão cercadas de dúvidas, mas também de
expectativas. Especialmente, em Campos, um dos municípios mais prejudicados
pela queda dos royalties e a redução de vagas de empregos, com impacto direto
no comércio e na industria da cidade. De um lado, o atual governo e o setor
privado exibem otimismo inflado com os investimentos e leilões de blocos a
partir da quebra do monopólio que a Petrobras e a entrada das petroleiras
estrangeiras no setor. De outro lado, há os que temem a mudança do perfil da
empresa que viria prejudicar a região com a queda de investimentos e geração de
empregos comprometida. Segundo a estatal, as ações e, sobretudo os cortes, são
necessários para garantir a sustentabilidade da companhia. O Campos 4 Horas
mostra a análise de economistas e sindicalista de Campos sobre o assunto.
No final do
ano passado, o Conselho Nacional de Política Energética aprovou a criação do
Promar (Programa de Revitalização e Incentivo à Produção de Campos Marítimos)
que será lançado em Macaé neste mês de fevereiro visando estimular o melhor
aproveitamento dos recursos petrolíferos em campos marítimos maduros, com uma
atenção especial para a Bacia de Campos.
— O
desempenho atual no pré-sal brasileiro, que beira os 70% da produção nacional,
merece o devido destaque. Contudo, não se pode esquecer que em um passado
recente os campos do pós-sal offshore da Bacia de Campos já foram responsável
por mais de 90% da produção nacional, sustentando por muitos anos as
iniciativas tecnológicas para o sucesso em novas fronteiras exploratórias,
principalmente para tornar viável a produção nesses campos de alta
produtividade, enquadrados como ativos de classe mundial — disse o secretário
de Petróleo, Gás e Biocombustíveis do Ministério de Minas e Energia, José Mauro
Ferreira.
Segundo o
governo, o Promar buscará estender a vida útil de campos marítimos, de custos
marginais do pós-sal, gerando assim empregos no setor e a ampliação e
manutenção da indústria de bens e serviços.
Mas outras
correntes de opinião pensam de forma contrária. Candidato a vereador pelo PT em
Campos nas últimas eleições, o petroleiro José Maria Rangel, ex-coordenador da
Fup (Frente única dos Petroleiros) aponta redução dos investimentos da empresa
na Bacia de Campos.
— Desde
2015, a Petrobras cortou em 70% os investimentos da empresa na região e esta
política tem impactos na redução dos empregos. Temos denunciado o abandono da
Bacia de Campos que impactou em toda a cidade de Campos, com o aumento do
desemprego, a perda de receita dos royalties, fechamento de muitos
estabelecimentos comerciais e a redução de renda dos trabalhadores. A empresa
está priorizando pagar dívida e juros ao invés de investir na produção —
denunciou.
O economista
Ranulfo Vidigal também tem um viés de pensamento que vai ao encontro na mesma
direção de Rangel. Para ele, a Petrobras que ainda explora 80% do petróleo
brasileiro, deixou de ser uma empresa direcionada para uma política de
desenvolvimento nacional. “A Petrobras deixou de gerar caixa para fazer
investimentos para ser uma empresa que gera caixa para pagar dividendos aos
seus acionistas, inclusive com a venda de ativos. Mais voltada para o mercado e
suas regras de competição com outras empresas”, analisou.
Ranulfo
acredita que a entrada das grandes petroleiras internacionais no mercado após a
quebra do mercado de petróleo e gás não irá contribuir para a geração de
emprego e renda na região.
— É até
possível uma melhora na recuperação do emprego na Bacia de Campos mas não
acredito que seja apenas razoável, nada de extraordinário, porque a economia
chinesa está demonstrando rápida capacidade de recuperação da Covid 19
empurrando esta demanda pelo petróleo e possibilitando sua cotação do barril
entre os 55 e 60 dólares. Mas nada de extraordinário deve ocorrer em razão da
baixa produtividade dos campos maduros, do baixo ritmo da atividade economia
mundial e a cotação dos preços do petróleo — acrescentou.
O economista
José Alves de Azevedo Neto celebra o montante de investimentos do Plano de
Negócios da Petrobras para 2020-2024, de 75,7 bilhões de dólares, mas inclui
ressalvas que podem prejudicar a região.
— O Plano de
Negócios da Petrobras US$ 75,7 bilhões é algo muito significativo e
interessante. Porém, neste ano de 2020, de janeiro a novembro, uma onda de
demissões atingiu fortemente a indústria do petróleo na Bacia de Campos com a
perda de 8,2 vagas de emprego. O desemprego em massa na cadeia do petróleo na
região é fruto da reestruturação financeira da Petrobras — avaliou Alves.
O
economista, contudo, avaliou que destes U$ 75,7 bilhões a serem investidos
nestes quatro anos, a maior parte será direcionada para o pré-sal que fica
concentrada na Bacia de Santos. “Porque os campos do pré-sal têm maior
lucratividade, enquanto os poços da Bacia de Campos já produzem há 40 anos,
hoje não tem a mesma produtividade de antes.
José Alves Neto questiona a quebra do monopólio da Petrobras e a entrada de grandes petroleiras estrangeiras no mercado. “Vamos aguardar os resultados destas gigantes internacionais do petróleo que entraram mercado. Elas trabalham com muita tecnologia e alta produtividade, e isso implica em menos investimentos em mão-de-obra e recursos humanos. Vamos aguardar como essas grandes petroleiras irão investir nestes poços maduros da Bacia de Campos”, analisou.
Campos irá
receber a médio e longo prazo royalties e participações especiais do pré-sal,
pondera o economista. “Há reservas do pré-sal na Bacia de Campos. Então, Campos
vai receber royalties do pré-sal. A questão é saber o quantitativo financeiro
que o município irá receber e quando estes recursos entrarão nos cofres da
prefeitura”.
Outro aspecto abordado por José Alves Neto na abertura do setor de petróleo e gás pelo governo brasileiro é a segurança nacional. “Abrir mão de um setor estratégico da economia brasileira como o pré-sal é perigoso porque neste caso estaremos abrindo mão de uma área importante para qualquer país que é a sua segurança nacional”, finalizou.
Outro
especialista, o professor Mauro Osório, da Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ), enfatiza que o Estado do Rio de Janeiro, incluindo a Bacia de
Campos, como principal estado produtor de petróleo e gás do país, extrai poucos
dividendos da cadeia produtiva da indústria energética. “Estão aqui 85% das
reservas de petróleo do Brasil, mas somos apenas 19% dos fornecedores e
prestadores de serviços da Petrobras, que tem 70% destes contratos no
exterior”, avalia Mauro, hoje na assessoria fiscal da Assembléia Legislativa
(Alerj).
O Estado do
Rio, avalia Mauro Osório, concentra atividades apenas primárias da cadeia
produtiva do petróleo como a extração e atividades de apoio. “Mas quando se
olha para o refino e a produção de derivados, a participação da nossa cadeia
produtiva é de apenas 23,7% da indústria nacional. Avançar nessa segunda etapa
seria medida importante para incrementar a geração de empregos e renda. O setor
tem capacidade de gerar altos salários: enquanto trabalhadores da indústria
fluminense ganham, em média, R$ 4.606,26; no conjunto de atividades
relacionadas com o sistema produtivo de petróleo e gás, o salário médio chegava
a R$ R$ 9.280,31”, concluiu.
FONTE:CAMPOS 24 HORAS
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