O primeiro avião da nova empresa do grupo - um Airbus de 15 anos e capacidade para 180 passageiros - realizou 14 voos
Em meio a um processo de recuperação judicial conturbado e à
maior crise da história da aviação, o grupo Itapemirim, de transporte
rodoviário, iniciou uma série de voos técnicos para poder operar uma companhia
aérea. Na semana passada, o primeiro avião da nova empresa do grupo - um Airbus
de 15 anos e capacidade para 180 passageiros - realizou 14 voos.
O grupo está na última fase do processo exigido pela Agência
Nacional de Aviação Civil (Anac) para obter o certificado de operador
aeronáutico e já conseguiu slots (horários de pouso e decolagem nos aeroportos)
para voar, a partir de junho, entre Ribeirão Preto e Recife, Ribeirão Preto e
Guarulhos, Porto Seguro e Guarulhos, Salvador e Guarulhos - considerando apenas
os terminais mais disputados do País.
O nascimento da empresa área, porém, ocorre sob desconfiança
do mercado. Além de enfrentar uma recuperação judicial desde 2016 - cuja
execução é alvo de questionamentos -, o grupo Itapemirim está no meio de uma
disputa entre seu atual dono e o proprietário anterior (leia mais abaixo). O
plano de negócios da companhia também já mudou completamente em pouco mais de
um ano.
Por meio de sua assessoria de imprensa, o grupo afirmou que,
para contornar a crise do setor, seu projeto prevê um "serviço
diferenciado aos seus passageiros". "Em resumo, é a pessoa, o olho no
olho, que vamos priorizar entre todos os colaboradores e os passageiros",
afirmou, em nota. Disse ainda apostar no avanço da vacinação.
Também em fevereiro de 2020, Piva informou que o investimento
- de US$ 500 milhões - seria feito pelo fundo privado da família Al Maktoum, de
xeques dos Emirados Árabes Unidos. A divulgação ocorreu após uma missão
empresarial a Dubai liderada pelo governador de São Paulo, João Doria, e da
qual Piva participou.
Não houve, porém, confirmação da injeção de capital na
companhia. Questionada sobre o assunto, a Itapemirim afirmou que todos os
contratos são confidenciais, o que a impossibilita de divulgar se há outros
investidores no projeto.
Até janeiro, o grupo gastou R$ 15,3 milhões na nova companhia.
Desses, R$ 4,4 milhões foram para o aluguel de aeronaves. A administradora
judicial da Itapemirim, a EXM Partnes, afirmou, em relatório publicado em
março, que insistiu para que o grupo fornecesse detalhes sobre investimentos,
contratos e gastos que o projeto tem demandado. Mas a empresa se recusou a dar
informações alegando sigilo de mercado.
O promotor Nilton Belli Filho, da 5.ª Promotoria de Falências
do Ministério Público de São Paulo, monitora o novo negócio. Desde meados de
2020, também vem pedindo informações sobre as operações da Itapemirim para
levantar a aérea e chegou a dizer, nos autos, que o anúncio "não se
coaduna" com o plano de recuperação aprovado pelos credores.
Apesar dos questionamentos, o grupo avança no projeto.
Segundo a assessoria de imprensa, contratou 400 funcionários. A empresa, porém,
ainda não tem data para começar a voar comercialmente e aguarda o processo de
certificação com a Anac. A companhia também encomendou outros nove aviões
A320-200. A idade média da frota é de 15 anos - a mais antiga do mercado
doméstico.
O processo de recuperação judicial da Itapemirim apresenta uma série de irregularidades, segundo o último relatório sobre as atividades da companhia feito pela administradora judicial, a EXM Partners. No documento referente a janeiro, a EXM afirmou, por exemplo, que há um "relevante atraso nas análises" de auditoria. O cronograma estabelecido para a entrega de documentos já foi descumprido mais de uma vez. "Restam pendentes de envio as demonstrações contábeis (completas) referentes aos períodos de dezembro 2019 até janeiro 2021 (14 meses) à administradora judicial", diz o documento.
O relatório afirma ainda que existe uma discrepância entre as
informações prestadas pela Itapemirim e as que constam no processo em relação a
uma parte do valor da dívida. Diz também que há "inércia, ausência de
cooperação e assertividade" da empresa "em se manifestar sobre tão
relevante tema".
No documento, a EXM destaca ainda que, em 2020, o dono da
Itapemirim, Sidnei Piva, recebeu R$ 3,1 milhões da companhia. Questionado pela
administradora judicial, o empresário informou que esse valor corresponde à sua
remuneração mensal, que, em março de 2021, foi estabelecida em R$ 300 mil.
Em paralelo, esse imbróglio tem sido atravessado por
acusações entre Piva e a família Cola, fundadora da Itapemirim. Além de
tentarem anular a venda da companhia, contestada por pendências na assinatura
de anexos do contrato, Camilo Cola e Camilo Cola Filho vêm entrando com uma
série de representações por falsidade ideológica contra o comprador. Eles
sugerem a existência de pelo menos quatro CPFs distintos ligados a Piva. O caso
está sob investigação na 2ª Delegacia de Polícia de Barueri (SP). No início do ano,
o Ministério Público de São Paulo pediu que a Justiça requisitasse informações
da Receita Federal sobre a emissão dos documentos.
Sobre o caso dos CPFs, a defesa de Piva classificou, nos autos,
a representação como "totalmente improcedente" e atribuiu o movimento
a uma tentativa de "vingança" e "perseguição".
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário