Houve ainda um salto expressivo no número de pacientes graves com necessidade de ventilação mecânica e que não apresentam nenhuma comorbidade
Pela primeira vez desde o início da pandemia da Covid-19, as internações em UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) de pessoas com menos de 40 anos são maioria absoluta.
Houve ainda um salto expressivo no número de pacientes graves
com necessidade de ventilação mecânica e que não apresentam nenhuma comorbidade
(como obesidade ou diabetes).
Os dados sugerem não apenas uma mudança do perfil dos doentes
que necessitam de UTI, mas um agravamento do quadro geral dos pacientes em
relação aos meses anteriores.
Em março, 52,2% das internações nas UTIs do Brasil se deram
para pessoas até 40 anos; e o total de pacientes que necessitaram de ventilação
mecânica atingiu 58,1%.
Ambas as taxas são recordes, segundo dados da plataforma UTIs
Brasileiras, da Amib (Associação de Medicina Intensiva Brasileira).
No caso da necessidade de aparelhos de ventilação, houve
salto de quase 40% em relação ao patamar do final do ano passado.
Entre setembro de 2020 e fevereiro deste ano, o total de
internados em UTIs que necessitavam desse tipo de equipamento variou entre 42%
e 48%.
Já os pacientes graves sem comorbidades que agora acabam na
UTI são praticamente 1/3 do total –até fevereiro os doentes graves sem
condições adversas prévias eram 1/4 dos casos.
O novo marco da epidemia no Brasil sugere pelo menos três
conclusões, segundo Ederlon Rezende, coordenador da plataforma UTIs Brasileiras
e ex-presidente da Amib:
1)
as
novas variantes do vírus devem ser mais agressivas; 2) a falta de cuidado de
parcelas da população pode estar afetando sobretudo os mais jovens; e 3) a
imunização dos mais velhos tem ajudado a conter os casos graves entre os
idosos.
2)
Segundo a pesquisa, antes de os jovens serem a maioria dos
internados nas UTIs em março, entre dezembro de 2020 e fevereiro último os até
40 anos representavam 44,5% do total -percentual quase idêntico ao de setembro
a novembro.
De lá para cá, o aumento das internações nessa faixa mais
jovem foi de 16,5%.
Como a imensa maioria dos brasileiros tem menos de 40 anos, o
incremento, embora possa parecer modesto, engloba milhões de pessoas. A
tendência sugere ainda que há espaço para um agravamento da situação.
No mesmo período de comparação (e na contramão), as
internações de pessoas acima de 80 anos despencaram 42%. Elas representam agora
apenas 7,8% do total, pouco mais da metade do que vinha sendo registrado
anteriormente.
Na faixa de idades intermediárias, as internações em UTI
permaneceram mais ou menos no mesmo patamar, somando cerca de 40% do total.
O levantamento da Amib é feito a partir de uma amostra
expressiva, englobando 20.865 leitos de UTI no país, o que representa cerca de
25% de todas as unidades, sendo 2/3 privadas e 1/3 públicas.
"Embora os dados mostrem que a vacina pode estar tendo o
efeito esperado entre os mais velhos já imunizados, eles também revelam que, ao
se acharem imbatíveis, os jovens, muitos sem qualquer comorbidade, são agora as
maiores vítimas da epidemia", afirma Rezende.
Além de estarem se expondo mais em baladas e reuniões, há
levantamentos e relatos de médicos na linha de frente dando conta de que os
mais jovens, quando na UTI, ocupam por mais tempo os leitos -diminuindo o giro
de vagas e contribuindo para saturar o sistema, como tem-se visto.
Com as novas variantes do vírus (como a P1), no entanto, não
só as festas, frequentemente apontadas como as principais vilãs, podem estar
por trás do aumento da infecção entre os mais jovens.
Com o fim do auxílio emergencial pago em 2020 (e que voltou
só em abril e em proporção muito menor), muitas pessoas foram obrigadas a
circular novamente atrás de alguma renda, sobretudo os informais -cerca de 34
milhões de pessoas, ou quase 40% da força de trabalho.
Em 2020, o auxílio emergencial foi pago entre abril e
dezembro (R$ 600 ao mês a 66 milhões de pessoas) e foram empregados R$ 293
bilhões. A nova rodada (R$ 250 a 45,6 milhões) está prevista para durar apenas
quatro meses e somar R$ 44 bilhões -15% do valor do ano passado.
No final de 2020, o contingente de informais na economia
ainda era de 4,7 milhões de pessoas a menos do que um ano antes. Isso pode ser
explicado porque, em função do auxílio emergencial robusto, muitos não estavam
precisando sair de casa atrás de alguma renda.
Neste começo de 2021, isso mudou dramaticamente, levando
milhares de informais a circularem novamente no pior momento da epidemia no
Brasil.
FONTE: FOLHAPRESS
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