Com custo 50% mais baixo do que o investimento nas tradicionais represas, solução verde propõe maior disponibilidade de água para a população
O período de estiagem na maior parte do País compromete os
reservatórios de água que abastecem as principais hidrelétricas. Com menos
água, a produção de energia se torna mais cara e o risco de apagões e
desabastecimento volta a assombrar a população. Pesquisas indicam que a
escassez de chuva para a geração de energia é a maior dos últimos 91 anos.
Produzir água por meio de recuperação físico-hídrica das bacias hidrográficas,
de forma sustentável e com investimentos mais baratos do que os empregados
atualmente é a solução proposta pelo doutor e consultor Rinaldo de Oliveira
Calheiros, responsável pela coordenação da equipe de sustentabilidade Hídrica
da Synergia Socioambiental.
O método desenvolvido e empregado por Calheiros resulta em
Aumento da Disponibilidade Hídrica para Empreendimentos, Municípios e Regiões,
título de seu projeto, e se tornou uma solução ambiental da Synergia para
setores público e privado.
Desenvolvida e aprimorada ao longo dos últimos anos, a
metodologia se baseia na aplicação da chamada infraestrutura verde (soluções
baseadas na natureza) que é mais sustentável e economicamente mais atraente do
que os métodos tradicionais, conhecidos como infraestrutura cinza (baseado em
obras de engenharia civil), podendo ser aplicada em qualquer bacia hidrográfica
do País.
Solução atende tanto governos e entidades públicas que
queiram aumentar a capacidade de produção e disponibilidade de água das bacias
hidrográficas
Essa solução atende tanto governos e entidades públicas que
queiram aumentar a capacidade de produção e disponibilidade de água das bacias
hidrográficas de suas regiões, quanto empreendimentos imobiliários, indústrias,
mineradoras e o agronegócio, setores tradicionalmente dependentes de grande
quantidade de água.
Estudo em Vinhedo – No interior de São Paulo, a cidade de
Vinhedo, com 80 mil habitantes, decidiu apostar nesse método que prevê um
aumento do volume do lençol freático da bacia hidrográfica na extensão de seu
território correspondente até 11 centímetros. Essa medida, que para o olhar de
um leigo pode parecer pequena, é capaz de substituir a reserva de água de
quatro represas, quantidade necessária para dar conta do consumo do município,
garantindo que não venha sofrer com falta d’água ou racionamento. Aplicar o
método de produção de água por meio de tecnologia verde representaria um
investimento 50% menor do que a construção de represas.
Um dos grandes diferenciais da solução da Synergia é a
possibilidade de quantificação da produção de água a partir da recuperação,
graças à aplicação de modelo computacional que automatizam os cálculos,
garantindo precisão e agilidade nos processos. Comparando o custo estimado de
construção de represas (R$77.807.968,28) com a metodologia da Synergia
(R$36.042.700,29), os cofres públicos de Vinhedo ganham em economia,
preservação ambiental e qualidade de vida para sua população.
O mesmo princípio foi aplicado na cidade de Extrema, em Minas
Gerais. Na região rural do município, o método de infraestrutura verde, dentro
do Programa Conservador das Águas, possibilitou que os proprietários rurais
fossem beneficiados pela recuperação físico-hídrica das bacias, que passaram a
absorver mais água da chuva e, consequentemente, aumentaram a produção de água
cuja maior beneficiada foi a região metropolitana de São Paulo.
Crise hídrica nacional tem origem tanto na ocupação e
utilização dos solos de forma desordenada
Calheiros lembra que a crise hídrica nacional tem origem
tanto na ocupação e utilização dos solos de forma desordenada, sem
planejamento, degradatória quanto pelo agravamento das mudanças hidrológicas
climáticas envolvendo o regime de chuvas que tem mudado muito nos últimos anos.
Porém, destaca que a região sudeste, por receber grande parte das indústrias,
adensamento populacional, irrigação e diversos outros usos, tem sido a mais
sacrificada pela, cada vez mais recorrente, escassez hídrica.
“A escassez hídrica é cada vez mais iminente e parece ser
inexorável. Fica cada vez mais claro que a única alternativa efetiva de evitar
isso, ou pelo menos minimizar seus efeitos, é a aplicação de soluções baseadas
na natureza. E isso não se trata de transformar tudo em grandes florestas, mas
de adaptar nosso sistema de ocupação das áreas e nossos sistemas produtivos em
atividades que respeitem os processos hidrológicos naturais, minimizando os
impactos, racionalizando o uso e aumentando a produção de água”, defende ele.
Calheiros lembra que, no que se refere à água, desde as mais antigas
civilizações procurou-se resolver os problemas combatendo os efeitos e não a
causa. “A ação destruidora do ser humano chegou até o momento em que a natureza
não conseguiu mais “cobrir a nossa conta” e, hoje, somos exigidos para corrigir
esse erro”, explica Calheiros ressaltando que isso não implica em limitar a
atividade econômica, mas integrá-la ao ecossistema de forma sustentável.
Produção de água por meio de recuperação físico-hídrica
Como funciona – O método da Synergia para produção de água
por meio de recuperação físico-hídrica das bacias tem como ponto chave o
aumento da capacidade de retenção de água da chuva pelo solo. Com o passar dos
anos, a ação do homem sobre a natureza vem causando impermeabilização do solo.
O método, com suas ações sistemáticas, prevê a recuperação desse solo, para que
ele retome sua capacidade de absorção, infiltração e percolação da água da
chuva, aumentando assim as reservas hídricas subterrâneas. A solução parece
lógica, no entanto é o planejamento dessa recarga em etapas sucessivas e
específicas atuando em cada plano da paisagem que torna o método diferenciado e
eficiente.
Calheiros explica que com a produção de água desta forma é
possível recuperar rios e córregos que secaram, pois “ao aumentar a retenção de
água pela infiltração no solo, a água que escorreria superficialmente e seria
perdida em poucas horas ao abandonar a bacia hidrográfica na parte mais baixa
do terreno através dos córregos é preservada abastecendo os lençóis
subterrâneos, que por sua vez, irão abastecer as nascentes e os córregos
através do fluxo de base. É essa água, que vem do fluxo de base, que diferencia
os rios e córregos permanentes daqueles sazonais como os do Nordeste, por
exemplo”, explica.
A solução proposta por Calheiros e executada pela Synergia é
uma alternativa ágil, verde, ética e mais econômica para o aumento da
capacidade hídrica. “Existe um conceito generalizado de que as ações de
conservação de infraestruturas verdes só renderão resultados para as gerações
futuras. Nesta alternativa isto não é verdadeiro, porque vamos além da
recuperação da mata ciliar onde, de fato, o processo é demorado, afinal uma
árvore demora alguns anos para crescer e exercer a proteção por inteiro que
deveria dentro do processo hidrológico.
Modelo não está baseado apenas no reflorestamento
O diferencial do modelo é que ele não está baseado apenas no
reflorestamento, e sim na paisagem como um todo, começando pela mata de topo de
morro onde é possível evitar o começo da erosão do solo e, principalmente,
incluindo a área de meia encosta, com práticas como o terraceamento, a
adequação da porosidade dos solos, a proteção das estradas rurais, entre outras
ações, que fazem com que a retenção da água da chuva aconteça”, detalha o
especialista.
Em até um ano após o início do processo de recuperação da
área já é possível notar um aumento significativo na vazão das nascentes,
córregos e rio daquele sistema hídrico, afirma o professor.
Fonte:Energia Renovável e Sustentável
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