Paulo Adame, que trabalhou 22 anos no grupo, atualmente preside a Associação de Credores Trabalhistas e Ex-funcionários da Itapemirim
“Essa
suspensão das atividades da Itapemirim Transportes Aéreos foi uma tragédia
anunciada, mas nunca imaginei que seria tão impactante para os passageiros”,
afirma Paulo Adame, que trabalhou 22 anos no grupo e, atualmente, preside a
Associação de Credores Trabalhistas e Ex-funcionários da Itapemirim – criada em
2008 para representar aproximadamente 200 credores.
Em nota
publicada na última semana, a entidade reforçou que o Grupo Itapemirim
direcionou mais de 40 milhões de reais para a companhia aérea criada em meados
deste ano e ao Itapemirim Bank, que seriam suficientes para saldar os credores
trabalhistas.
Também foram
arrecadados mais de 135 milhões de reais em leilões. Deste total, 31 milhões de
reais foram aos credores.
“E a
situação dos 7 milhões de reais que foram enviados para a sócia retirante
Camila Valdívia e os 4 milhões de reais para a TTrans Sistemas de Transportes
[empresa ligada a Sidnei Piva, presidente da Itapemirim]? São muitos
desembolsos substancialmente suspeitos, enquanto temos ex-funcionários passando
necessidades sem o recebimento de seus direitos trabalhistas”, afirma.
De acordo
com o Grupo Itapemirim, “a associação de credores não é reconhecida” e os
débitos já foram quitados, “em sua grande maioria”. Em comunicado oficial, a
empresa afirma que o petido de encerramento da recuperação judicial foi
protocolado em 24 de maio e todas as cláusulas do processo têm sido cumpridas
rigorosamente, o que também inclui os pagamentos aos credores.
Vale dizer
que a empresa está em recuperação judicial desde 2016, com dívidas de quase 190
milhões de reais e 15 milhões de dólares, após anos em crise. Esse recurso
serve como acordo de pagamento e, depois de dois anos, a situação pode ser
revista caso não haja irregularidades ou descumprimento das regras. Entretanto,
a EXM Partners (administradora judicial do plano) indicou “relevante atraso” no
envio das demonstrações contábeis quando o grupo protocolou o pedido de
encerramento do processo.
Veja a
entrevista completa com o presidente da associação:
Quais são os
credores reapresentados pela associação?
“Nós
representamos os credores trabalhistas dentro do processo da recuperação
judicial e ex-funcionários que foram demitidos após 2016 e não recebemos os
seus direitos trabalhistas. A Itapemirim não pagou nenhuma rescisão e nem
recolheu o FGTS mensal. Fez acordos para pagamento parcelado das verbas
rescisórias, mas não cumpriu. Isso irá acontecer na ITA, certamente. Há
aproximadamente 200 associados atualmente”.
Como os
credores encaram o anúncio da Itapemirim?
“O que aconteceu
com a ITA foi uma tragédia anunciada. Várias vezes a associação de credores se
manifestou no processo, e fora dele, demonstrando as irregularidades
capitaneadas pela administração. Lamentamos o que aconteceu e acredito que isso
possa dificultar ainda mais o recebimento de nossos créditos. Já que foi
desviado cerca de 40 milhões para a ITA, que eram para pagar os trabalhadores
dentro da recuperação judicial”.
Existe
alguma previsão para pagamento das dívidas?
“Os créditos
trabalhistas, dentro do processo de recuperação judicial, deveriam ter sido
pagos desde abril de 2020, conforme o plano de recuperação judicial aprovado na
assembleia. Só vislumbramos, a curto prazo, uma forma de recebermos isso caso o
Sidnei Piva, presidente do grupo, seja afastado”.
Havia
previsão de que isso poderia acontecer?
“Infelizmente
as autoridades não deram a devida atenção ao processo de certificação do ITA. O
processo não garante que fatos como a suspensão desmedida das atividades,
deixando milhares de pessoas em dificuldades, não ocorra”.
Essa
situação atual piorou a expectativa dos credores?
“A situação
piora a expectativa dos credores receberem rapidamente, pois possivelmente a
ITA será ‘arrastada’ para dentro do processo de recuperação judicial, e ela só
tem dívidas, mas não tem patrimônio para saudá-los”.
Os credores
tomaram alguma ação após esse anúncio?
“Nós vamos
peticionar no processo de recuperação judicial e fora dele, assim como vários
outros credores que entendem que a melhor situação para recuperação judicial é
que ele seja afastado das operações. Ainda restam alguns bens para serem
leiloados e isso poderia ajudar no nosso recebimento”.
Quais serão
as reivindicações dos credores neste cenário?
“Queremos o
afastamento do Sidnei Piva da gestão das empresas e a convocação de uma nova
Assembleia de Credores”.
Quanto já
foi pago? E quanto falta pagar aos credores?
“Dos
créditos trabalhistas, dentro da recuperação judicial, foram pagos cerca de 20
milhões, mas ainda faltam 40 milhões (exatamente o dinheiro desviado para
criação da companhia aérea). Lembrando que há mais fornecedores e instituições
bancárias com cerca de 200 milhões em créditos dentro da recuperação judicial.
Parte dos credores trabalhistas receberam de forma parcelada e consistente, não
obedecendo plano recuperação judicial”.
Veja a
resposta na íntegra da Itapemirim Transportes Aéreos:
A suposta
associação de credores não é reconhecida. Nas falsas manifestações de Paulo
Marcos Adame, os credores que ele supostamente representa, em sua grande
maioria, e seu próprio débito, já foram quitados.
Paulo Marcos
Adame, muitas vezes, atua no intuito de causar tumultos e obstruir o
prosseguimento da Recuperação Judicial. Diante de suas falsas afirmações nos
autos do processo, Paulo Marcos Adame foi advertido pelo Juiz da Recuperação
Judicial no final do ano 2020 de que qualquer nova manifestação, visando
exclusivamente perturbar os processos, será penalizada por litigância de má-fé,
podendo ser condenado com o pagamento de multa, bem como em indenização a favor
do Grupo Itapemirim no percentual a ser arbitrado pelo Juiz, nos termos do
artigo 81 e § 3º, do CPC.
Vale
ressaltar que o Grupo Itapemirim protocolou em 24 de maio petição à 1ª Vara de
falências e recuperações judiciais do foro central da comarca da capital –
Estado de São Paulo para encerramento do processo de Recuperação Judicial. O
Grupo Itapemirim tem cumprido rigorosamente todas as cláusulas do processo,
incluindo os pagamentos aos credores.
As
informações são da Exame.
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