Gael tinha apenas 1 ano e 3 meses Foto: Arquivo pessoal/Reprodução.
Há menos de
duas semanas, o pequeno Gael Aguiar da Silva Souza, de 1 ano e 3 meses,
brincava saudável na casa da família, na Vila Kennedy, Zona Oeste do Rio. Na
manhã desta segunda-feira, porém, a alegria do menino acabou silenciada para
sempre. Internado no último dia 17 no Hospital municipal Albert Schweitzer, em
Realengo, Gael morreu à espera de uma transferência — determinada pela Justiça
— para outra unidade de saúde, na qual poderia ter tratamento especializado.
Embora a criança tenha testado positivo para Covid-19 durante a internação, a
família ainda não sabe o que, de fato, ocasionou o óbito.
O drama da
autônoma Jéssica Aguiar dos Santos, mãe de Gael, começou quando o menino
começou a apresentar febre repentinamente. Em uma primeira visita ao Albert
Schweitzer, médicos afirmaram que ele estava com uma infecção intestinal. De
volta pra casa e devidamente tratado, o bebê não teve melhora, o que levou a
mãe novamente ao hospital. Desta vez, o parecer foi de virose, seguido de outra
liberação.
Na terceira
ida à unidade, ainda com os mesmos sintomas, constatou-se uma leve anemia após
exame de sangue e de urina, o que também não foi o suficiente para que ele
fosse, ao menos, mantido em observação. Passados cinco dias da primeira visita
ao hospital, Gael começou a apresentar um inchaço na barriga, o que motivou uma
quarta tentativa de atendimento no Albert Schweitzer. Só então, na última
segunda-feira, ele acabou internado, já com alterações no fígado.
A família
conta que, apesar da peregrinação anterior, Gael permanecia bem quando seguiu
para o quarto de enfermaria. Um vídeo gravado por parentes mostra o menino no
leito, sorridente, batendo palminhas. No dia seguinte, porém, veio o resultado
positivo para Covid-19, e ele precisou ser transferido para o CTI. Na
quarta-feira, um médico avisou à família que Gael teria de ser levado a outro
hospital, onde houvesse um leito de emergência pediátrica com especialidade em
hematologia.
— A essa
altura, ele tinha, pelo que nos falaram, suspeita de leucemia e de hepatite,
além da questão da Covid-19. Mas, apesar da necessidade que os próprios
profissionais anunciaram, não se mexeram para fazer a transferência. É um
absurdo — reclama a autônoma Tainara da Silva Araújo, de 22 anos, tia de Gael.
Foi a própria
Tainara que procurou a Defensoria Pública para tentar, via judicial, que o
sobrinho fosse levado para outro hospital. Na sexta-feira, veio a decisão da
juíza Luciana de Oliveira Leal Halbritter, determinando a transferência
imediata de Gael, sob pena de multa de R$2 mil por hora em caso de
descumprimento. A magistrada ordenou ainda que as autoridades fornecessem “todo
o tratamento, exames, procedimentos e medicamentos necessários ao
restabelecimento completo” da saúde do menino.
— Quando
voltei lá, no sábado, ele não tinha sequer sido incluído na fila para
transferência. Só fizeram isso depois que eu acionei a polícia. Só que no dia
seguinte um médico falou que já não era possível transferir meu sobrinho,
porque o quadro era muito delicado e havia risco de morte. Mas só foi assim
porque não resolveram o problema antes. Esperaram agravar. Não fosse por isso,
o Gael poderia estar vivo agora, recebendo o tratamento adequado — critica
Tainara.
A Secretaria
municipal de Saúde (SMS) confirmou que Gael só foi incluído no Sistema Estadual
de Regulação no sábado, dia 22, mas não explicou por que isso não aconteceu
antes, já que a necessidade de transferência foi informada pelos médicos do
hospital à família na quarta-feira anterior. A pasta também alega que o menino
não foi internado nas três primeiras visitas porque apresenteva “sintomas leves
e inespecíficos”.
Na manhã de
segunda-feira, o menino acabou não resistindo a três paradas cardíacas. Na
certidão de óbito, constam como causas “choque não especificado, síndrome
inflamatória multisistêmica e pneumonia devido à Covid-19”. A família,
entretanto, segue sem entender ao certo como tudo aconteceu.
— Ninguém
nos procurou. Ninguém explicou nada. Ninguém sequer prestou solidariedade. É
tudo mundo doloroso — diz Tainara.
Gael será
sepultado na manhã desta terça-feira(25/01), no Cemitério Jardim da Saudade, em
Paciência. Uma vaquinha online tenta arrecadar dinheiro para auxiliar a família
nos custos do enterro.
Abaixo, veja
a íntegra da nota enviada pela Secretaria municipal de Saúde (SMS):
“A direção
do Hospital Municipal Albert Schweitzer informa que Gael Aguiar da Silva Souza
foi atendido nos dias nove, 12 e 15 de janeiro com diagnóstico de
gastroenterite e infecção urinária. No dia 18, o bebê deu entrada na unidade
com queixas de febre de distensão abdominal e fezes escura. Após a avaliação
clínica inicial e realização de exames laboratoriais, ele foi internado na
emergência e transferido para o CTI Pediátrico com diagnóstico de covid-19. As
visitas anteriores não exigiram caso de internação por apresentar sintomas
leves e inespecíficos. O paciente foi assistido pela equipe multidisciplinar do
CTI pediátrico e recebeu todos os cuidados necessários para o seu quadro. Gael
foi inserido no Sistema Estadual de Regulação no último dia 22.”
FONTE:FOLHA
DE ITALVA
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