Face agressiva da Ômicron é visível no Hospital Municipal Ronaldo Gazolla, em Acari, na Zona Norte do Rio
A Ômicron
gerou pandemias dentro da pandemia. A primeira é uma onda que tem contaminado
muita gente, mas, graças às vacinas, a maioria dos casos se desenvolve sem
gravidade.
A segunda
pandemia é com as pessoas não vacinadas ou com o esquema vacinal incompleto.
Para elas, a Ômicron se mostra tão devastadora quanto as variantes anteriores
do vírus.
A face
agressiva da Ômicron é visível nos leitos de UTI do Hospital Municipal Ronaldo
Gazolla, em Acari, na Zona Norte do Rio, onde a equipe do extra passou um dia
acompanhando a rotina.
Ela está
expressa nos rostos dos pacientes intubados e ligados a máquinas. Está
estampada na angústia daqueles fora do tubo, mas prostrados, sem forças para
reagir e cientes da gravidade de seu estado.
Dados do
hospital mostram que a maioria dos casos de Covid-19 que agrava (mais de 90%) é
em não vacinados ou em quem está com a vacinação incompleta. E a forma grave da
Ômicron é como a da Delta e da Gamma, das ondas anteriores: tira o ar, rouba
forças, inflama, infesta o corpo com trombos.
— A Ômicron
aparentemente tem um menor potencial de levar ao agravamento. Mas observamos
que os casos que evoluem para uma maior gravidade são os de não vacinados ou
com esquema vacinal incompleto. Muitos deles estão intubados ou à beira de ir
para a intubação — afirma o diretor do Ronaldo Gazolla, Roberto Rangel.
Nesses
pacientes sem proteção de vacina se vê com nitidez o comprometimento pulmonar
severo. Estão lá as alterações fisiopatológicas típicas das demais variantes do
coronavírus, como trombos disseminados.
— Temos uma
população muito vacinada e, por isso, se criou a ilusão de que a Ômicron é leve
— enfatiza Rangel.
Dados do
hospital mostram que a maioria dos casos de Covid-19 que agrava (mais de 90%) é
em não vacinados ou em quem está com a vacinação incompleta. E a forma grave da
Ômicron é como a da Delta e da Gamma, das ondas anteriores: tira o ar, rouba
forças, inflama, infesta o corpo com trombos.
— A Ômicron
aparentemente tem um menor potencial de levar ao agravamento. Mas observamos
que os casos que evoluem para uma maior gravidade são os de não vacinados ou
com esquema vacinal incompleto. Muitos deles estão intubados ou à beira de ir
para a intubação — afirma o diretor do Ronaldo Gazolla, Roberto Rangel.
Nesses
pacientes sem proteção de vacina se vê com nitidez o comprometimento pulmonar
severo. Estão lá as alterações fisiopatológicas típicas das demais variantes do
coronavírus, como trombos disseminados.
— Temos uma
população muito vacinada e, por isso, se criou a ilusão de que a Ômicron é leve
— enfatiza Rangel.
Na última
quinta-feira, o Gazolla estava com 350 dos seus 420 leitos dedicados a
pacientes com Covid-19. Desses, 45% não estavam vacinados; 39% estavam com o
esquema vacinal incompleto; e os demais eram vacinados com esquema completo e
tinham uma peculiaridade: já sofriam de doenças graves e são, em sua maioria,
idosos.
As mortes
evidenciam ainda mais a violência da Ômicron para quem não tem a proteção da
vacina. Desde a reabertura de leitos exclusivos para a Covid na unidade, 56%
dos óbitos foram de não vacinados, 35% de pacientes com esquema vacinal
incompleto e 9% de pacientes vacinados, mas com comorbidades descompensadas e
em grau avançado de doenças de base.
— Se o
paciente é vacinado, não vemos os microtrombos, o padrão disseminado de vidro
fosco nos pulmões e os distúrbios neurológicos tão característicos da forma
grave da Covid-19. A gente trata mais as comorbidades dessas pessoas. A
Covid-19 em si agrava pouca coisa — destaca Rangel.
No Gazolla,
chama atenção o arrependimento dos doentes sem vacina. Muitos saem da
ambulância implorando: “Posso me vacinar, vou melhorar?”. Eles ouvem que não,
pois já estão doentes, e a vacina não pode mais salvá-los desta infecção. Vão
ter que esperar passar um mês após a alta para então se vacinarem e não correrem
de novo um risco desnecessário.
—
Infelizmente, essas pessoas descobrem da pior forma a Covid-19 como a Covid-19
é. Suas crenças e convicções ideológicas são de uma só vez desconstruídas pelo
coronavírus. Esses pacientes se desesperam arrependidos ao se defrontarem com a
verdade que negaram — afirma Rangel.
Ele lembra o
caso de um paciente que marcou a equipe do Gazolla. De início, José (nome
fictício para preservar a identidade), de 66 anos, se negava a aceitar que
tinha Covid-19. No quinto dia de internação, seu estado piorou, e José se
desesperou: “Por favor, me perdoem. Sei que a culpa é toda minha, mas me
salvem”. Infelizmente, José não resistiu. E só após sua morte sua família se
vacinou.
Como a
maioria da população do Rio está vacinada, a taxa de letalidade diminuiu muito.
Não fosse por isso, médicos não hesitam em dizer que estaríamos enfrentando um
massacre:
— Muitas
mortes eram evitáveis. Não era para ninguém estar sem vacina em janeiro.
‘Nós estamos
nos sentindo desrespeitados’
No Gazolla,
desde o segundo semestre de 2021, profissionais de saúde vestem uniformes de
cores vivas: médicos usam amarelo; enfermeiros, vermelho; técnicos, verde; e
assim por diante. Rangel explica que a ideia foi facilitar a identificação
deles em momentos de emergência.
Mesmo sem
ser intencional, a medida acabou por dar um pouco de leveza ao ambiente. Porém,
com o devastador aumento de casos da Ômicron, deixou de haver espaço para
sutilezas. Nos corredores e à beira dos leitos, as roupas coloridas perdem o
viço sob o branco quase transparente dos trajes de proteção. E os olhos revelam
o esgotamento por atrás das máscaras nos rostos dos profissionais.
— A
população está cansada da pandemia, é compreensível. Mas nós, profissionais da
linha de frente, estamos esgotados. E nos sentimos traídos, desrespeitados por
quem não se protege e contribui para que o vírus continue a causar sofrimento —
afirma a intensivista Ana Helena Barbosa: — O direito de não se vacinar termina
quando começa o os outro de não adoecer e o nosso de não padecer de
esgotamento. É duro ver esse hospital tomado pela Covid-19 de novo. Na maioria
das vezes, por pessoas que chegam pedindo ajuda, mas não fizeram nada para
evitar adoecer. Ainda assim, estamos aqui para fazer tudo que for possível para
salvar todos.
Rotina de
vídeo chamadas está de volta
Os
profissionais da linha de frente — médicos, enfermeiros, técnicos, maqueiros e
outros — temeram quando a onda da Ômicron começou a ganhar altura e se
aproximar. Em janeiro, logo depois do réveillon, ela estourou e encheu
novamente os hospitais de casos de Covid-19.
— Estamos
tão exaustos, que o começo de janeiro parece ter acontecido há uma eternidade —
diz o intensivista Leonardo Oliveira, coordenador de UTI do Ronaldo Gazolla.
Para não
correr o risco de contaminar a família, Leonardo passou dois anos sem ver os
pais e só voltou a abraçá-los após todos estarem vacinados. O reencontro no
último Natal foi emocionante, mas a alegria durou pouco. Agora, de volta à
rotina dos casos graves, só fala com os parentes vídeo chamadas.
FONTE:PORTAL
VIU
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