Referências por décadas em entretenimento e esportes, espaços amargam dificuldades financeiras e perda de sócios
Campos-Automovel-Club-Fluminense
- (Foto: Carlos Grevi)
Os clubes
sociais de Campos dos Goytacazes se tornaram ícones durante todo o século 20,
além de referências esportivas e comportamentais. Alguns já são centenários.
Destacam-se o Saldanha da Gama, Automóvel Clube, Regatas Rio Branco e Tênis
Clube de Campos. Apesar de tanta relevância histórica para a sociedade
campista, nas últimas décadas, esses espaços enfrentam dificuldades financeiras
e perda de sócios. A pandemia de Covid-19 afastou ainda mais o público. Muitas
atividades foram suspensas por quase dois anos. Crise econômica e obter novos
frequentadores desafiam os diretores dos clubes. Alguns temem pelo encerramento
das atividades, caso não consigam mudar a situação.
Em 14 de
agosto deste ano, o Automóvel Clube de Campos completará um século de fundação.
Atualmente, o sócio-contribuinte paga R$190 por mês e o sócio-proprietário,
R$120. O título de sócio-proprietário custa em torno de três salários mínimos.
Em média, este é o custo para ser membro de um clube da cidade. O publicitário
e pesquisador Genilson Soares é integrante do conselho gestor do Automóvel. Ele
admite que há dificuldades para manter o espaço, palco importante de várias
manifestações da cultura campista.
“Há baixa
frequência e pouco interesse. As novas gerações vão em busca de atividade
física e esporte. Hoje, o espaço preferido para os contatos sociais são os
shoppings. A sociedade mudou e os comportamentos também. Infelizmente, os
clubes sociais não se atualizaram e foram resistindo basicamente com o
patrocínio das velhas gerações, conhecidos como sócios-proprietários. Mesmo
sendo entidade sem fins lucrativos, o custo operacional é alto. A cada ano
diminui o número de sócios. A pandemia acentuou o déficit financeiro. Para
tentar fechar as contas no fim do mês, o clube lança mão de aluguéis e presta
serviços na área de esporte e lazer. É difícil compatibilizar essa realidade
com os antigos sócios-proprietários, pois estes consideram o clube como espaço
exclusivo”, explica Genilson.
O economista
Paulo Clébio observa que muitos clubes não se renovam e concentram a gestão
entre antigos sócios, dificultando a entrada de novos frequentadores. “O grupo
pequeno esbarra na dificuldade de gerar receitas. Há sócios que preferem se
fechar em restrito. É necessário contar com gente nova. Uma campanha de entrada
de novos sócios; utilização ou locação da estrutura para pequenos eventos
locais ou regionais; isto atrai pessoas. Sem isso, a excelência dos clubes
campistas tende a envelhecer. Os clubes precisam se abrir ao público em geral”,
sugere.
Tênis Clube| Rodrigo Campista afirma que número de sócios diminuiu
Para o
presidente do Tênis Clube, Rodrigo Campista, os clubes sempre tiveram papel
importante na promoção da cultura, do esporte e do convívio social, mas o
número de sócios tem diminuído:
“Tentamos
alugar o espaço para festas, festivais de natação, eventos. O beach tênis é uma
modalidade que tem gerado interesse das pessoas, trazemos profissionais
renomados ao clube. Se não houver reação, infelizmente, os clubes estão fadados
ao fechamento. O setor está em crise também pela criação de grandes condomínios
nas últimas décadas. A estrutura dessas moradias envolve utilização de
piscinas, saunas, quadras esportivas, afastando as pessoas dos tradicionais
clubes, já que dispõem de área de lazer. A crise afetou seriamente o segmento”,
afirma.
A reportagem
entrou em contato com o presidente do centenário clube Saldanha Gama, Marcelo
Rebel, para que avaliasse a situação deste setor econômico em Campos, mas não
houve respostas.
Rio Branco| Dimisson diz que água foi cortada e há divida com funcionários
Dívidas e
contas atrasadas
Por falta de
pagamento, o fornecimento de água do Clube Regatas Rio Branco foi cortada. A
dívida é de R$15 mil. Ainda há o débito da conta de luz, no valor de R$20 mil.
O presidente do clube, Dimisson Nogueira, diz que há salários de funcionários
em atraso.
“Com a
pandemia, os clubes foram obrigados a fechar por 16 meses. Isto trouxe muitos
transtornos. Em 2020, o Rio Branco tinha todas as contas pagas. Com o
afrouxamento das regras sanitárias, aos poucos, as pessoas começaram a
frequentar, mas depois veio a onda de gripe, novos casos de Covid e mais um
afastamento do público. A água está cortada. Tento negociar com a
concessionária Águas do Paraíba. O Clube dos Eletricitários (Corpo e Energia) e
Sesc Minas de Grussaí fecharam as portas. São muitos gastos e desafios. Não
vejo outra saída neste momento se não houver algum convênio com a Prefeitura de
Campos”, comenta.
Por meio de
nota, a Fundação Municipal de Esportes informou que não recebeu proposta de
parceria ou pedido de ajuda de clubes. “A FME está aberta a receber projetos.
Os interessados precisam estar com a documentação em dia com a municipalidade,
como requer qualquer convênio com instituições públicas. A FME fomenta
atividades esportivas dentro do seu orçamento, e continua à disposição de todos
os desportistas que apresentarem projetos viáveis e de interesse de um bem
maior”.
Importância
histórica
O professor
e pesquisador Marcelo Sampaio é um assíduo frequentador de clube. Segundo ele,
historicamente, é impossível dissociar os clubes sociais de Campos do processo
evolutivo da cidade. “Em termos sociais, eles deixavam bem claras as diferenças
entre as classes. Já do ponto de vista econômico, as suas localizações
geográficas confirmam a importância da área central no município. Desde que nasci, por morar a poucos metros do
Automóvel Clube Fluminense, sempre o considerei como uma extensão do quintal da
minha casa. Herdei do meu pai o título de sócio-proprietário dele sendo seu diretor-social
num dos mandatos do saudoso presidente Lulu Beda. Também criei e fui técnico do
seu time de futsal feminino durante anos.
Muitos
eventos do clube fazem parte da memória de Campos. “Organizei diversos
desfiles, eleição da Garota e Garoto Geração da Cidade, nome da coluna social
que assinei por quase duas décadas no extinto jornal A Cidade”, recorda
Marcelo. Se o passado dos clubes campistas é marcado por glórias e saudosismo,
o seu futuro é questionável. “O mundo mudou e as frequências nos clubes sociais
diminuíram. Como estou bem longe de ser uma pessoa otimista, lamento dizer que
acho quase impossível os clubes sociais campistas voltarem a ser o que já foram
um dia”, conclui.
FONTE:TERCEIRA VIA
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