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21/02/2022

TRADIÇÃO E CRISE: CLUBES DE CAMPOS DOS GOYTACAZES-RJ ENFRENTAM PROBLEMAS

Referências por décadas em entretenimento e esportes, espaços amargam dificuldades financeiras e perda de sócios


Campos-Automovel-Club-Fluminense - (Foto: Carlos Grevi)

 

Os clubes sociais de Campos dos Goytacazes se tornaram ícones durante todo o século 20, além de referências esportivas e comportamentais. Alguns já são centenários. Destacam-se o Saldanha da Gama, Automóvel Clube, Regatas Rio Branco e Tênis Clube de Campos. Apesar de tanta relevância histórica para a sociedade campista, nas últimas décadas, esses espaços enfrentam dificuldades financeiras e perda de sócios. A pandemia de Covid-19 afastou ainda mais o público. Muitas atividades foram suspensas por quase dois anos. Crise econômica e obter novos frequentadores desafiam os diretores dos clubes. Alguns temem pelo encerramento das atividades, caso não consigam mudar a situação.

 

Em 14 de agosto deste ano, o Automóvel Clube de Campos completará um século de fundação. Atualmente, o sócio-contribuinte paga R$190 por mês e o sócio-proprietário, R$120. O título de sócio-proprietário custa em torno de três salários mínimos. Em média, este é o custo para ser membro de um clube da cidade. O publicitário e pesquisador Genilson Soares é integrante do conselho gestor do Automóvel. Ele admite que há dificuldades para manter o espaço, palco importante de várias manifestações da cultura campista.

 

“Há baixa frequência e pouco interesse. As novas gerações vão em busca de atividade física e esporte. Hoje, o espaço preferido para os contatos sociais são os shoppings. A sociedade mudou e os comportamentos também. Infelizmente, os clubes sociais não se atualizaram e foram resistindo basicamente com o patrocínio das velhas gerações, conhecidos como sócios-proprietários. Mesmo sendo entidade sem fins lucrativos, o custo operacional é alto. A cada ano diminui o número de sócios. A pandemia acentuou o déficit financeiro. Para tentar fechar as contas no fim do mês, o clube lança mão de aluguéis e presta serviços na área de esporte e lazer. É difícil compatibilizar essa realidade com os antigos sócios-proprietários, pois estes consideram o clube como espaço exclusivo”, explica Genilson.

 

O economista Paulo Clébio observa que muitos clubes não se renovam e concentram a gestão entre antigos sócios, dificultando a entrada de novos frequentadores. “O grupo pequeno esbarra na dificuldade de gerar receitas. Há sócios que preferem se fechar em restrito. É necessário contar com gente nova. Uma campanha de entrada de novos sócios; utilização ou locação da estrutura para pequenos eventos locais ou regionais; isto atrai pessoas. Sem isso, a excelência dos clubes campistas tende a envelhecer. Os clubes precisam se abrir ao público em geral”, sugere.

 

Tênis Clube| Rodrigo Campista afirma que número de sócios diminuiu


Para o presidente do Tênis Clube, Rodrigo Campista, os clubes sempre tiveram papel importante na promoção da cultura, do esporte e do convívio social, mas o número de sócios tem diminuído:

 

“Tentamos alugar o espaço para festas, festivais de natação, eventos. O beach tênis é uma modalidade que tem gerado interesse das pessoas, trazemos profissionais renomados ao clube. Se não houver reação, infelizmente, os clubes estão fadados ao fechamento. O setor está em crise também pela criação de grandes condomínios nas últimas décadas. A estrutura dessas moradias envolve utilização de piscinas, saunas, quadras esportivas, afastando as pessoas dos tradicionais clubes, já que dispõem de área de lazer. A crise afetou seriamente o segmento”, afirma.

 

A reportagem entrou em contato com o presidente do centenário clube Saldanha Gama, Marcelo Rebel, para que avaliasse a situação deste setor econômico em Campos, mas não houve respostas.

 

Rio Branco| Dimisson diz que água foi cortada e há divida com funcionários


Dívidas e contas atrasadas


Por falta de pagamento, o fornecimento de água do Clube Regatas Rio Branco foi cortada. A dívida é de R$15 mil. Ainda há o débito da conta de luz, no valor de R$20 mil. O presidente do clube, Dimisson Nogueira, diz que há salários de funcionários em atraso.

 

“Com a pandemia, os clubes foram obrigados a fechar por 16 meses. Isto trouxe muitos transtornos. Em 2020, o Rio Branco tinha todas as contas pagas. Com o afrouxamento das regras sanitárias, aos poucos, as pessoas começaram a frequentar, mas depois veio a onda de gripe, novos casos de Covid e mais um afastamento do público. A água está cortada. Tento negociar com a concessionária Águas do Paraíba. O Clube dos Eletricitários (Corpo e Energia) e Sesc Minas de Grussaí fecharam as portas. São muitos gastos e desafios. Não vejo outra saída neste momento se não houver algum convênio com a Prefeitura de Campos”, comenta.

 

Por meio de nota, a Fundação Municipal de Esportes informou que não recebeu proposta de parceria ou pedido de ajuda de clubes. “A FME está aberta a receber projetos. Os interessados precisam estar com a documentação em dia com a municipalidade, como requer qualquer convênio com instituições públicas. A FME fomenta atividades esportivas dentro do seu orçamento, e continua à disposição de todos os desportistas que apresentarem projetos viáveis e de interesse de um bem maior”.

 

Importância histórica

 

O professor e pesquisador Marcelo Sampaio é um assíduo frequentador de clube. Segundo ele, historicamente, é impossível dissociar os clubes sociais de Campos do processo evolutivo da cidade. “Em termos sociais, eles deixavam bem claras as diferenças entre as classes. Já do ponto de vista econômico, as suas localizações geográficas confirmam a importância da área central no município.  Desde que nasci, por morar a poucos metros do Automóvel Clube Fluminense, sempre o considerei como uma extensão do quintal da minha casa. Herdei do meu pai o título de sócio-proprietário dele sendo seu diretor-social num dos mandatos do saudoso presidente Lulu Beda. Também criei e fui técnico do seu time de futsal feminino durante anos.

 

Muitos eventos do clube fazem parte da memória de Campos. “Organizei diversos desfiles, eleição da Garota e Garoto Geração da Cidade, nome da coluna social que assinei por quase duas décadas no extinto jornal A Cidade”, recorda Marcelo. Se o passado dos clubes campistas é marcado por glórias e saudosismo, o seu futuro é questionável. “O mundo mudou e as frequências nos clubes sociais diminuíram. Como estou bem longe de ser uma pessoa otimista, lamento dizer que acho quase impossível os clubes sociais campistas voltarem a ser o que já foram um dia”, conclui.


FONTE:TERCEIRA VIA 

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