Gilmar Santos é um rosto familiar para o presidente
Se hoje é
comparado, em comentários reservados, a uma barra radioativa da qual é melhor
manter distância, o pastor Gilmar Santos já foi figura mais magnética na
bancada evangélica.
Pregador com
quase quatro décadas de carreira, o líder religioso agora envolvido em
escândalo no MEC (Ministério da Educação) é uma cara conhecida por vários
membros do bloco e tem inclusive uma filha trabalhando no gabinete de um
ex-presidente da bancada.”
Segundo os
registros da Câmara, Quézia Ribeiro dos Santos Costa entrou no time de
secretários parlamentares de João Campos (Republicanos-GO) no dia 10 de junho
de 2021, com ganho mensal em torno de R$ 4.000. As informações são da
FolhaPress
Foi
acompanhado de Campos, seu conterrâneo de Goiás, que o pastor Gilmar Santos
esteve com o ministro Ciro Nogueira (Casa Civil) em 2019. Seu bom trânsito em
Brasília não se restringia ao MEC, onde negociaria, ao lado do assessor e
também pastor Arilton Moura, a liberação de verbas para prefeitos. Os dois não
possuíam cargo oficial na pasta.
Gilmar
Santos é um rosto familiar para Jair Bolsonaro. Foi ele o encarregado de
convidar o presidente para participar do congresso Gideões Missionários da
Última Hora, um dos eventos mais importantes do calendário pentecostal no
Brasil.
É o que o
próprio conta, como mostram gravações daquele abril de 2019. Na ocasião, o
pastor agradeceu à mesa diretora do congresso “pela confiança de eu ser o
mediador e levar o convite dos Gideões para o senhor presidente Jair
Bolsonaro”.
Bolsonaro,
na ocasião, foi “muito gentil” e “de um apreço muito grande conosco, comigo e
com o pastor Arilton, nosso assessor para esses assuntos, o Arilton Moura”, disse,
referindo-se ao braço direito que, três anos depois, seria acusado de pedir
pagamentos, até mesmo 1 kg de ouro, para liberar recursos para a construção de
creches, escolas quadras e equipamentos de tecnologia.
“O
presidente tinha nos dado 10 minutos, ficou quase mais de 20, naquela cortesia,
naquela atenção”, afirmou o pastor. Pediu, então, que a igreja orasse “todos os
dias” pelo mandatário.
Ele estava
logo atrás no palco quando Bolsonaro discursou no congresso. O chefe do
Executivo ainda encontraria Gilmar Santos e Arilton Moura ao menos uma vez
naquele ano, outra em 2020 e mais uma em 2021.
Gilmar
Santos já pregou lado a lado de deputados da Frente Parlamentar Evangélica,
como Lauriete (PSC-ES) e Abílio Santana (PL-BA).
“O pastor
Gilmar tem amizade com alguns membros da FPE”, diz o líder da bancada, Sóstenes
Cavalcante (PL-RJ), que não se inclui nesse pacote. “Todos os parlamentares que
são seus amigos continuam achando que ele é um sacerdote com idoneidade, e
acham que possivelmente o Arilton é quem deve ter praticado atos ilícitos, que
ainda precisam ser investigados.”
À frente do
goiano Ministério Cristo Para Todos, Gilmar Santos deve sua projeção nacional
ao Gideões, entidade missionária que todo ano realiza seu congresso em Camboriú
(SC). Ali fez profecias para outros nomes fortes do pentecostalismo brasileiro,
como o deputado Marco Feliciano (Republicanos-SP).
Vídeo antigo
mostra um jovem Feliciano falando para uma multidão e, em dado momento, Gilmar
Santos vai até ele no altar, põe a mão sobre sua testa e fala palavras em seu
ouvido, enquanto ele chora.
“Você
consegue imaginar a tristeza que nós, evangélicos pentecostais, estamos sentindo?
Ele sempre foi uma reserva moral”, afirma agora Feliciano, que ressalta tê-lo
encontrado “raríssimas vezes” desde que estreou no Congresso, em 2011. “Eu era
menino e já lhe assistia pregar. Se se comprovar que ele obteve vantagens
indevidas nesta história, a decepção será grande demais. Oro a Deus para que
tudo se esclareça. Dou a ele a presunção da inocência até que se prove o
contrário.”
Amigo do
bolsonarista Feliciano, mas em polo político oposto, Paulo Marcelo
Schallenberger é outra cria do Gideões. Hoje próximo ao PT de Lula, o pastor
conta que ainda estava no seminário bíblico quando, com colegas, ouvia fitas K7
com palavras do pastor Gilmar. “Chorávamos para um dia conhecê-lo.”
Pois eles se
conheceram. Em 2015, meses após Paulo Marcelo ser preso sob suspeita de posse
de drogas e arma no Paraná, Gilmar Santos dedicou-lhe uma palavra. “Lembra
naquele dia, no hotel em Foz do Iguaçu”¦”, afirma o pentecostal. “Deus te
levantou e Ele manda eu te dizer: não para!”
Gilmar
Santos e Arilton Moura e Gilmar Santos, agora, são alvos de inquérito da
Polícia Federal, que investiga a atuação informal deles no MEC. Áudio revelado
pela Folha mostra o ministro da pasta, o também pastor Milton Ribeiro, dizendo
que, quando priorizava “a todos os que são amigos do pastor Gilmar”, atendia a
um “pedido especial que o presidente da República fez para mim”.
Moura já foi
nomeado para um cargo comissionado na liderança do MDB na Câmara dos Deputados.
Também já transitou em gabinetes petistas, como o de Ana Júlia Carepa, que
governou o Pará de 2007 a 2011.
Casado com
uma pastora, a irmã Raimundinha, Gilmar Santos cultivou por décadas a imagem de
milagreiro, que teria o dom da cura divina.
A reportagem
tentou contato com os dois pastores na mira da PF, sem sucesso. Em nota com o
timbre de sua igreja, Gilmar Santos negou “a falácia de que pedi, recebi,
mandei pedir, ou, de alguma forma, contribuí, para o recebimento de propina, ou
qualquer outro ato de corrupção junto ao MEC”.
FONTE:PORTAL
VIU
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