Gilmar Santos criou uma faculdade e uma editora, registradas em endereços de sua igreja, onde não há sinal de atividades que não sejam cultos
BRASÍLIA,
GOIÂNIA e APARECIDA DE GOIÂNIA — Suspeito de cobrar propina para facilitar a
liberação de recursos do Ministério da Educação, o pastor Gilmar Santos
investiu quase meio milhão de reais para criar duas empresas, abertas há duas
semanas.
No mesmo
dia, 8 de março deste ano, ele abriu uma faculdade em Goiânia, com aporte
inicial de R$ 100 mil, e registrou uma editora na cidade vizinha de Aparecida
de Goiânia, com capital de R$ 350 mil. De acordo com informações do Jornal O
GLOBO, na quarta-feira, dois prefeitos afirmaram que Santos e outro religioso,
Arilton Moura, pediram quantias em dinheiro e até a compra de bíblias em troca
de agilizar os repasses aos municípios.
O GLOBO
esteve nos dois endereços das empresas que constam nos documentos protocolados
na Junta Comercial de Goiás. Tanto a faculdade quanto a editora foram
registradas em sedes da Assembleia de Deus Cristo Para Todos, igreja comandada
por Santos e da qual Moura também faz parte. Nos dois casos, não há sinal de
que os locais sirvam para outras atividades além dos cultos religiosos.
Na capital
goiana, o templo funciona em um prédio de três andares que atualmente está em
obras (na fase de concretar as paredes), cercado por duas casas grandes e
muradas. O templo central, que foi visitado pelo ministro da Educação, Milton
Ribeiro, no fim do ano passado, fica bem em frente das três estruturas.
Em construção. Obra do prédio onde o pastor Gilmar Santos
pretende instalar, segundo fiéis, a “Faculdade ITCT” Foto: Rasta / Agência O
Globo
Segundo vizinhos que frequentam a igreja, a obra começou há
três anos e foi paralisada por falta de dinheiro durante a pandemia. Em vídeos
postados em 2021, o pastor aparece pedindo dinheiro aos fiéis para comprar
ferragens para as escadas e concluir a construção do telhado — nas imagens, ele
balança um papel com orçamento das obras. A nova estrutura, de acordo com os
fiéis ouvidos em caráter reservado, é onde o pastor pretende instalar a
“Faculdade ITCT”, sigla para “Instituto Teológico Cristo para Todos”.
A sede em Aparecida de Goiânia, por sua vez, é mais modesta.
No endereço onde a nova editora de Santos foi registrada existe apenas um
galpão, pintado de azul, com o nome da igreja e uma foto do religioso na
fachada. O local, que fica em uma área industrial a cerca de 20 minutos do
centro da cidade, estava fechado na tarde de ontem.
Santos já possuía uma editora, criada em 2013, no mesmo
endereço da igreja em Goiânia, registrada como “Editora e Publicadora Cristo
para Todos Limitada”. O capital social desta empresa é de R$ 110 mil. A nova,
criada há duas semanas com o triplo do valor, tem CNPJ diferente, mas nome
quase idêntico: “Editora Cristo para Todos Limitada”. Questionado sobre a
abertura das empresas no mesmo dia, Gilmar não retornou os contatos do GLOBO.
Os relatos dos prefeitos Kelton Pinheiro, de Bonfinópolis
(GO), e José Manoel de Souza, de Boa Esperança do Sul (SP), dão conta de que os
pedidos de propina variavam de R$ 15 mil a R$ 40 mil e incluíam também a compra
de bíblias.
Além de fundador da Assembleia de Deus Cristo Para Todos,
Santos é diretor da Convenção Nacional de Igrejas e Ministros das Assembleias
de Deus do Brasil.
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