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08/03/2023

IBGE: 51% das empreendedoras brasileiras são responsáveis pelo sustento da casa


Mais da metade das empreendedoras brasileiras são também chefes de domicílio. O percentual alcançou 51% no ano passado, o maior nível desde 2016, quando o levantamento começou a ser feito pelo Sebrae, com base em dados da Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios Contínua do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).


Seis anos atrás, esse percentual de mulheres donas de empresas que também eram as principais responsáveis pelo sustento da casa era de 41%.


Renata Malheiros, coordenadora de Empreendedorismo Feminino do Sebrae, considera uma vitória das mulheres, que ainda enfrentam barreira cultural para se impor no mundo dos negócios.


— Os obstáculos para as mulheres que querem empreender são muito maiores do que o enfrentado pelos homens. Não é mimimi — afirma.


Há duas diferenças culturais básicas. A primeira delas, diz Renata, é que empreender não costuma fazer parte do sonho das meninas, que são educadas com crenças limitantes sobre o que podem ou não fazer.


Ela lembra que não é raro uma mulher de negócios ter uma rede de relacionamentos de trabalho (networking) menor, por evitar se expor ou tomar a iniciativa de contato com homens, mesmo quando eles podem se tornar um importante parceiro nos negócios.


Cuidado com a casa

Outro fator limitante é o fato de as mulheres ainda hoje terem de dedicar mais tempo no cuidado com a casa, os filhos e família do que os homens.


Numa pesquisa feita no ano passado, o Sebrae descobriu que as mulheres dedicam em média, 17% menos horas semanais aos negócios do que os homens, por estarem envolvidas com a chamada "economia de cuidados". Durante a pandemia, com as crianças sem aula, a situação piorou, porque as mulheres deixaram de ter o suporte de escolas e creches.


Acumular o sustento da casa e o cuidado com os filhos dá o tom do trabalho de Débora de Freitas Mina, 41 anos, dona da clínica de estética Encantar Beleza e Bem-estar, no bairro da Água Rasa, em São Paulo.


Mudança de foco

Esteticista há 20 anos, ela não pensou em empreender, até que a clínica onde ela trabalhava mudou de foco para medicina estética e deixou de prestar os serviços que Débora fazia, como micropigmentação, design de sobrancelhas, depilação e limpeza de pele.


— Uma das clientes havia fechado um pacote e queria terminar de fazer. A pedido dos donos da clínica, o jeito foi atendê-la na minha própria casa — conta Débora.


A demanda das ex-clientes levou Débora a abrir sua própria clínica, que hoje já ocupa quatro salas, emprega duas esteticistas e ainda oferece serviço de fisioterapia, em associação com uma profissional da área.


— Fiz vários cursos, mas ainda hoje não me sinto preparada para a gestão. Estava acostumada apenas a prestar serviços e deixar as clientes satisfeitas — diz Débora.


Durante a empreitada, Débora se divorciou e assumiu sozinha as despesas da casa e dos filhos, hoje com 15 e 9 anos de idade. A empreendedora é a responsável pelos gastos da casa e paga os alugueis da residência e da clínica. A ajuda do ex-marido corresponde apenas a cerca de um terço do aluguel da casa.


A empreendedora ainda se recente por não ter conseguido, por falta de tempo, terminar o curso online de gestão financeira, oferecido pelo Sebrae.


— Acho que fui criada para ser boa dona de casa e funcionária competente, sair no horário e me contentar com o salário, além de cuidar da casa e dos filhos — diz ela.


Apesar de 32 milhões de mulheres tocarem seus negócios, o que coloca o Brasil em sétimo lugar do mundo em número de empreendedoras, elas ainda trabalham pelo menos 10 horas a mais por semana do que os homens em afazeres domésticos e com os filhos.


A divisão desigual do tempo talvez explique o fato de o ganho médio das mulheres empreendedoras ser ainda 16% inferior ao dos homens, apesar de terem grau de escolaridade mais alto em relação aos homens. O último dado, de 2021, mostrou que 68% das empreendedoras têm ensino médio completo ou superior, contra 54% dos homens.


Taxas de juros

Também naquele ano as mulheres pagavam taxas de juros mais altas do que os homens (34,6% ao ano, contra 31,1%), mesmo tendo taxa de inadimplência menor -- a média das mulheres era de 3,7% contra 4,2% dos homens.


Renata afirma que o bom empreendedor, tanto homem quanto mulher, precisa colecionar uma série de competências técnicas, e não basta apenas ser bom naquilo que faz. Planejar, calcular custos fixos e variáveis e saber quais legislações devem ser seguidas estão entre os saberes básicos.


-- O problema está na competência socioemocional, que ainda atrapalha as mulheres no exercício da liderança, na negociação com terceiros, na formação de rede de contatos e na persuasão. É aí que a cultura costuma dar rasteira nas mulheres -- diz ela.


A coordenadora do Sebrae defende medidas sociais que permitam que as mulheres diminuam a sobrecarga de trabalho em casa e vê com bons olhos os grupos de mulheres empresárias, como Mulheres do Brasil e Mulheres Empreendedoras, que oferecem mentoria para que as empresárias de desenvolvam.


-- Em rede as mulheres identificam melhor seus problemas e trocam soluções, além de poderem fazer negócios entre si -- diz Renata.



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