O ex-Charlie Brown Jr. Renato Pelado: músico leva seu exemplo pessoal às palestras que faz em igrejas e escolas — Foto: Davi Martins
Renato Pelado integrou a banda por cerca de 13 anos e sofreu
com a doença, enquanto convivia com o estrelato.
Por Eduardo Valim, Leticia Gomes, Thais Prado*, G1 Santos
No auge do sucesso de sua antiga banda, o Charlie Brown Jr.,
o baterista Renato Peres Barrio, mais conhecido como Renato Pelado, vivia um
drama pessoal que poucos conheciam. “Eu vivia um personagem. Fazia show para
milhões de pessoas, mas voltava para o quarto do hotel e chorava por horas.
Faltava algo em mim”. Hoje, aos 54 anos, ele faz palestras sobre o problema que
enfrentou na época, a depressão, e como ela foi superada.
O músico, que fez parte da formação original do Charlie Brown
Jr., tocou na banda por cerca de 13 anos, período que sofreu com a doença. O
gatilho foi o vício em bebidas, cigarro e drogas.
O ex-baterista conta que o ambiente de música onde convivia
era bastante conturbado. Mesmo com a experiência de mais de dez anos tocando
nos bares de Santos, estar em uma banda de sucesso que estourou nas paradas
teve um grande peso. O músico acredita que não estava preparado. “Teve uma
época que a gente não conseguia ir ao shopping sem ser reconhecido. Era tudo
muito novo”.
Pelado ainda não tinha consciência do que estava passando, já
que seus objetivos só envolviam a banda e continuar na profissão. Ele só
percebeu a realidade depois de sair infeliz e muito agitado de um show. Não se
sentia realizado, mesmo com tantas conquistas. Os vícios foram consequência de
todos os problemas que enfrentava. “Aquilo era minha fuga do mundo real”,
desabafa.
Foi então que ele começou a buscar ajuda. A luta contra a
depressão durou anos, mas ele só conseguiu superar a doença depois que começou
a frequentar a igreja, onde parou com as drogas. “O importante é procurar o
ponto de paz. Ali foi o meu. O de outra pessoa pode ser outro. Mas é necessário
pedir ajuda”.
Hoje, depois de nove anos 'limpo', Renato Pelado compartilha
sua experiência de luta contra as drogas em palestras. Ele viaja pelo Brasil
levando seu relato a escolas, igrejas e clínicas de recuperação. “Essas pessoas
precisam de uma palavra de força, porque é um momento muito difícil”, explica.
O músico diz que procura sempre levar seu exemplo pessoal, e falar também da
importância de pedir ajuda.
Além das palestras, as redes sociais são um meio utilizado
como espaço de suporte. Pelado diz que recebe muitas mensagens no seu perfil, e
tenta ajudar com conselho para os jovens que chamam e entram em contato. Com as
palestras, o músico deixou o universo das bandas e hoje toca por hobby. Depois
de anos de luta, ele descreve o momento atual como o melhor de sua vida.
Charlie Brown Jr.
Apesar da experiência difícil com as drogas, Pelado lembra
com felicidade dos anos que passou na banda santista. Foram sete CDs gravados e
momentos únicos, como o show de abertura para o Linkin Park, no Morumbi, e a
apresentação no Rock in Rio Lisboa. “Eu viajava para os Estados Unidos,
Portugal, Reino Unido, Japão. Conheci o mundo com o Charlie Brown”.
Sair da banda, segundo o ex-baterista, foi a decisão certa
para o momento que vivia. Pelado menciona o que aconteceu com seus dois colegas
de banda, Chorão e Champignon, encontrados mortos em 2013 — o vocalista teve
uma overdose fatal em março, e o baixista cometeu suicídio, seis meses depois.
Pelado acredita que os colegas passavam por uma depressão. A decisão de sair da
banda foi reforçada pelo estresse que começou a causar brigas entre os amigos.
“Discutimos muito, não era mais um bom ambiente de trabalho”.
O músico conta que desde sua saíde, em 2005, não teve o mesmo
contato com os demais integrantes do Charlie Brown por viver em um ritmo
diferente. “A vida na música é uma loucura, correria entre ida a show, hotel,
aeroporto. Não conseguia mais ficar nessa rotina”, afirma.
Hoje, Pelado fala do sucesso com cautela. “Sucesso não é
garantia de felicidade. Agora eu vejo que a felicidade está nas coisas simples,
que quem tem paz é feliz. E eu encontrei minha paz, longe de tudo aquilo que eu
achava que traria felicidade”.
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