Mercado mais lucrativo do entretenimento nacional não sabe
como será o retorno após crise sanitária que afeta o mundo
Todo setor econômico está receoso sobre como será o futuro
após o fim da pandemia de covid-19 que atinge o mundo. Na música, não é
diferente. O setor, que depende diretamente de eventos com aglomerações e
viagens pode continuar a sentir os efeitos das medidas de isolamento mesmo
depois do término da quarentena.
Existe um medo de que a crise econômica causada pela pandemia
force o fechamento de casas de shows e diminua o público nos eventos.
Hoje, o entretenimento é um dos dez setores mais lucrativos
da economia brasileira (envolvendo aí outras áreas além da música, como teatro,
cinema, congressos e exposições). Dessa maneira, qualquer impacto no mercado
vai refletir no desempenho econômico brasileiro dos próximos anos.
Steve Altit, um dos mais antigos produtores de shows
internacionais no Brasil, lamenta o momento e é pessimista com o futuro. O
executivo da Top Cat acredita que nada voltará a ser como antes. E os prejuízos
com os diversos cancelamentos ainda são incalculáveis. "A situação de
empresas como a nossa é ainda mais delicada, pois atuamos essencialmente com
eventos internacionais. Dentro do possível, fomos hábeis na paralisação das
turnês. Mas os prejuízos são enormes, pois os cachês, impostos, passagens
aéreas, vistos de trabalho, hospedagens, entre inúmeras outras despesas, foram
integralmente pagas, e não tivemos o aporte da bilheteria, que é nossa forma de
retorno imediato do investimento", lamenta.
Elieser Lemos, que tem atuação mais focada em artistas do
mercado nacional, não é uma voz dissonante nessa avaliação. Para ele, que
gerencia bandas como Blitz, Vinny e Baviera, quem sofre mais no momento são os
trabalhadores da área, geralmente informais. "O mercado nunca passou por
algo parecido com o que temos hoje. Mas quem realmente está sofrendo com tudo
isso são os trabalhadores, em sua maioria frilas. Desde a faxineira do camarim
ao segurança do artista. Do técnico de som ao iluminador. Esses operários da
música estão sentindo na pele o impacto dessa pandemia", relata.
Carolina Pozzani, que empresaria bandas como Velhas Virgens,
Biquíni Cavadão e Benito Di Paula, diz que a empresa 74 tem diminuído gastos em
todas as áreas, mas mantendo investimentos estratégicos. "São custos que a
gente tem que absorver, mas não podemos deixar a empresa parada e investir no
marketing das bandas, porque na volta fica mais difícil sem esse trabalho",
explica. "Além disso, tem gente que tem custos maiores, como jato ou
ônibus próprio. E, claro, vão ter prejuízos bem maiores".
Lives e alternativas
Embora não tenham como lucrar com shows e eventos
presenciais, os artistas têm criado outras maneiras de continuar gerando renda
durante essa paralisação forçada. Um dos formatos mais bem-sucedidos do momento
são as lives.
Artistas como Gusttavo Lima, Wesley Safadão, Marília Mendonça
e vários outros aproveitam o espaço não só para levantar fundos para
instituições de caridade, mas também para fazer merchan nas apresentações, com
cachês variados.
Por enquanto, o resultado é positivo, tanto no faturamento
quanto na audiência. Mas não existe garantia de que esses shows continuarão
interessando tão fortes no longo prazo.
Claudio Lins, artista e um dos idealizadores das lives de MPB
Ziriguidum em Casa (que reuniu nomes como Leila Pinheiro, Jane Duboc, Baby do
Brasil, Ivan Lins e Marcos Valle), explica que o lucro também só é garantido
para nomes muito famosos. "Mesmo que alguns artistas consigam monetizar
com lives (só os mais populares realmente conseguem), toda a cadeia produtiva
de um show está comprometida. Dificilmente a live caseira emprega tanta gente,
como bilheteiros, faxineiros, contrarregras, técnicos de luz e som, camareiros,
etc", lista.
Julio Quatrucci, da 74, comenta que artistas menores não têm
como manter o mesmo patamar dos sertanejos nesse nicho. "Esse é um formato
que não se sustenta. Ninguém tá reinventando a roda. Os sertanejos conseguem
contratos grandes, mas os menores não. As lives têm dado certo também porque
parte da população está enfiada em casa no momento. E o sucesso é porque as
lives são gratuitas. O show não será substituído por isso, porque é uma
experiência e tem confraternização. Jamais será substituído", aposta.
Elieser Lemos, por outro lado, confia que os eventos online
integrarão mais uma fonte de rendimento aos artistas no futuro. "Talvez a
grande novidade ainda não foi nem inventada. Mas, se fosse apostar, diria que a
explosão dos eventos online será uma dessas novidades. Não acho difícil, num
futuro próximo, termos grandes festivais em grandes palcos, porém, sem público.
E sim, todos online assistindo. Me lembra um pouco a época do cinema drive-in.
Cada um na sua bolha, seja ela um carro, ou agora, a própria sala de
casa", aposta.
Na área de composições o impacto é menor. O setor, que hoje
funciona também como uma indústria de criação para artistas de sertanejo e
forró, mantém as atividades. Mas sem shows, a demanda pela liberação de músicas
também cai. "Afeta tudo. Ao mesmo tempo que nossa criatividade continua,
todo mundo depende dos shows. Não tem jeito", avalia Henrique Casttro,
autor de hits como Liberdade Provisória (Henrique e Juliano), Propaganda (Jorge
e Mateus), Na Cama Que Eu Paguei (Zé Neto e Cristiano), Sonhei Que Tava Me
Casando (Wesley Safadão), Aham (Lucas Lucco) e Namorada Reserva (Hugo e
Guilherme).
Steve Altit acredita que a consequência da crise será cruel e
o setor musical amargará falências e fechamento de portas. "Penso que o
setor sofrerá demais e apenas os capacitados saberão ou terão condições de
nadar na crise. Não haverá espaço para erros. Profissionalismo será a palavra
mágica para permanecer vivo no show business nacional e internacional",
determina o empresário. "Algumas casas de espetáculos fecharão, portanto
menos palcos. Acho que os shows de prefeitura, comemorações em cidades, que são
nichos importantes para artistas populares também será dramaticamente
afetado".
FONTE:HELDER MALDONADO DO R7
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