Ministro da Justiça e da Segurança Pública fez pronunciamento
e declarou que Bolsonaro o informou que haveria uma "interferência
política" na PF
O ministro da Justiça e da Segurança Pública Sergio Moro
pediu demissão do governo Jair Bolsonaro nesta sexta-feira (24). A decisão do
mais popular auxiliar do presidente de desembarcar do Executivo foi antecipada
pelo site de VEJA. Nos últimos meses, Moro vinha acumulando uma série de
desgastes com o chefe, mas a gota d’água foi a exoneração do diretor-geral da
Polícia Federal, Maurício Valeixo, comunicada a Moro ontem. Conforme revelou
VEJA, em uma tensa reunião na manhã desta quinta, o agora ex-chefe da Justiça
disse que se Valeixo deixasse o cargo, ele também pularia fora do governo.
“Tenho que preservar a minha biografia”, disse Moro. “Vou começar o
empacotamento das minhas coisas e providenciar o encaminhamento da minha carta
de demissão”, afirmou.
Segundo Moro declarou nesta sexta, Bolsonaro o informou que
haveria uma “interferência política” na Polícia Federal e que ele, como
presidente, queria ter acesso a relatórios de inteligência de investigações e
um canal direto com os policiais federais. “Não entendi apropriado”, disse o
ex-juiz da Lava-Jato. Moro relatou ainda que Bolsonaro tinha “preocupações” com
inquéritos em curso no Supremo Tribunal Federal (STF) e que, por isso, desejava
a troca da PF. Em um desabafo, Moro disse que soube pelo Diário Oficial da
demissão de Maurício Valeixo na cúpula da Polícia Federal e que o episódio
evidenciou que “há uma sinalização de que o presidente me quer fora do cargo”.
Moro convocou um pronunciamento no próprio Ministério da
Justiça para comunicar sua decisão de deixar o cargo. A fala do ministro foi
acompanhada por nomes de peso da equipe do ex-juiz da Lava-jato, como Luiz
Pontel, secretário-executivo, Fabiano Bordignon, chefe do Departamento
Penitenciário Nacional (Depen), Luiz Roberto Beggiora, secretário nacional de
Políticas sobre Drogas (Senad), e Flávia Bianco, chefe de gabinete de Moro.
Segundo o agora ex-ministro, a partir do segundo semestre de
2019, Bolsonaro passou a insistir na troca na cúpula da PF. Moro afirmou que
cobrava explicações do presidente, como a falta de um erro grave ou problemas
de desempenho, que justificasse a troca de Maurício Valeixo. “Não é uma questão
do nome. Tem outros bons nomes para assumir o cargo de diretor-geral da Polícia
Federal. O grande problema dessa troca é que haveria uma violação da promessa
que me foi feita de que eu teria carta branca (…) e estaria havendo uma
interferência política na Polícia Federal”, explicou. O agora ex-ministro da
Justiça disse que Bolsonaro o informou que, além do diretor-geral da PF, também
seriam trocados superintendentes, como o do Rio e o de Pernambuco. “Cada vez
mais me veio a sinalização de que seria um grande equivoco de realizar essa
substituição”, afirmou. “O problema é permitir que seja feita a interferência
política na Polícia Federal”, resumiu.
Em seu discurso, Moro lembrou que, desde a época em que era
juiz, sempre temeu a interferência de governo em atividades de investigação,
como a troca, sem causa, do diretor-geral da Polícia Federal. Moro lembrou que,
ao ser convidado para o governo, Bolsonaro o prometeu “carta branca” para
indicar cargos como o da PF. “A ideia era buscar num nível de formulador de
políticas públicas aprofundar o combate à corrupção e levar maior efetividade
no combate à criminalidade organizada”, disse hoje Moro. “O presidente
concordou com esse compromisso (…). Me via, estando no governo, como também um
garantidor da lei e da imparcialidade e da autonomia dessas instituições”,
completou ele.
As movimentações para trocar o comando da Polícia Federal e,
por tabela, desgastar o ministro Sergio Moro ocorreram no momento em que acaba
de ser aberto inquérito para investigar de quem partiu o financiamento do ato
antidemocrático de domingo, 19, quando o presidente Bolsonaro discursou para
manifestantes que pediam a volta da ditadura. As investigações do inquérito,
incluindo contra dois parlamentares apontados como suspeitos pelo
procurador-geral Augusto Aras, serão tocadas pela Polícia Federal, que hoje
está no centro do tiroteio entre o presidente e o ministro.
Apesar de não fazer críticas públicas à condução do governo e
ao escanteamento de praticamente todas as pautas de enfrentamento ao crime
organizado – o pacote anticrime, por exemplo, foi completamente desfigurado
pelo Congresso e temas relacionados ao combate à corrupção perderam espaço para
pautas econômicas e, mais recentemente, para políticas de combate ao novo
coronavírus –, Sergio Moro avaliava que parte dos eleitores que levaram Jair
Bolsonaro a sair vitorioso nas eleições de 2018 haviam se dividido entre
lavajatistas e bolsonaristas era justificado porque o “presidente tinha que
assumir mais forte a bandeira anticorrupção”.
FONTE: VEJA
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