Coberturas em nome de filho de Paulo Melo fica em prédio em Miami, nos Estados Unidos — Foto: Reprodução
Procuradores dizem que Mário Peixoto e Arthur Soares
repassaram imóveis a pessoas ligadas ao ex-presidente da Alerj. Suspeitam é de
propina para que suas empresas se mantivessem como contratadas do governo.
Por Arthur Guimarães, Leslie Leitão e Marco Antônio Martins,
G1 Rio
Investigadores da Lava Jato no Rio afirmam que os empresários
Mário Peixoto e Arthur Soares "presentearam", em julho de 2016, o
ex-presidente da Assembleia Legislativa (Alerj) Paulo Melo com duas coberturas
em um mesmo prédio, em Miami, nos Estados Unidos.
A informação consta na investigação da Operação Favorito,
deflagrada nesta quinta-feira (14), e que levou à prisão Peixoto e Melo –
Arthur Soares, conhecido como "Rei Arthur" entre os empresários de
transportes no Rio, já era foragido por outro mandado de prisão.
O G1 obteve as fotos das coberturas. Os investigadores
suspeitam que os apartamentos representem o pagamento de vantagens indevidas de
Mário Peixoto para Paulo Melo como uma "forma de garantir sua hegemonia
nos contratos de gestão da organização social IDR, que possuía contratos com o
governo estadual.
De acordo com as investigações, Mário Peixoto é dono da
offshore MCK Holdings, nas Ilhas Virgens Britânicas.
A offshore tem duas empresas na Flórida em que o procurador é
o vereador Eduardo Veiga (PSB), de Saquarema, na Região dos Lagos, e integrante
da base eleitoral de Paulo Melo, segundo o Ministério Público Federal.
Essas empresas com sede nos Estados Unidos compraram as duas
coberturas em 2016. O dinheiro utilizado na transação é da offshore. Um dos
apartamentos custou US$ 1 milhão.
Os investigadores da PF e do MPF descobriram que a MCK é a
mesma offshore de que Arthur Soares retirou dinheiro para pagar propina ao
ex-governador Sérgio Cabral e para comprar votos para a escolha do Rio para
sediar as Olimpíadas de 2016.
Entre fevereiro e julho daquele ano, Paulo Melo, seu filho
Iury, o vereador Eduardo Veiga e Mário Peixoto estiveram juntos em Miami.
Chamou a atenção dos investigadores que, em julho, o quarteto
viajou junto no dia 5 em um mesmo voo. Todos retornaram em datas diferentes,
entre os dias 10 e 18 de julho.
Para os procuradores, eles foram ajustar a aquisição dos
imóveis, o que aconteceu em julho daquele ano.
Em outubro de 2017, pouco mais de um ano depois, a operação
Unfair Play trouxe a público irregularidades praticadas pelo empresário Arthur
Soares e decretou a sua prisão. Naquele mês, o filho de Paulo Melo, Iury,
assumiu o pagamento das prestações das coberturas sem que, segundo os
procuradores, tivesse amparo documental para isso.
No mês seguinte, em novembro, Paulo Melo foi preso pela
primeira vez, na Operação Cadeia Velha.
Nem assim, Mário Peixoto e Arthur Soares ficaram inibidos
pelas investigações, segundo o MPF:
"Vale frisar que todas essas operações financeiras e
empresariais continuaram a ser realizadas entre Mário Peixoto e Arthur Soares
mesmo após a expedição de ordens de prisão preventiva por esse Juízo contra
este último empresário, tornada pública com a deflagração da “Operação Unfair
Play”, em 05 de outubro de 2017."
Com Arthur Soares foragido, a troca de emails entre Mário
Peixoto e o "Rei Arthur" se manteve sem interrupções, pelo menos, até
2019. Algumas mensagens tratam de empréstimos entre a offshore e a empresa nos
Estados Unidos.
Os investigadores suspeitam que esse pagamento de vantagens
indevidas de Mário Peixoto para Paulo Melo foi uma "forma de garantir sua
hegemonia nos contratos de gestão da organização social IDR", que possuía
contratos com o governo estadual.
"Essas circunstâncias revelam o absoluto desprezo pela
ordem pública e pela aplicação da lei penal por parte dos representados,
evidenciando o fundado receio de que Mário Peixoto e Vinícius Peixoto, caso
permaneçam em liberdade, continuem a delinquir, ocultando bens no exterior e
abastecendo financeiramente a organização criminosa investigada"
O que dizem os citados
Em nota, a defesa de Paulo Melo disse:
"A prisão do ex deputado Paulo Melo mostra-se
absolutamente descabida e atemporal, uma vez que o inquérito policial que apura
possíveis condutas criminosas de Mário Peixoto e supostas compras super
faturadas para montagem de hospital de campanha, em absolutamente nada tem a
ver com o ex deputado Paulo Melo que encontra-se preso desde novembro de 2017
tendo por questões da pandemia e por ser idoso e hipertenso sido impedido de
voltar ao cárcere desde 20 de março de 2020.
A fundamentação da decisão que decretou a prisão menciona a
amizade do ex deputado com Mário Peixoto, o que jamais foi negado pelo mesmo,
sem que, contudo, tenham mantido qualquer contato nesses dois anos e seis meses
em que Paulo Melo esteve preso.
Imperioso destacar que durante os 4 anos em que o ex deputado
Paulo Melo fora presidente da Alerj e um ano como secretário de governo jamais
realizou contratação das empresas do Sr. Mário Peixoto."
FONTE:G1
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