“As pessoas que ainda não acreditam só vão acreditar quando chegar em suas casas. É muito difícil a gente falar isso, mas é a verdade”. A declaração é da secretária de Saúde de São Fidélis, Janine Palagar, que lamenta o baixo índice de cumprimento da quarentena no município. Segundo a secretária, até a última terça-feira (12), menos de 50% da população estava respeitando as recomendações de isolamento social, bem abaixo dos 70% tidos como ideais. Com 38.669 habitantes pela estimativa de 2019 do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), São Fidélis tinha, até a manhã de sexta (15), 111 casos confirmados de Covid-19, com índice de um caso a cada 348,3 moradores, o maior entre todos os municípios do Norte e Noroeste Fluminense. Destes, 73 pacientes já estavam recuperados, e 32 ainda infectados, além de seis óbitos. Na quarta (13), o comércio foi fechado após ordem judicial.
Para a superintendência de Vigilância em Saúde fidelense,
Hítalla Valentim, a grande quantidade de casos confirmados deve-se às ações de
testagem em massa realizadas pela Prefeitura.
— Eu acho que, realmente, é um número alto comparado aos
municípios vizinhos. Mas, acredito que a gente está com esse número por estar
fazendo a buscativa. Quanto mais você testar, mais vai descobrir. Como é
protocolo, muitos municípios estão testando apenas as pessoas sintomáticas.
Nós, não. A partir do momento em que a gente descobre um caso confirmado, é
feito o teste em todos os contatos diretos deste paciente confirmado, estando
todas essas pessoas sintomáticas ou assintomáticas. Todos são testados. Eu
acredito que, assim, a gente consegue ter esse número maior, abranger melhor,
descobrir e cercar mais rapidamente — afirmou Hítalla.
A secretária Janine Palagar citou como exemplo a primeira
ação feita no distrito de Cambiasca, no último dia 28. A partir dos resultados
das testagens, foi descoberto que estava havendo aumento considerável no número
de casos a partir de pessoas que mantinham contato com trabalhadores e/ou
clientes da feira na Central Estadual de Abastecimento (Ceasa), no distrito de
Ponto de Pergunta, em Itaocara. No dia seguinte, um mapeamento foi realizado na
Ceasa junto à Prefeitura itaocarense.
— Costumo dizer que nós estamos pecando pelo excesso, porque
esse não é o protocolo. Mas, se a gente conseguir cercar o vírus, como tem
conseguido, graças a Deus, a gente vai no foco. Detectamos todos os contatos
diretos e indiretos, e conseguimos, mais ou menos, ter o controle dessa
situação — pontuou a secretária de Saúde.
Atualmente, São Fidélis conta com cinco leitos equipados
exclusivamente para tratamento de pacientes infectados pelo novo coronavírus,
todos no Hospital Armando Vidal, além de 10 leitos de Unidade de Tratamento
Intensivo (UTI). A Prefeitura pretende inaugurar neste mês a extensão do Centro
de Operações de Emergência da Covid-19, montado em um espaço cedido pelo Clube
dos Passarinheiros no bairro Vila dos Coroados.
— Até o final de maio, teremos mais 20 leitos prontinhos, com
respiradores, com tudo. Os nossos leitos de Covid-19 não estão nem 10%
ocupados, graças a Deus — frisou Janine.
É exatamente na Vila dos Coroados que se encontra o maior
número de pacientes confirmados com o novo-coronavírus, 17, de acordo com o
boletim divulgado na noite de quinta-feira pela Prefeitura. Na zona urbana,
também há confirmações nos seguintes bairros: Penha (15), Centro (14), Barão de
Macaúbas (8), Ipuca (7), Parque Tinola (6), Igualdade (4), São Vicente de Paula
(4), Cristo Rei (3), Jonas de Almeida e Silva (2), Montese (2) e Parque São
José (2). No interior, o distrito de Colônia tem 13 casos confirmados, seguido
por Cambiasca (5), Pureza (3) e as localidades de Rio do Colégio (2), Santa
Rita do Brejinho (1), Angelim (1) e Barro Branco (1).
Na quinta, havia ainda 14 pacientes suspeitos e quatro óbitos
em investigação no município. Entre pacientes monitorados, oito estavam em
isolamento hospitalar, e 34 em isolamento domiciliar. Os casos se resumem
basicamente em pessoas que retornaram recentemente de viagem ao Rio de Janeiro,
familiares e/ou outros com quem estes tiveram contato e profissionais de saúde.
— Acredito que não temos 10 casos de pessoas que não souberam
onde possam ter se infectado, como, por exemplo, provavelmente em um banco ou
supermercado — afirmou na terça a superintendente Hítalla Valentim.
Comércio fechado após decisão judicial
Na noite de quarta-feira, a Prefeitura de São Fidélis voltou
a fechar o comércio por meio do Decreto Municipal 3.852/2020, que prorrogou até
31 de maio as medidas preventivas de enfrentamento à pandemia, entre elas a
obrigação do uso de máscaras em locais públicos. A publicação foi feita dois
dias após o desembargador José Carlos Paes, da 14ª Vara Civel do Tribunal de
Justiça do Estado do Rio de Janeiro, ter determinando a adequação do Decreto
Municipal nº 3.823/2020, de 28 de abril, que havia reaberto o comércio, ao
Decreto Estadual nº 47.068, publicado na última segunda (11). Foi resguardado o
funcionamento apenas das atividades essenciais.
Antes do fechamento do comércio no município pela terceira
vez durante a pandemia, a Folha já tentava entrevista com o prefeito Amarildo
Alcântara (PL), sem êxito. Em nota, a Prefeitura informou ter cumprido a ordem
judicial antes do recebimento da intimação. E ressaltou que a reabertura do
comércio, anteriormente, aconteceu após a Associação Comercial ter apresentados
soluções com nova regulamentação do funcionamento, “que estava sendo bem
executada pelos comerciantes”.
Sobre a possibilidade de lockdown, recomendado no último dia
6 em relatório da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) ao estado do Rio, o poder
público vinculou ao comportamento dos populares: “Tudo depende da população. O
que podemos garantir é que qualquer medida que seja em benefício dos munícipes
será tomada”. A nota cita o fato de São Fidélis ter sido um dos primeiros
municípios da região a iniciar as barreiras sanitárias, em 24 de março.
Na última terça, a secretária de Saúde disse não considerar o
lockdown necessário no momento. “Até pelo número de altas que estamos tendo.
Porém, não deixa de ser uma possibilidade futura. A gente está mensurando, com
uma equipe revendo os casos”, pontuou Janine Palagar.
Só com os serviços essenciais funcionando, movimento caiu
consideravelmente no Centro na quinta-feiraSó com os serviços essenciais
funcionando, movimento caiu consideravelmente no Centro na quinta-feira /
Divulgação/Secom
Pela primeira vez em 239 anos, a Festa de São Fidélis não
aconteceu, com decisão de cancelamento tanto da Prefeitura quanto das paróquias
locais, que realizaram apenas programação interna, com transmissão pela
internet. Segundo a Prefeitura, o dinheiro que seria gasto no evento foi
revertido em cestas básicas para os alunos da rede municipal de ensino,
beneficiando mais de 4 mil famílias. “Não mexemos nos valores da merenda
escolar. Com isso, quando as aulas voltarem, as refeições dos alunos estão
garantidas”, complementa a nota. Não foi passada informação sobre os valores.
A secretária de Saúde garantiu haver Equipamentos de Proteção
Individual (EPI’s) para os profissionais de saúde, mesmo que os casos dobrem,
bem como máscaras para os pacientes em eventual aumento de casos. Há uma
semana, foi iniciada a distribuição de 36 mil kits com máscara e álcool em gel
à população. As informações sobre EPI’s e máscaras foram solicitadas no último
dia 8 pela promotora Maristela Naurath, da 3ª Promotoria de Justiça de Tutela
Coletiva de Campos, que também pediu relatórios técnicos sobre a necessidade, o
planejamento, a forma de implantação e a divulgação das barreiras sanitárias.
No Norte Fluminense, embora a maior média proporcional de
casos confirmados por habitantes seja registrada em São Fidélis, até a manhã de
sexta-feira, outros dois municípios de população consideravelmente maior tinham
quantidade superior de confirmações: Macaé, com 401, e Campos, com 292.
FONTE:FOLHA 1
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