Teste RT-PCR, que identifica quem pode estar transmitindo a
doença, corresponde a apenas 38% dos 11 milhões feitos no Brasil
O Brasil fez mais de 11 milhões de testes de Covid-19 desde o
início da pandemia, mas apenas 38% deles são do tipo RT-PCR – capaz de
identificar se o vírus ainda está ativo no corpo humano –, segundo um
levantamento exclusivo do G1 junto às secretarias estaduais de saúde.
Especialistas ouvidos alertam que a testagem no país não é
eficaz uma vez que no Brasil se fazem mais testes sorológicos – que revelam
quem já teve o vírus – do que exames RT-PCR. É só a partir desse segundo tipo
que é possível identificar as infecções e rastrear contatos.
Testes de Covid-19 no Brasil
O Ministério da Saúde separa os
testes para o novo coronavírus em duas categorias: RT-PCR e sorológicos.
O RT-PCR é o que analisa uma amostra do material genético
coletado na narina e garganta do paciente para detectar a presença ou não do
vírus ativo no organismo dela. Para isso é necessária uma máquina específica de
laboratório, e por isso ele leva mais tempo para ser processado.
Já na categoria de testes sorológicos existem vários tipos de
testes, com metodologias distintas e que podem ou não ser feitos fora dos
laboratórios.
A pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Tatiane
Moraes, explicou que ao se fazer testes sorológicos, "estamos olhando para
o passado". Ela explica que ele não é indicado para controlar a pandemia e
serve como um registro de quem já se infectou.
"Pode ser há um mês atrás, há duas semanas atrás, a
gente não sabe", disse Moraes. "A gente não vê, a gente não
identifica uma política de testagem. Quando a gente fala de política de
testagem – é qual é a prioridade de teste. O tipo de teste e qual a prioridade
por grupo que deve ser testado."
Alta positividade
A taxa de positividade – que compara o número de resultados
positivos para o vírus em relação aos testes realizados no país – dos exames de
Covid-19 segue alta no Brasil. Segundo o Ministério da Saúde, ela está em
32,6%. A recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é que este número
não passe dos 5%.
Para o doutor em microbiologia, Atila Iamarino, não aumentar
a capacidade do país em ampliar o número de testes do tipo RT-PCR no Brasil é
um erro. Segundo ele, há uma maior oferta de novos testes que identificam o
vírus ativo, mais baratos e eficientes que os aplicados no país.
"Apesar do aumento do volume de testes total grande
parte dos novos testes que o Brasil tem feito nos últimos meses são
imunológicos", disse Iamarino.
"Os testes de laboratório seguem numa quantidade
constante desde mais ou menos o meio do final do mês de maio. Esse número
precisa aumentar se a gente quer seguir pra uma reabertura consciente e
controlando a situação daqui pra frente", disse Iamarino.
Testes por estado
O levantamento apresentou também como é a distribuição dos
dois tipos de testes no país, por estado. São Paulo aparece no topo da lista e,
de março até agosto foram feitos 3 milhões de testes. No estado, 61% dos exames
foram do tipo RT-PCR, menos de 30% foram realizados na rede pública.
O secretário de Saúde de São Paulo, Jean Gorinchteyn, disse
que rastrear casos de coronavírus no Brasil com testes RT-PCR "não é uma
medida cabível" no Brasil. Segundo ele, a medida é eficaz em países com
menor população.
"Nós temos que fazer inquéritos sorológicos para
entendermos a dinâmica da epidemia e identificarmos através daqueles indivíduos
com RT-PCR apenas aqueles que sejam sintomáticos mesmo que leves", disse
Gorinchteyn.
A região sudeste é a que mais realizou testes para Covid-19
desde o início da pandemia. Foram 4.752.981 diagnósticos realizados, o que
significa que a cada dez testes realizados no Brasil, quatro estão nesta
região.
Em segundo lugar está o nordeste, que fez cerca de 24% de
todos os testes para coronavírus no país. Foram 2.660.020, segundo as
secretarias estaduais de Saúde.
O Ministério da Saúde informou em um comunicado que vem
realizando ações para ampliar o diagnóstico da Covid-19 e que o Brasil estendeu
a testagem para todos os pacientes com casos leves da doença no Sistema Único
de Saúde (SUS).
O Ministério disse ainda que a média diária de exames
realizados passou de 1.148 em março, para 22.711 em agosto.
Fonte: G1
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