O prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB) morreu neste domingo, aos 41 anos. Covas foi diagnosticado com câncer na cárdia, uma válvula entre o esôfago e o estômago em outubro de 2019 e vinha lutando contra a doença desde então. Ele estava internado no Hospital Sírio-Libanês, na capital paulista, desde o último dia 2, quando pediu licença da prefeitura.
Na mais recente internação, Covas voltou ao hospital
queixando-se de dores e fraqueza. Os médicos descobriram que ele tinha uma
hemorragia no estômago, no lugar de um dos tumores, o que causou anemia, e o
colocaram por dois dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Segundo médicos,
o prefeito sempre mostrou otimismo com seu tratamento.
A ligação de Covas com a política remonta à sua adolescência.
Antes mesmo de ingressar na graduação, Bruno Covas conseguiu um estágio
privilegiado no mundo da política. Aos 15 anos, deixou a casa dos pais em
Santos para viver no Palácio dos Bandeirantes, junto com o avô Mário Covas, que
assumira, naquele ano de 1995, o governo de São Paulo. Foram seis anos como espectador
privilegiado das decisões sobre os rumos do estado mais rico do país.
Bruno se diferenciava dos visitantes do avô no palácio, não
só pela idade, mas também pelo visual. Com cabelo comprido, o neto do
governador quase sempre vestia camisas de bandas de rock, paixão que carregou
pela vida. Apesar de não adotar o traje típico dos políticos, naquela época já
não escondia o desejo de seguir a carreira do avô.
Ainda criança, havia feito a carteirinha do “clubes dos
tucaninhos”. Aos 17 anos, se filiou ao PSDB. Mário Covas alertava que era
preciso estudar. O neto seguiu o conselho e fez duas faculdades: direito na USP
e economia na PUC-SP. As lembranças de frases e feitos do avô seriam constantes
ao longo da trajetória de Covas.
O aspirante a político formou o seu grupo logo nos primeiros anos de PSDB. Amigos da época da juventude tucana, como os secretários Orlando Faria (Habitação) e Alexandre Modonezi (Subprefeituras), o acompanhariam pelo restante da carreira.
Depois de acompanhar o calvário do avô, que morreu após
complicações de um câncer na bexiga em 2001, Bruno voltou para Santos. Na
cidade natal, disputou a sua primeira eleição como vice da chapa para
prefeitura da cidade encabeçada por Raul Christiano (PSDB). Acabaram em quarto
lugar.
Em 2006, resolveu tentar um voo solo e se candidatou a
deputado estadual. Foi eleito com 122,3 mil votos. Assumiu o mandato aos 20
anos. Na Assembleia Legislativa teve uma atuação discreta. Ao contrário do avô,
não se destacava como um grande orador. Tímido, se consolidou mais como
político de bastidores.
Impulsionado pelo sobrenome, não teve dificuldade para se
reeleger em 2010. Foi o mais votado, com 239 mil votos. No ano seguinte,
Geraldo Alckmin, o sucessor de seu avô no governo paulista, o convidou para
assumir a Secretaria Estadual do Meio Ambiente. No posto, Bruno conseguiu
consolidar o seu grupo político e passou a exercer papel de destaque no
controle do diretório paulistano do PSDB.
Em 2014, decidiu que era hora de se arriscar em Brasília. Foi
o quarto deputado federal paulista mais votado, com 352.708 votos. Votou a
favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff. No mesmo ano, chegou a se
inscrever para disputar as prévias tucanas que escolheriam o candidato a
prefeito de São Paulo. No meio do processo, acabou desistindo para apoiar João
Doria, que após se sagrar vitorioso no duelo interno do PSDB o escolheu para
vice da chapa
Doria foi eleito prefeito de São Paulo no primeiro turno e
nomeou Bruno secretário das Subprefeituras. Dez meses depois, diante das
críticas sobre o serviço de zeladoria da cidade, tirou o vice do posto e o
transferiu para a Secretaria de Governo, pasta com função exclusivamente de
articulação política. A troca provocou tensão entre os grupos do prefeito e do
vice.
Foi no período como vice-prefeito que Bruno promoveu uma
mudança radical em sua vida. Abandonou o sedentarismo, passou a controlar a
alimentação, adotou uma rotina rigorosa de exercício. Perdeu 18 quilos. Também
mudou o visual. Deixou os ternos de lado e passou a desfilar de calça jeans,
camisetas e sapatênis. Assumiu a calvície raspando o cabelo e deixou a barba
crescer.
Seis meses depois de ser tirado da Secretaria das
Subprefeituras, Bruno herdou a prefeitura de Doria, que renunciou ao comando da
cidade para concorrer ao governo do estado. Bruno assumiu o mesmo cargo que
havia sido ocupado por seu avô entre 1983 e 1985.
À frente da maior cidade do país, adotou uma linha discreta,
bem diferente do estilo espalhafatoso do antecessor. Teve dificuldade para
impor uma marca. Em outubro de 2019, descobriu o câncer na cárdia, válvula
entre o esôfago e o estômago. Fez quimioterapia e imunoterapia.
Por sua decisão, a prefeitura divulgou à imprensa todas as
fases do tratamento. Ele chegou a se licenciar do cargo para os tratamentos,
mas conseguiu manter o plano de se candidatar à reeleição em 2020. Quando tinha
que se internar para fazer as sessões de tratamento, Covas despachava do
hospital. Participava de reuniões virtuais e usava um certificado digital num
tablet para poder assinar atos e decretos.
Antes de entrar na campanha, teve que administrar a pandemia
do novo coronavírus. As medidas adotadas pela prefeitura, uma contraposição à
postura negacionista do governo Jair Bolsonaro, deram projeção a Bruno Covas.
Em março de 2020, o prefeito chegou a se mudar para morar no gabinete da
prefeitura, no centro de São Paulo.
Na disputa eleitoral do ano passado, o tucano explorou tanto
o enfrentamento da pandemia como a luta contra o câncer. Com uma ampla aliança
de dez partidos, conseguiu tempo no horário eleitoral e desbancou a liderança
inicial de Celso Russomanno (Republicanos).
Na campanha, adotou um lema que o acompanharia também ao longo de todo o tratamento contra o câncer: "força, foco e fé". Embora ainda estivesse sendo tratado, o prefeito foi autorizado pelos médicos a participar de eventos de campanha, caminhadas na rua e encontros com eleitores em diversas regiões da cidade.
O tucano foi ao segundo turno contra Guilherme Boulos (PSOL)
e se elegeu sem dificuldade, com 59,38% dos votos válidos. A vitória alçou
Bruno Covas ao posto de liderança política nacional.
Dentro do PSDB, o prefeito nunca escondeu que se opunha à
ideia do atual do governador de São Paulo de levar o partido para a direita e
defendia o resgate das raízes sociais-democratas da legenda. Em 2018, o neto de
Mário Covas, ao contrário de Doria, se recusou a apoiar Jair Bolsonaro.
Depois da melhora que o levou a disputar a prefeitura, o
prefeito descobriu um novo tumor no fígado em 19 de fevereiro deste ano. Dois
meses depois, em 16 de abril, os médicos descobrem novos pontos de doença no
fígado e nos ossos. O tratamento é ajustado com quimioterapia e imunoterapia.
Durante essa internação, a equipe médica identificou acúmulo
de líquido na caixa torácica. Recuperado, ele pode ir para casa, mas, em 2 de
maio, ele pediu licença da prefeitura para se dedicar ao tratamento.
Covas deixa o filho Thomaz, de 15 anos, fruto do casamento de
dez anos com a economista Karen Ichiba de Oliveira, encerrado em 2014.
FONTE:EXTRA
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