A um ano das eleições presidenciais, o presidente Jair Bolsonaro já deixou claro que é candidato, mas ainda segue sem partido. Desde a desfiliação do PSL, em 2019, Bolsonaro promoveu e foi alvo de diversas investidas. Tentou fundar o Aliança Brasil; entabulou conversas com o PRTB, do vice-presidente Hamilton Mourão; chegou a ser cogitado para o Patriota, ao qual o senador Flávio Bolsonaro (RJ) se filiou. Mas restrições da legislação eleitoral e dificuldades partidárias impediram o presidente de se vincular a uma legenda. Um ponto importante na negociação é encontrar uma sigla na qual o presidente e candidato à reeleição tenha total comando. E as conversas continuam.
Recentemente,
Bolsonaro tem flertado com o PTB, de seu aliado Roberto Jefferson, também sob
intermédio de Flávio Bolsonaro. Ao Correio, a presidente interina Graciela
Nienov, que está à frente do partido após a prisão do ex-deputado, afirma que a
disposição da legenda é total. Ela conta que, em reunião na semana passada,
líderes regionais da Executiva Nacional e presidentes estaduais do partido
consideraram a vinda de Bolsonaro “100% aprovada”.
Nienov
relata que se comunica com “Bob”, como é conhecido Roberto Jefferson, por meio
de cartas já que ele está preso. É por essas correspondências que ela também
recebe orientações sobre o partido. “Bolsonaro já está há muito tempo conosco.
É só o retorno dele para casa”, comenta Nienov.
Para mostrar
que a sigla está preparada para recebê-lo, uma comitiva do grupo da Executiva
petebista pretende entregar pessoalmente ao presidente no Palácio do Planalto
uma carta de apoio que reúne as assinaturas do diretório nacional e presidente
regionais. “A carta fala do nosso apoio máximo e da garantia de que estamos
alinhados e trabalhando com ele. Destacamos que aqui é a casa do conservador e
estamos preparados para recebê-lo. Reafirma o que Jefferson vem falando e dá
segurança para ele vir. Que ele terá espaço. O partido também está aberto aos
filhos”, relata a presidente interina do PTB.
Nienov
acredita que o presidente tomará a decisão ainda este ano, embora o chefe do
Executivo não tenha dado a ela previsão de resposta. Ele tem até abril do
próximo ano para sinalizar. A interina disse que Bolsonaro não impôs condições
para a filiação, mas ofereceu a escolha dos candidatos ao Senado, onde o chefe
do Executivo enfrenta dificuldades, como por exemplo, a intricada indicação de
André Mendonça para o cargo de ministro na Supremo Tribunal Federal (STF).
“Vamos discutir tudo, a escolha de candidatos majoritários estado por estado,
onde a gente tem mais gente para colocar ou ele. Nada será feito sozinho. Tudo
em concordância”.
A
expectativa é otimista, com previsão de festa na sede do partido ainda este
mês. “Estamos ansiosos para a vinda dele. Na torcida, e se Deus quiser, vamos
fazer a festa de filiação dele no dia 14”.
De volta ao
PP
Segundo
aliados do presidente, as conversas com o PP também seguem de pé. Jogam a favor
do partido o fato de Bolsonaro já ter sido membro do PP no passado. Além disso,
Bolsonaro tem dois aliados próximos, com grande influência no partido: Arthur
Lira, presidente da Câmara dos Deputados, e Ciro Nogueira, ministro-chefe da
Casa Civil. Ao longo de 2020, Lira e Nogueira trabalharam para que o governo
estreitar laços com o Centrão no Parlamento. A aliança teve como fim aprovar
matérias de interesse do Planalto e blindar o mandatário de qualquer processo
de impeachment.
O presidente
chegou a afirmar que sua filiação ao Progressistas é uma “possibilidade”.
Destacou, ainda, que gostaria de ir para um partido sobre o qual tivesse
domínio, mas disse que isso “está difícil”. “Tentei e estou tentando um partido
que eu possa chamar de meu e possa, realmente, se for disputar a Presidência,
ter o domínio do partido. Está difícil, quase impossível. Então, o PP passa a
ser uma possibilidade de filiação nossa”, relatou o presidente.
Para a
advogada constitucionalista Vera Chemin, a filiação de Bolsonaro a alguma sigla
está diretamente vinculada ao desempenho eleitoral em 2022. “O PP reúne,
atualmente, a maior possibilidade de filiação de Bolsonaro, até para aumentar a
sua presença política em Estados da Região Nordeste, estratégia crucial para a
concretização de sua reeleição”, acredita a especialista. “Ainda assim, o PTB
constituiria a possibilidade mais concreta da filiação de Bolsonaro, em razão
da sua proximidade com Roberto Jefferson. O que importa para Bolsonaro é a
influência política, isto é, o poder de força de cada um deles, para angariar
votos em 2022, em seus respectivos estados de origem”.
Raquel
Borsoi, analista de risco político da Dharma Politics, também menciona os
ativos do PP para atrair o presidente. Ela lembra que o partido tem um
posicionamento estratégico no Congresso, acesso a verbas públicas e espaço de
poder dentro do Executivo. Mas ressalta que a filiação de Bolsonaro não
representa necessariamente ganho político ao Centrão. “Se Bolsonaro não for
reeleito, o partido vai ter que remar para se acomodar com o que vencer. Se o
PP se torna um partido ‘bolsonarista’, fecha algumas janelas de oportunidade”,
descreve a analista.
“Já o PTB
vem tentando criar espaço de interlocução. Tem Roberto Jefferson que reinventa
uma persona radical, extremamente alinhada ao presidente, pró-armamento e
pautas reacionárias. Esse seria um espaço para o presidente continuar sua
lógica narrativa focada na atual base de apoio”, acredita.
Danilo
Morais dos Santos, professor da pós-graduação do Ibmec-DF, vê mais entraves.
Acredita que a dificuldade de filiação de Bolsonaro é sintomática de sua
postura política. “Qualquer presidente da República teria tapete vermelho em
qualquer legenda de seu campo político. Mas não o Bolsonaro. Isso porque seu
projeto é, antes de tudo, autoritário e personalista e, justo por isso,
enfrenta muita dificuldade para se enraizar partidariamente”, aponta.
Fonte:
Correio Braziliense
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