Baixada Campista se transforma em Polo de Energia Solar; ao todo, 44 fábricas já instalaram ou estão em processo de instalação de usinas solares
Quem passa pelas ruas simples da Baixada Campista pode não imaginar que o futuro já se faz presente na região – ou mais precisamente, em cima dos telhados das cerâmicas. O local reúne a maioria das 44 usinas solares em fábricas de tijolos – 37% do setor -, o que faz da Baixada o novo polo de energia solar da cidade. Números que aumentam em meio às incertezas da crise hídrica e energética: em cinco anos, a quantidade de instalações cresceu mais de 25 vezes em Campos, tornando o município no segundo maior parque de usinas solares de todo o estado, de acordo com um levantamento feito pela Firjan a partir de dados obtidos via Lei de Acesso à Informação.
Um dos mais
recentes proprietários de placas solares é Paulo Roberto Souza Ribeiro,
presidente do Sindicato dos Ceramistas de Campos. A cerâmica instalada em
Saturnino Braga passou a se alimentar de luz solar a partir de um
financiamento, por meio do qual trocou o valor médio pago na conta de luz pelas
prestações da instalação da usina. Quando concluir o pagamento, o custo da
energia – que segundo cálculos da Firjan, pode representar até 40% do custo
mensal de produção para algumas empresas – chegará a valores irrisórios: cerca
de 95% menor do que o atual, de acordo com presidente do sindicato.
“As
primeiras placas em cerâmicas começaram a ser instaladas há cerca de três anos,
mas os sucessivos aumentos na conta de luz, somada à crise energética, deram um
empurrão a mais a essa iniciativa. E isso se tornou fundamental na busca por
competitividade. Tanto que das 119 cerâmicas em Campos, 36 já estão com energia
solar e outras 8 em processo de instalação. Sem contar o próprio sindicato, que
também conta com essa alternativa”, afirma Paulo Roberto.
Campos:
segundo maior parque solar do estado
O estado do
Rio ocupa a sétima posição no ranking nacional – liderado por Minas Gerais -,
com conexões presentes em todos os 92 municípios fluminenses. E Campos se
destaca com o segundo maior parque de usinas solares do estado, atrás apenas da
capital: são 2.811 pontos de geração distribuída via luz solar – termo
utilizado para designar quem produz energia elétrica no local de consumo ou
próximo a ele -, contra 6.332 no Rio de Janeiro. Além de Campos, Itaperuna é o
quarto com mais consumidores-geradores, e Macaé, o sexto.
“Toda a
região, por ser em grande parte uma planície, possui um grande potencial de exploração
não só da energia solar, como também eólica. Essas iniciativas se somam às
construções de termelétricas e a outros projetos em estudo pelo Porto do Açu,
envolvendo fazendas eólicas offshore e plantas de hidrogênio que, ao lado do
petróleo, poderão transformar a região a Capital da Energia do país”, afirma o
presidente da Firjan Norte Fluminense, Francisco Roberto de Siqueira.
A
especialista em Estudos Econômicos da Firjan, Tatiana Lauria, lista ainda uma
série de benefícios não só por quem adota esse tipo de energia, como para todo
o sistema elétrico do país.
“O primeiro
benefício direto é ter uma energia mais estável e com maior confiabilidade,
reduzindo os impactos das oscilações da rede. Além, claro, a economia, que para
alguns setores industriais pode chegar de 20 a 30%. O consumidor ainda fica
mais protegido da inflação, pois reduz o impacto dos reajustes tarifários das
distribuidoras na sua conta de luz. Além disso, o micro e o mini gerador
possuem isenção do ICMS para a parcela da tarifa até o limite da energia que
foi injetada na rede. Sem contar os benefícios para todo o sistema elétrico,
diminuindo a necessidade de novos investimentos na rede, o que reduz os custos
de infraestrutura. Somam-se a isso os efeitos positivos por se tratar de uma
energia limpa, com menores prejuízos à natureza”, pontuou Tatiana.
Medidas
contra a crise hídrica e energética
Atualmente,
o Senado discute a aprovação do Marco Regulatório da Energia Solar, medida que
vai definir as regras do setor, criando um ambiente com maior segurança
regulatória e mantendo o desconto sobre a tarifa do uso do fio para quem já tem
o sistema até 2045. Para os novos, a cobrança das taxas será gradativa, a
partir de 2023 e até 2029, quando todos os encargos deverão ser integralmente pagos.
Com isso,
mantém-se a competitividade da energia solar, criando um ambiente de transição
mais equilibrado e com estímulo ao crescimento das vendas. Dados da Associação
Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar) apontam que o número de
instalação de painéis solares aumentou 70% no país no ano passado, em
comparação com 2019. Ainda segundo a Absolar, o Brasil já o 14º maior gerador
de energia solar do mundo: o conjunto de sistema fotovoltaico já representa
mais de 70% da potência da usina hidrelétrica de Itaipu, a segunda maior do
mundo e a maior da América Latina.
Em setembro,
a Firjan e a Fiemg (Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais)
divulgaram uma nota conjunta com 14 propostas para amenizar os efeitos
provocados pela crise hídrica, considerada a maior dos últimos 91 anos. Entre
elas estão iniciativas imediatas capazes de atenuar a crise, como melhorias nas
condições de financiamento das linhas de crédito do BNDES dedicadas a ações de
eficiência energética e, em especial, a aquisição de equipamentos para a
autoprodução.
As
federações temem impactos justamente num momento de retomada econômica, e em
especial no fim do ano, quando a produção – e, consequentemente, o consumo de
energia – chegam a patamares ainda mais elevados. De acordo com um estudo da
Firjan, com base em dados de janeiro a outubro do ano passado, o estado do Rio
continua tendo, disparado, a maior tarifa de energia elétrica para o setor
industrial entre todos os estados da federação. Segundo dados da ANEEL, são, em
média, R$ 1041,16 por hora de megawatt (MWh), enquanto o segundo lugar, por
exemplo, que é Mato Grosso, que tem média de R$ 878,38 por MWh.
FONTE:TERCEIRA
VIA
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