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17/11/2021

MORTE DE RAPAZ: MÃE LUTA POR JUSTIÇA E MÉDICOS DE CAMPOS DOS GOYTACAZES-RJ SERÃO JULGADOS

Campos 24 Horas mostra balanço de caso de suposto erro médico. Fernanda Chagas e Ministério Público conseguiram provas contra médicos que, agora, vão a júri popular

 


Desde que seu filho, Fernando Iuri Chagas Rangel, 19 anos, morreu após complicações neurológicas decorrentes de anestesia em cirurgia eletiva em um hospital particular de Campos, Fernanda Gomes Chagas, 45 anos, luta para que os médicos acusados de terem agido com negligência sejam julgados. A morte ocorreu em 2013. Na semana passada, o juiz da 1ª Vara Criminal de Campos mandou a júri popular os seguintes médicos Paulo Cesar Mota Rocha (cirurgião); Luís Bernardo Vital Bogado (anestesista) e Hugo Manhães Areas. Também foi denunciado o médico Rocklane Viana Areas, mas, em relação a este quarto médico, houve a suspensão condicional do processo. Após provas iniciais coletadas através da luta de Fernanda e, em seguida, outras obtidas em apuração do Ministério Público (MPRJ), através do Promotor de Investigação Penal, Fabiano Rangel (foto acima), houve apresentação de denuncia dos médicos à Justiça. No início da apuração do caso, o Campos 24 Horas ouviu a mãe a respeito de sua luta para reunir provas contra os médicos, assim como foram detalhados à Justiça os supostos erros no ato da cirurgia do rapaz.  

"Diante de todas essas provas, não há dúvidas de que eles eles tiraram a vida do meu filho. Que eles possam pagar, que tenham o diploma cassado, que sejam punidos. A gente confia que o médico vai nos curar, nos salvar. Nunca mais eu fui a mesma. Eles destruíram a vida de uma mãe – disse, em lágrimas, Fernanda Chagas em entrevista ao Campos 24 Horas.  

COMO ACONTECEU - A mãe de Iuri, Fernanda Gomes Chagas, 45 anos, que na ocasiçao era funcionária da área administrativa da concessionária Águas do Paraíba, falou ao Campos 24 Horas como conseguiu as provas que serviram de base para que os médicos fossem denunciados por crime doloso. Segundo ela, Iuri servia ao Exército e sofreu um acidente de moto. Com fratura na clavícula, recebeu, inicialmente, atendimento no Hospital Ferreira Machado(HFM). Como ele tinha dois planos de saúde (um do Exército e outro da Unimed), foi transferido para um hospital da rede particular, onde foi submetido à uma cirurgia, durante a qual teve sérias complicações, resultando em óbito.  

ERROS - O cirurgião Paulo Cézar Mota da Rocha e o anestesista Luis Bernardo Vital Brasil Bogado foram denunciados por homicídio doloso e falsidade ideológica. O dolo eventual ficou caracterizado pelo fato de os dois terem assumido o risco da morte do rapaz, com a omissão de deveres de cuidado, ao injetarem pesadas drogas sem ofertar oxigênio suplementar e praticando cirurgias e anestesias simultâneas. Os médicos Rocklane Viana Areas e Hugo Manhães Areas foram denunciados por falsidade ideológica.  

No dia do crime, Luis Bernardo aplicou forte medicação anestésica em Fernando Iuri, utilizando-se da associação de Inoval, Dormonid e Ketalar. De acordo com laudo pericial, os três medicamentos, somados ao bloqueio de plexo, podem “causar depressão respiratória isoladamente”, resultando na “potencialização dos seus efeitos em razão da associação feita”, evoluindo-se para uma “parada cardíaca se não estivesse mantido vigilância constante”.  

Vídeo integral da cirurgia revelou que, apesar da previsibilidade quanto à evolução e os efeitos dos remédios que aplicava, o anestesista não agiu de forma a conter os riscos mortais que decorreriam da depressão respiratória advinda da sua ação médica. Luis Bernardo manteve a vítima em respiração espontânea em ar ambiente, sem ofertar aporte suplementar de oxigênio e, principalmente, sem manter vigilância constante e permanente do seu paciente, conforme preconiza resoluções do Conselho Federal de Medicina.  

As imagens revelam que, logo após aplicar a anestesia, Luis Bernardo abandonou a sala cirúrgica, deixando o paciente anestesiado sem qualquer acompanhamento ou providência paliativa. O livro de registros cirúrgicos da enfermagem e os prontuários de outros pacientes revelaram que, no dia do crime, Paulo Cézar e o anestesista programaram e realizaram diversas cirurgias e anestesias simultaneamente, o que é terminantemente proibido pelo CRM e pelo CFM.  

“O risco de depressão respiratória não foi amenizado ou contido por nenhuma outra prática médica, demonstrando não se importar com a vida alheia e unicamente interessado no proveito financeiro das suas três anestesias simultâneas e particulares”, diz a denúncia referindo-se a Luis Bernardo.  

Disparados os alarmes de anormalidades vitais no corpo do paciente, o que era revelado pelo sinais visuais e sonoros do monitor anestésico, Bernardo permaneceu alheio e indiferente ao quadro fisiológico que se instalava na vítima, ficando inerte por mais 6 minutos e 3 segundos, conforme verifica-se no vídeo. 

“Não houve dúvidas, portanto, que o segundo denunciado deixou o paciente entregue à sorte divina, sem adotar providência ou ação, apesar de ser o único garantidor responsável pelo controle dos sinais vitais da vítima”, ressalta a denúncia. Ao todo, o anestesista se manteve fora da sala cirúrgica por mais de 36 minutos, dos 45 minutos de cirurgia, até soar os alarmes dos sinais vitais monitorados.  

Paulo Cézar, por sua vez, era o titular e chefe da equipe cirúrgica, responsável exclusivo pela composição de sua equipe. Durante toda a cirurgia e todo o período que antecedeu a intervenção da equipe por ele chefiada, tinha pleno conhecimento de que o anestesista escolhido realizava três ou quatro anestesias simultâneas.  

De acordo com a denúncia, Paulo decidiu assumir os riscos da sua omissão. Apesar de titular e chefe de uma equipe, também realizava cirurgias simultâneas, previamente agendadas e eletivas. Paulo deixou de suspender o ato ou de convocar o anestesista de plantão de forma a substituir o profissional de sua escolha, que insistia em se manter fora da sala cirúrgica.  

As agendas das cirurgias, todas programadas e eletivas, registram que os dois médicos trabalharam em diferentes salas de cirurgia até as 20 h do dia do crime. Paulo realizou dez cirurgias; e Bernardo, dezoito. Ambos atuaram em várias cirurgias simultâneas, sem qualquer indicativo de urgência ou emergência. A realização de anestesias simultâneas é considerada prática atentatória à ética médica, por comprometer seriamente a segurança do paciente.  

Ao final do procedimento, os dois escamotearam as informações reais do procedimento cirúrgico, registrando no prontuário médico dados e informações que não condiziam com a verdade. Junto com Paulo e Bernardo, os outros dois denunciados omitiram, no prontuário médico, declarações que dele deveriam constar.  

“Igualmente inserindo declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito e alterar a verdade sobre fato médico e juridicamente relevante, em prejuízo da vítima Fernando Iuri Chagas Rangel, de seus familiares e dos órgãos técnicos de controle da atividade médica”, destaca a denúncia.  

Enquanto o vídeo, depoimentos e laudos revelam que o Rocklane e Hugo funcionaram como cirurgião titular e cirurgião assistente, Paulo se coloca na posição de cirurgião titular e Rocklane na posição de cirurgião auxiliar, descrevendo aspectos da cirurgia que não condizem com o observado em vídeo.  

VIA CRUCIS DEPOIS DA MORTE - Para conseguir provas de que realmente seu filho não teve o pronto atendimento devido, Fernanda Chagas contou com a ajuda, principalmente, de funcionários do hospital onde houve o procedimento cirúrgico, que relataram que existiam câmeras em diferentes ambientes do hospital, inclusive, na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Fernanda explica que, a partir desta informação, começou outra luta, a de conseguir as imagens. Para isso, explica, precisou ir ao hospital inúmeras vezes. E acrescenta que, somente depois das pessoas ficarem “cansadas” da sua presença constante, resolveram liberar as imagens.  

- Quando meu filho veio a óbito, a gente começou a receber muitas ligações e mensagens dizendo que foi um erro do hospital e da equipe médica, que estava ausente e em outra cirurgia. Todo o hospital informando que o que fizeram com meu filho foi uma barbaridade, uma barbeiragem, tanto do hospital quanto da equipe. Daí, no dia 3 de janeiro a gente foi à delegacia, fez a queixa crime, foi aberto inquérito e começou a investigação. Eu fiz manifestações quase que diárias exigindo as imagens que iam provar a ausência do anestesista e a ausência do cirurgião que era o responsável e que terceirizou, mandou outro fazer a cirurgia, porque ele estava em outra sala, por ganância, quantidade de cirurgias, sem cumprir a responsabilidade que foi delegada para ele. Eu confiei a saúde do meu filho a ele. Eu acompanhei no MP até ontem (terça-feira, 25), quando a gente recebeu a notícia da denúncia que o MP apurou e comprovou a culpa deles – explica a mãe de Iuri.  

O INÍCIO DE TUDO - Fernando Iuri Chagas Rangel, que era soldado do 56º Batalhão de Infantaria (BI), em Campos, no dia 13 de dezembro de 2013 sofreu acidente de moto, que o deixou com uma fratura na clavícula e lesão em uma das pernas, sendo de imediato removido para o Hospital Ferreira Machado (HFM). Por ter plano de saúde, no dia 18 foi transferido para um hospital particular da cidade, onde teria que ser operado para colocação de um pino do braço fraturado. No dia 26 veio a óbito.  

- Ele não tinha problema nenhum de saúde, era soldado do Exército, um rapaz muito saudável. O que eu quero agora é justiça - finaliza a mãe de Fernando Iuri, Fernanda Chagas.  

MPRJ - O cirurgião Paulo Cézar Mota da Rocha e o anestesista Luis Bernardo Vital Brasil Bogado foram denunciados por homicídio doloso e falsidade ideológica. O dolo eventual ficou caracterizado pelo fato de os dois terem assumido o risco da morte do rapaz, com a omissão de deveres de cuidado, ao injetarem pesadas drogas sem ofertar oxigênio suplementar e praticando cirurgias e anestesias simultâneas. Os médicos Rocklane Viana Areas e Hugo Manhães Areas foram denunciados por falsidade ideológica.

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