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04/12/2021

POR QUE OS SHOWS PÓS-PANDEMIA ESTÃO ESGOTANDO TÃO RÁPIDO?

Empresários e psicanalista analisam correria por ingressos a partir do momento que público pôde voltar a viver a experiência do show ao vivo

 


Depois de mais de um ano e seis meses, o mercado do entretenimento volta a ficar movimentado com uma rapidez impressionante no Brasil. Ingressos para shows e festivais esgotam em minutos — independentemente do preço, do lugar e do tamanho da casa de show.  

 

A euforia deste momento de retomada é celebrada pelo setor, um dos mais afetados pela paralisação completa das atividades com a pandemia, mas já era de alguma forma esperada.  

 

"Os primeiros shows estão surfando essa onda da demanda represada", explica Marco Antônio Tobal Junior, sócio-diretor do Espaço das Américas, do Expo Barra Funda e do Villa Country.

  

"Acho que todo mundo sentiu falta dessa experiência durante o período de pandemia. Então quando a pessoa vê o show de um artista que é do desejo dela, ela compra de forma muito rápida e automática", continua.

 

Além do desejo do público, os artistas lançaram álbuns e projetos durante a pandemia, o que faz com que o timing para novas turnês seja perfeito neste momento.

 

Exemplos bem sucedidos são: o cantor paulista Jão que esgotou duas datas no Espaço das Américas, cerca de 16 mil ingressos ao todo, para a turnê em 2022 do álbum "Pirata", além das outras datas pelo Brasil.

  

Marina Sena, a revelação do pop brasileira deste ano, abre data atrás de data, mas mesmo assim ainda falta ingresso para vê-la.


Mesmo com o valor do ingresso elevado, o Rock in Rio vendeu 200 mil ingressos antecipados, e o Lollapalooza não tem mais ingressos disponíveis.

 

Vale fazer uma ressalva que, no caso dos shows adiados, como o Lolla, a sensação de que esgotou muito rápido não é tão real porque a maioria dos ingressos já estava vendida.

 

Isso sem contar no segmento do forró e da pisadinha com artistas que surgiram na pandemia, no meio digital, e que só depois de meses saíram em turnê e encontram grandes multidões pela frente.

 

'Vai faltar dia em 2022'


O grande desafio atual é arrumar a agenda, seja dos artistas ou das casas de shows. Partindo do princípio que há eventos adiados desde 2020 que precisam ser remarcados, o cenário para 2022 é de grande expectativa.


"A sensação que tenho é que vai faltar dia em 2022", diz Lucas Giacomolli, vice-presidente da Opus Entretenimento, que administra o teatro Bradesco em São Paulo e outras nove casas pelo Brasil.


"Ninguém quer mais deixar para depois. O público está desejando garantir o ingresso, o melhor lugar e estar presente".


"As pessoas estão buscando o momento de retomar as atividades, então planejar a compra de um show distante (para o próximo ano, em outra cidade) não é mais um problema", afirma Giacomolli.


Na visão dos dois empresários, o ano de 2022 pode ser o melhor para o setor dos últimos 15 anos, se nenhum outro fator externo voltar a interferir no mundo.

 

"Brinquei que vai faltar dia, mas essa é a nossa sensação... já temos programação para 2023".

 

O que explica essa euforia coletiva?

 

Para Christian Dunker, psicanalista e professor da Universidade de São Paulo (USP), a correria pelos shows está associada ao tempo durante o qual as pessoas foram privadas da catarse da coletiva.


"O desejo humano depende do desejo do outro e da falta. Aquilo que você perde rapidamente adquire um valor que você não conseguia dar àquilo que você tinha. Isso vale para um grande amor para a vida, para a liberdade", diz Dunker.


"A proporcionalidade da falta é a proporcionalidade da intensidade do desejo. Essa é uma propriedade geral do desejo humano."

 

"Os shows estão esgotando rapidamente, porque há um revival do que teria sido o carnaval de 1919, depois da Guerra e depois da Gripe Espanhola, em que você tem um desejo ardoroso de encontrar as pessoas, viver estados de multidão, de retomar a vida e comemorar a sobrevivência, o final da pandemia", diz Dunker.

 

É difícil mensurar por quanto tempo essa busca por viver intensamente o entretenimento vai perdurar até porque são escolhas individuais.

 

"O período de euforia é correlato ao quanto a gente aguenta de festa, mas penso que, no nosso caso, essa euforia deve durar até a retomada de um certo cotidiano e eventualmente até as eleições", conclui Dunker.


De onde vai sair tanto dinheiro?


Por mais que as pessoas queiram muito ir a todos os shows possíveis, a conta chega no final do mês até porque os ingressos voltaram com preço mais altos em relação ao período anterior à pandemia.

 

E nunca é só o ingresso, se gasta com bebida, com deslocamento, basicamente com o simples fato de colocar o pé para fora de casa.


Como tudo está relacionado com a economia do país, os custos para fazer os eventos também aumentaram.


"Inflação e o custo de todas as operações estão subindo, o próprio valor do dólar para trazer atrações de fora não para de aumentar. O mesmo show de 2019 custa, hoje, duas vezes o valor", afirma Tobal Júnior.

 

É por isso que ele acredita que essa busca incessante pelos shows pode ter um prazo de validade.


"Por enquanto, prevalece o fato de que está todo mundo a fim de assistir shows que não aconteceram, mas alguma hora esse aspecto econômico vai afetar e vai ser um problema que todo mundo vai ter que encarar", analisa. (leia mais abaixo)

  

"De repente cobrar ingressos mais baratos ou encontrar maneiras de fazer a operação de forma mais enxuta. A gente observa uma certa deterioração do poder econômico das pessoas e isso vai dar um choque que vai afetar o mercado com certeza".

 

Fonte: G1

 

 

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