Louvado como instrumentista, artista merece reconhecimento pela contribuição ao tecnopop nacional da década de 1980.
Foto Daryan
Dornelles / Divulgação
♪ ANÁLISE – Nascido em 7
de fevereiro de 1952, Pepeu Gomes festeja hoje 70 anos no posto de herói da guitarra tropicalista
brasileira. A celebração inclui show
inédito com a parceira e ex-mulher Baby
do Brasil, com quem se apresentou no Rock in Rio 2015.
O título do
show que percorre o Brasil a partir de abril, Baby e Pepeu a 140 graus, soma as
idades do ex-casal e alude ao fato de Baby também completar 70 anos em 2022 –
no caso da cantora, em 18 de julho.
Cantor,
compositor e guitarrista baiano, Pepeu parece sempre estar na terra a mais de
mil – como avisou no título de álbum de 1979 que marcou a conversão do artista
ao pop – quando tira som da guitarra com fúria hendrixiana e com habilidade
para cair no suingue do samba e do choro.
Pepeu –
Pedro Aníbal de Oliveira Gomes na certidão de nascimento expedida em Salvador
(BA) há 70 anos – é cria da geração do rock que amou os Beatles, dançou ao som
da Jovem Guarda – influência da primeira banda, Los Gatos, integrada pelo
músico ainda amador da adolescência – e pirou quando ouviu Jimi Hendrix (1942 –
1970).
Perspicaz, o
artista aliou essa gama de influências ao som tropical brasileiro. Um dos
maiores guitarristas do mundo, Pepeu transitou por grupos como Os Minos e Os
Leif's antes da fama, tendo criado identidade brasileira ao integrar o grupo
Novos Baianos e, mais tarde, ao ir atrás do trio elétrico.
O toque da
guitarra de Pepeu pode ter tanto a pegada do rock e o fraseado do blues como o
suingue do Brasil que desce ladeiras nos passos do frevo e dos gêneros musicais
baianos. É dessa mistura tropicalista que o músico criou a própria assinatura.
Presente em
boa parte das faixas do álbum duplo Fa-Tal – Gal a todo vapor (1971), registro
ao vivo de show icônico de Gal Costa, a guitarra de Pepeu Gomes também
sobressaiu no antológico álbum Acabou chorare (1972) – ápice da trajetória do
grupo Novos Baianos – por essa assinatura pop brasileira que reverbera a boa
influência dos choros e sons de Waldir Azevedo (1923 – 1980) – mestre no toque
do cavaquinho – e de Jacob do Bandolim (1918 – 1969) na alquimia de Pepeu.
Fundindo
rock, baião, samba, blues, choro e jazz em som de aura por vezes psicodélica,
Pepeu Gomes alcançou a glória como guitarrista, criando inclusive instrumentos
derivados da guitarra, como o guibando, mix de guitarra e bandolim.
Contudo, se
o instrumentista permanece consagrado como um herói da guitarra pelo
virtuosismo eternizado em álbuns instrumentais como On the road (1989) e Alto
da Silveira (2015), é hora também de celebrar a obra do cantor e compositor.
Pepeu Gomes
em momento de emoção no show feito com Baby do Brasil e o filho Pedro Baby em
2015 no 'Rock in Rio' — Foto: Alexandre Durão / G1
Em carreira
solo desde 1978, ano em que lançou o álbum instrumental Geração de som no
rastro da dissolução do grupo Novos Baianos, Pepeu contribuiu – ao lado de Baby
do Brasil – para a consolidação do som tecnopop na música brasileira dos anos
1980.
Nessa fase
tecnopop, marcada pelo uso abundante de teclados, Pepeu gerou hits como Eu
também quero beijar (1981) – em parceria com Moraes Moreira (1947 – 2020) e
Fausto Nilo – e Masculino e feminino (Pepeu Gomes, Baby do Brasil e Didi Gomes,
1983), música em cuja letra Pepeu desconstruiu o arquétipo do homem machista e
embrutecido, seguindo, por outro viés poético, a linha de Super homem, a canção
(1979), sucesso então recente de Gilberto Gil.
O visual
andrógino do artista na foto da capa do álbum Energia positiva (1985) – disco
que rendeu o sucesso Mil e uma noites de amor (Pepeu Gomes, Baby do Brasil e
Fausto Nilo, 1985) – sublinhou a postura visionária de Pepeu Gomes na quebra do
clichês da figura do guitar hero masculinizado.
Cinco antes
antes, em 1980, Pepeu e Baby também levantaram a voz contra a proibição da
maconha na letra engenhosa da música O mal é o que sai da boca do homem,
parceria do então casal.
A partir dos
anos 1990, Pepeu emplacou menos hits nacionais, mas legou álbuns relevantes
como Moraes & Pepeu, lançado em 1990 com repertório inédito composto pelos
parceiros e embebido em latinidade tropical. Essa latinidade banhou Sexy
Yemanjá (1993), parceria do artista com Tavinho Paes propagada na abertura da
novela Mulheres de areia, blockbuster da TV Globo naquele ano de 1993.
Sexy Yemanjá
foi o último grande sucesso de Pepeu na voz do artista, que, desde então,
lançou discos com menor regularidade. Somente em 2018, 25 anos depois do álbum
Pepeu Gomes (1993), o artista apresentou disco cantado com músicas inéditas,
Eterno retorno, abrindo parceria com Nando Reis e ampliando a obra com outro
ex-integrante da banda Titãs, Arnaldo Antunes, com quem compusera Alma (2001),
hit na voz de Zélia Duncan.
Aos 70 anos,
prestes a sair em turnê pelo país com Baby do Brasil, Pepeu Gomes parece em paz
com o tempo-rei e conserva a alma musical jovial como os sons que tira da
guitarra tropicalista.
Por Mauro
Ferreira
Jornalista carioca que escreve sobre música desde 1987, com passagens em 'O Globo' e 'Bizz'. Faz um guia para todas as tribos
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