No último domingo,
dia 5 de junho, cinquenta dias depois da Páscoa, a Santa Igreja celebrou a
grande festa da descida do Espírito Santo sobre a Virgem Maria e os Apóstolos
reunidos no Cenáculo. Trata-se de uma das datas mais importantes do calendário
litúrgico, juntamente com a Páscoa e o Natal.
O termo
“Pentecostes” vem do grego pentēkostḗ, que significa “quinquagésimo”, em
referência aos 50 dias que se sucedem à Páscoa. No Antigo Testamento, o
Pentecostes era celebrado apenas pelos judeus, no fim da última colheita do
ano, como forma de agradecer a Deus pela comida. É também conhecida como
celebração da Lei de Deus, em memória do dia em que Moisés recebeu as Tábuas
com as Leis Sagradas.
Essa
festividade aconteceu especificamente na primeira Páscoa depois de o povo de
Israel sair da escravidão do Egito e receber os Dez Mandamentos enviados por
Deus. Mas, no Antigo Testamento, o dia de Pentecostes é citado com outros
nomes, tais como ‘Festa da Colheita ou Sega’ (Êxodo 23.16), ‘Festa das Semanas’
(Deuteronômio 34.22) e ‘Dia das Primícias dos Frutos’ (Números 28.26).
No Novo
Testamento, a comemoração de Pentecostes é citada no livro dos Atos dos
Apóstolos, no capítulo 2, quando narra o momento em que os apóstolos receberam
os dons do Espírito Santo: “Chegando o dia de Pentecostes, estavam todos
reunidos no mesmo lugar. De repente, veio do céu um ruído, como se soprasse um
vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam sentados. Apareceu-lhes
então uma espécie de línguas de fogo que se repartiram e pousaram sobre cada um
deles. Ficaram todos cheios do Espírito Santo e começaram a falar em línguas,
conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem” (Atos dos Apóstolos
2:1-4).
Os fiéis
católicos sabem que a festa do divino Espírito Santo é comemorada com toda
solenidade e se estende por oito dias. Tão importante é este tempo, que os
domingos seguintes estão concatenados entre si e são chamados ‘domingos depois
de Pentecostes’. A importância dessa solenidade se acentuou a partir do século
IV, e conferiu à Igreja o valor do batismo e da crisma administrados aos
catecúmenos na vigília de Pentecostes para aqueles que não os receberam no
Sábado Santo.
Com o fato
histórico descrito nos Atos dos Apóstolos, fica estabelecida a promulgação
solene da verdadeira Igreja de Jesus Cristo, que se dá na difusão do evangelho
e administração do Batismo. As línguas de fogo sobre os apóstolos indicam a
difusão da verdadeira fé e da palavra de Cristo contidas nos evangelhos e nas
epístolas: Ide, pois, ensinai todas as gentes, batizando-
as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo (Mt 28, 19). A Igreja, esposa de Jesus Cristo, se inicia pelo esplendor e grandeza desta ação no mundo no dia desta solenidade, onde se encontrava reunidos os discípulos do Senhor.
Com a
descida retumbante do Divino Paraclito sobre os apóstolos, estes se tornaram
instrumentos eficazes da graça para transmitir em toda a face da terra a
doutrina ensinada por seu Divino Mestre. Não é de estranhar que a vinda do
Espírito Santo no Cenáculo deu-se com grande estrondo; com um vento impetuoso e
a aparição de destacadas línguas de fogo sobre todos os que se encontravam no
recinto sagrado, onde Jesus Cristo instituiu a Eucaristia e o Sacerdócio
católico. Todos ouviram em seus próprios idiomas, com enorme fascínio, o que os
apóstolos falavam sobre as maravilhas de Deus.
São Luís
Grignion de Montfort, no Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem,
descreve a relação entre o grande acontecimento de Pentecostes e os pregoeiros
do Reino de Maria. Fundamenta ele que a ação de Maria no Cenáculo sobre os
apóstolos seria semelhante à graça que receberão aqueles que lutarão pela
vitória indelével da Igreja em uma era inteiramente marial, pulverizando o
processo revolucionário multissecular desencadeado há séculos com o declínio da
Cristandade.
Este grande
santo francês, que viveu no século XVIII, num momento em que o movimento
revolucionário grassava fortemente em toda a França, não por acaso lançou, com
um brado pungente, os seus justos e zelosos anseios de ver restabelecida a
ordem universal de outros tempos, fazendo ecoar os anseios do salmista:
Levante-se Deus, e sejam dispersados os seus inimigos (Sl. 67, 1-2);
Erguei-vos, Senhor, por que pareceis dormir? Erguei-Vos.
Acalentava
São Luís Grignion no mais profundo de sua alma, o ideal profético de
instauração de uma civilização ainda mais aperfeiçoada do que a de outrora.
Segundo os perenes ensinamentos daquela que é Mãe e Mestra da verdade, a Santa
Igreja Católica Apostólica Romana ensina, guia, governa, santifica e define as
verdades de Fé com vistas à salvação eterna dos homens, em todos os séculos.
Ao se
referir ao reino profetizado por ele, São Luís fala que nessa era marial as
almas estarão embebidas do amor de Deus, e serão instrumentos do Espírito Santo
para constituir uma era de fogo na qual a face da terra será renovada pela ação
da Santa Igreja. Convém ressaltar o relacionamento existente entre Maria e os
apóstolos, unidos em oração no Cenáculo, pois Maria é o elo entre a Igreja e
Deus, pois sendo Mãe de Jesus Cristo, tornou-se a Mãe da Igreja.
De fato, o
Espírito Santo operou uma transformação naquelas almas, que passaram a difundir
as verdades ensinadas por Nosso Senhor. Pela fé,
não somente temos certeza na promessa divina de que as portas do inferno não prevalecerão contra a Igreja, mas confiamos que algo extraordinário ocorrerá nos tempos atuais, diante da crise na qual Ela se encontra.
De tal modo
extraordinário, que é impensável instaurar o Reino de Maria sem a ocorrência de
uma ação extraordinária do Espírito Santo sobre as almas. Como pela ação de
Maria no Cenáculo foi possível a vinda do Espírito Santo, assim também será em
nossos dias, para que os escolhidos sejam verdadeiros condutores para a difusão
da verdadeira civilização em toda a face da terra, em que Cristo será o centro
e o rei da sociedade temporal e espiritual.
*Sacerdote
da Igreja do Imaculado Coração de Maria - Cardoso Moreira-RJ
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