Três anos de espera
A longa espera pela análise do recurso, após ter o pedido negado duas vezes pelo INSS, levou Daniel Araújo Souza a fazer um corte severo nas despesas. O analista de informática deu entrada na aposentadoria por tempo de contribuição ainda em 2019, após quase 37 anos de recolhimento, sem sucesso. Numa agência do INSS, ele foi aconselhado por um funcionário a refazer o requerimento, que acabou novamente indeferido. Já em 2020, ele recorreu ao CRPS. O benefício foi concedido, mas apenas no ano passado.
Com a decisão favorável e a expectativa de se aposentar, o analista aderiu ao Programa de Demissão Voluntária (PDV) implementado pela empresa pública onde trabalhava. Ele só não contava com a demora para que o INSS cumprisse a determinação do Conselho de Recursos da Previdência Social de conceder o benefício, e enfrentou meses de aperto no orçamento. Somente no último dia 3 de março a carta de concessão foi liberada.
— Eu me virei muito mal neste período. Quando fiz o plano de aposentadoria, esperava economizar o dinheiro do Programa de Demissão Voluntária fazendo aplicações. Tinha planos. Aderi ao PDV da empresa me planejando com base nos meus direitos, não em um jogo de loteria. Mas comecei a queimar esse dinheiro e tive que cortar despesas. Foi uma economia severa enquanto a aposentadoria não chegava. Eu me vi desempregado, sem renda alguma. Desde os 18 anos, nunca fiquei sem trabalhar. Bateu então um desespero. Eu estava fazendo tratamentos dentário e de saúde, tudo teve que ser suspenso. Passei a andar com o carro com problemas, adiei viagens... Fiquei postergando tudo o que eu podia para ver se essa poupança (o dinheiro do PDV) durava um pouco mais. Se demorasse mais três ou quatro meses (para o INSS conceder a aposentadoria), a situação ia ficar complicadíssima, ia ter que depender dos meus filhos.— relembra o segurado.
Apenas 523 conselheiros em todo o Brasil
No Conselho de Recursos da Previdência Social (CRPS), o cenário também é crítico. Segundo o levantamento do IBDP, mais de um milhão de pedidos estão em fase recursal. O órgão colegiado é formado por representantes de empresas, trabalhadores e governo federal. A eficiência do conselho, no entanto, também esbarra em problemas estruturais. Segundo o IBDP, hoje há apenas 523 conselheiros — a maioria na Região Sudeste — para apreciar os recursos, o que é “muito pouco” para o volume de processos.
— O conselho não tem tanta atenção do governo. Lá as decisões são muito mais favoráveis aos segurados do que a Justiça, e geram economia para o Estado com a desjudicialização dos recursos, ou seja, compensaria muito mais investimentos no CRPS do que deixar os casos irem à Justiça — avalia Cherulli.
Procurado, o INSS não respondeu aos questionamento do EXTRA. Em nota publicada em seu site, o Ministério da Previdência Social informou que, em conjunto com a pasta da Gestão e Inovação em Serviços Públicos, pretende priorizar ações tecnológicas para melhorar os sistemas da Dataprev, a quem cabe processar os dados do INSS. A ideia é ampliar a eficiência dos serviços e, consequentemente, reduzir o tempo de análise e processamento de pedidos de benefícios.
Extra
Nenhum comentário:
Postar um comentário