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07/08/2023

Quase 5% da população de Quissamã é quilombola

As raízes quilombolas de Quissamã ficaram ainda mais em evidência nos últimos dias com a publicação “Brasil Quilombola: Quantos Somos, Onde Estamos?”, resultado do Censo 2022 do  Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que incluiu pela primeira vez os números da população quilombola no Brasil. No quadro geral do Estado do Rio, Quissamã ficou em segundo lugar na média populacional — 4,43% declarados quilombolas, de um total de 22.393 habitantes. O município do Norte Fluminense só ficou atrás de Búzios, na Região dos Lagos, que tem 1.777 quilombolas — 4,44 % da população.


As referências da cultura africana começam pelo nome. Quissamã é de origem angolana e reproduz a sua “xará” Kissama, que fica a 80 km de Luanda na foz do Rio Kwanza. Outras paisagens ampliam essa presença, como o Canal Campos/Macaé e o baobá, na região central. Porém, as raízes ficam ainda mais vivas no Quilombo de Machadinha, que abrange as localidades de Boa Vista, Mutum, Fazenda Machadinha, Bacurau e Sítio Santa Luzia. Locais onde a tradição é preservada.


Para garantir essa proteção à História, a nova geração vai ganhando força. No mês passado, Jovana Azevedo, de 29 anos, foi a primeira mulher quilombola a tomar posse de um cargo de chefia na administração pública. A convite da prefeita Fátima Pacheco, a estudante de Psicologia assumiu a recém criada Coordenadoria Municipal de Políticas da Igualdade Racial. Moradora do Bacurau, a jovem também ocupa a 1ª secretaria da Associação Remanescente Quilombo Machadinha (Arquima) e uma das responsáveis por manter a tradição do Jongo viva para as próximas gerações.

 

“Na coordenadoria vamos dar continuidade ao trabalho realizado há muitos anos por muitos quilombolas. É mais um espaço para debates para preservação da nossa história e tradição. O Quilombo Machadinha representa nosso povo, mas o espaço de discussão é de todos. É muito importante que o Censo tenha incluído os números da população quilombola, pois reforça a nossa história”, disse Jovana, que esteve em Brasília na última semana para dialogar na busca de investimentos no município.


Essa preservação é vista no Complexo Histórico Fazenda Machadinha. No espaço, tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac) desde 1979, cerca de 80 famílias quilombolas vivem nas antigas senzalas, que foram transformadas em moradias. Por ironia do destino, a Casa Grande está em ruínas. O cenário digno de cinema ainda possui armazéns, a Casa de Artes, a capela Nossa Senhora do Patrocínio e o Memorial.


“O Censo mostra dados significativos que apontam as nossas origens e dimensão no Estado do Rio e Brasil, tornando-se preponderante dar continuidade às políticas públicas diferenciadas, em áreas como educação, saúde, cultura, habitação e agricultura familiar”, enfatizou o presidente da Arquima, André Sacramento.


Educação valoriza a tradição

Todo dia é dia de aprender e preservar a tradição quilombola na Escola Municipal Felizarda Maria da Conceição. Situada em Machadinha, a unidade conta com mais de 170 alunos, com educação em tempo integral, que busca a conscientização dos alunos sobre a história dos seus antepassados. Os estudantes têm à disposição oficinas de fortalecimento da cultura quilombola, tais como: Cultura e Resistência; Nossa Gente, Nossa História; CulinAfro; RecreAfro; e Banda de Lata.


A implantação da educação quilombola é motivo de visita de pesquisadores de diversas universidades. Em maio, a unidade recebeu a visita técnica da turma de licenciatura em Geografia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Há também um intercâmbio com outros municípios do Estado do Rio.


“Buscamos fortalecer a cultura antirracista, apoiando e fortalecendo as atividades em nosso município. Na Escola Felizarda, os alunos preservam a cultura e tradição quilombola, mas também levamos essas atividades para outras unidades. A obtenção dos dados torna-se uma importante fonte de orientação, com informações imprescindíveis para a definição de políticas públicas e tomada de decisões com base nos números apresentados no Censo”, avalia a prefeita Fátima Pacheco.


E a rede de proteção antirracista tem ganhado cada vez mais destaque em Quissamã. Desde 2022, o município vem reforçando a política, integrando a Rede Global de Cidades Antirracistas; o Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial; e a criação do Conselho Municipal de Promoção de Igualdade Racial. Neste ano, a Coordenadoria municipal de Políticas da Igualdade Racial se junta às importantes ações na cidade.


“Tenho orgulho em dizer que Quissamã faz parte da Rede Global de Cidades Antirracistas, e conta com uma Coordenadoria específica para promoção de políticas públicas de igualdade racial, que segue transformando a vida das pessoas”, avaliou Fátima Pacheco.



Terceira Via

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