Houve relatos de silêncio nos corredores do quarto andar,
onde ficam os gabinetes ministros palacianos e até de lágrimas após a fala de
Moro
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Auxiliares militares do Palácio
do Planalto se disseram consternados após os cerca de 30 minutos em que, ao
anunciar que estava entregando o cargo de ministro da Justiça e da Segurança
Pública nesta sexta-feira (24), Sergio Moro acusou o presidente Jair Bolsonaro
(sem partido) de querer interferir a Polícia Federal.
Assessores fardados do presidente reagiram com frases como
"agora acabou" e apontando "o fim de muitas ilusões, inclusive
as nossas". Houve relatos de silêncio nos corredores do quarto andar, onde
ficam os gabinetes ministros palacianos e até de lágrimas após a fala de Moro.
Ao anunciar sua demissão do governo federal, Moro criticou a
insistência de Bolsonaro para a troca do comando da Polícia Federal, sem
apresentar causas que fossem aceitáveis. Moro afirmou ainda que o presidente
queria ter acesso a informações e relatórios confidenciais de inteligência da
PF.
Mais pragmático, o núcleo político do governo começou a agir
para tentar conter os danos. Um articulador de Bolsonaro disse que um dos
caminhos é exigir que Moro prove o que disse. Se relatou as ilegalidades que o
Bolsonaro teria cometido, agora teria que comprovar.Outra linha de defesa seria
argumentar desgastar a imagem de Moro indicando que o ministro insinuou que,
caso a nomeação de um indicado seu fosse confirmada, ele silenciaria sobre as
supostas ilegalidades.
No núcleo mais ideológico do governo, já circula a estratégia
de desmoralizar Moro para tentar manter unida a bolha bolsonarista. Acusariam,
por exemplo, que, à frente do Ministério da Justiça, não investigou Adélio
Bispo, responsável por dar uma facada em Bolsonaro durante a campanha
presidencial, em 2018.Logo no início da manhã, Bolsonaro recebeu deputados
bolsonaristas no Palácio da Alvorada. Os parlamentares saíram de lá seguindo a
narrativa criada pelo governo para dar tentar não perder apoio de sua base
popular lavajatista.
Pouco antes das 8h30, a Secom (Secretaria de Comunicação) da
Presidência publicou um reprodução do decreto de exoneração de Maurício Valeixo
no DOU (Diário Oficial da União) com as palavras "exonerar a pedido"
em destaque."
Moro nega ter assinado exoneração de Valeixo e que diretor
queria ficar
Ao contrário do que parte da imprensa está noticiando, a
exoneração do sr. Maurício Valeixo se deu A PEDIDO do próprio. Contra fake
news, busque sempre a fonte primária da informação. Bom dia", dizia
mensagem publicada pelo braço de comunicação do governo sobre o qual o vereador
Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente, exerce forte
influência.
Ao deixar o Alvorada, Bolsonaro deu sequência à narrativa que
construiu."Imprensa, vocês erraram tudo no dia de ontem. Um abraço",
afirmou, esquivando-se de questionamentos.A partir daí, a tropa bolsonarista
começou a reproduzir o discurso costurado logo cedo."Valeixo, diretor da
Polícia Federal, deixa o cargo a seu pedido", escreveu a deputada Carla
Zambelli (PSL-SP) em sua conta no Twitter.
Ao deixar o Palácio do Planalto, o deputado coronel Armando
(PSL-SC), vice-líder do governo e um dos que estava, horas antes, no Palácio da
Alvorada também seguiu o roteiro. "Foi a pedido", disse, minimizando
a discussão sobre o assunto com o presidente. Depois, o próprio Bolsonaro
reproduziu o print do DOU da exoneração, destacando trecho do artigo 2º da lei
13.047/2014 segundo o qual cabe a ele escolher o diretor-geral da PF."Art.
2º-C.
O cargo de Diretor-Geral, NOMEADO PELO PRESIDENTE DA
REPÚBLICA, é privativo de delegado de Polícia Federal integrante da classe
especial. "Logo depois do pronunciamento, porém, o tom de alguns
apoiadores já era um pouco diferente.
"Sinto muito pela saída de Sergio Moro do governo. Não
só por ser meu padrinho de casamento, mas principalmente pela sua conduta
exemplar de cidadão, juiz e ministro. Sempre terá minha profunda admiração, bem
como a gratidão de todos os brasileiros de bem. Obrigada, Moro!", escreveu
Zambelli em sua conta no Twitter.
Os filhos de Bolsonaro silenciaram nas redes sociais.
FONTE: FOLHAPRESS
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