É uma corrida contra o tempo. Os leitos de UTI para pacientes
com Covid-19 no Rio estão no limite. Enquanto o funcionamento dos hospitais de
campanha depende do recrutamento de pessoal e equipamentos, já há filas de
pacientes aguardando vaga em unidades para doentes graves. Uma consulta feita
às 16h46 de ontem por uma fonte com acesso ao Cadastro de Leitos do Ministério
da Saúde mostrava que havia 44 adultos aguardando leito em UTI na rede pública
da capital, sendo 19 com suspeita de coronavírus. Menos de uma hora depois, às
17h30, a Secretaria municipal de Saúde admitia que 90% dos leitos de tratamento
intensivo para adultos do Sistema Único de Saúde (que incluem unidades
municipais, estaduais e federais) para a Covid-19 na cidade estavam ocupados.
No último balanço, na rede SUS da capital, já havia 1.023
hospitalizados com a doença, dos quais 257 em UTIs. No Hospital municipal
Ronaldo Gazolla, em Acari, referência no tratamento do coronavírus, 70% do
total de leitos abertos estavam ocupados. Lá, foram criados 346 leitos, 129 de
UTI, para tratar a enfermidade.
Da rede estadual, o Hospital Universitário Pedro Ernesto
estava com 100% dos leitos de UTI para Covid-19 ocupados, e o Instituto
Estadual do Cérebro, com 88,6%. No estado como um todo, a situação é
preocupante: segundo a Secretaria estadual de Saúde, a taxa de ocupação da rede
chega a 76% nas UTIs e 64% nas enfermarias.
Na rede federal, o Hospital de Bonsucesso transferiu em março
pacientes de um bloco inteiro com o objetivo de abrir 170 leitos — 70 de UTIs —
para atender pacientes com Covid-19. Mas ontem só 16 podiam ser ocupados, sendo
11 de terapia intensiva. Os demais dependem da contratação de pessoal, pela
empresa RioSaúde, da prefeitura. É o mesmo caso do Hospital do Fundão, que está
com obras de adaptaqção e planeja ativar 150 leitos, até o fim deste mês, com
pessoal contratado por intermédio da empresa. Por enquanto, o hospital
universitário só dispõe de 30 vagas.
A Rio Saúde informou que, na semana passada, iniciou seleção
de pessoal para os hospitais Ronaldo Gazolla, do Riocentro, Federal de Bonsucesso
e do Fundão. Os primeiros a se inscreverem começaram a ser chamados, entre eles
60 médicos intensivistas e 128 enfermeiros.
Alerta de colapso que vem do Amazonas
Falta de equipamentos e respiradores; inexistência de testes
para doentes, médicos e enfermeiros; Unidades de Pronto Atendimento (UPA)
fazendo as vezes de UTI, porque os leitos de terapia intensiva estão saturados.
O retrato atual do do sistema de saúde pública do Amazonas, onde corpos já
foram deixado ao lado de pacientes, serve de alerta para outros estados.
Em São Paulo, Rio de Janeiro, Ceará e Pernambuco, quarteto
que lidera o ranking nacional de casos e mortes por Covid-19, a rede de leitos
está perto de se esgotar.
Os relatos de Manaus são de enfermeiros da linha de frente do
combate à epidemia.
— Estamos tendo de escolher quem vai respirar ou não — resume
uma enfermeira do Hospital João Lúcio, onde foram gravados vídeos de corpos
deixados ao lado de doentes.
O Amazonas tem a 2ª maior incidência de infectados no país,
com 415 diagnosticados por 1 milhão de habitantes. Segundo um enfermeiro de UPA
de Manaus, a unidade está prestando atendimento que seria de UTI:
— Não há como mandar para hospital de referência. Todas as
unidades de média complexidade estão tendo de assumir os pacientes críticos,
até que se abram vagas. No meu último plantão, recebemos nove. A gente já vive
um colapso.
Segundo uma enfermeira do João Lúcio, onde câmaras
frigoríficas foram providenciadas após a revelação das cenas de pessoas mortas
ao lado de pacientes, não há pessoal suficiente:
— Na sala onde trabalho, são necessários cinco técnicos de
enfermagem. Tem só um.
Não há máscaras de proteção, e aventais que deveriam ser
descartados são reutilizados.
— O SOS Funeral, destinado a pessoas pobres, não tem condições
de recolher todos os corpos, que ficam ali, ao lado de pacientes — afirma a
enfermeira.
O governo do Amazonas diz estar providenciando EPIs, mais
leitos de UTI e profissionais.
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