Rio - A crise econômica provocada pela pandemia de
coronavírus pode levar mais de 500 milhões de pessoas para a pobreza, a menos
que ações urgentes sejam tomadas para ajudar países em desenvolvimento. O
alerta é da Oxfam, entidade da sociedade civil que atua em cerca de 90 países
com campanhas, programas e ajuda humanitária.
A organização pede que os líderes mundiais aprovem um plano
emergencial de resgate econômico para impedir que países e comunidades pobres
afundem. Para a Oxfam, isso pode acontecer já na próxima semana, quando está
prevista reunião entre ministros de Economia dos países do G20 (o grupo dos 20
países mais desenvolvidos), o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional
(FMI).
De acordo com a entidade, os US$ 2,5 trilhões que as Nações Unidas
estimam ser necessários para apoiar os países em desenvolvimento durante a
crise do coronavírus vai requerer um adicional de US$ 500 bilhões em ajuda
externa, incluindo o financiamento dos sistemas públicos de saúde dos países
pobres. “Impostos emergenciais de solidariedade, como taxas sobre lucros
excessivos e pessoas muito ricas, poderiam mobilizar recursos adicionais”,
avalia a Oxfam, em nota.
Para a entidade, apesar de urgentes e necessárias, as medidas
de distanciamento social e de restrição do funcionamento das cidades agravam a
situação dos trabalhadores, com demissões, suspensão de pagamento de salários
ou inviabilidade do trabalho informal.
O novo relatório da Oxfam, "Dignidade, não
Indigência", mostra que entre 6% e 8% da população global, cerca de 500
milhões de pessoas, poderão entrar na pobreza conforme os governos fecham suas
economias para impedir que o coronavírus se espalhe em seus países. “Isso pode
representar um retrocesso de uma década na luta contra a pobreza. Em algumas
regiões, como a África subsaariana, o norte da África e Oriente Médio, essa
luta pode retroceder em até 30 anos. Mais da metade da população global poderão
estar na pobreza depois da pandemia”, destacou a entidade.
O relatório, publicado ontem (9), utiliza estimativas
elaboradas pelo Instituto Mundial para a Pesquisa de Desenvolvimento Econômico,
da Universidade das Nações Unidas, liderada por pesquisadores do King's College
de Londres e da Universidade Nacional da Austrália.
Para a Oxfam, as desigualdades já existentes evidenciam o
impacto econômico da crise do coronavírus. “Como os trabalhadores mais pobres,
tanto nas nações ricas quanto nas pobres, atuam mais no mercado informal, eles
estão descobertos de diversas formas. Eles, por exemplo, não têm proteções trabalhistas
e nem conseguem trabalhar de casa”, diz a entidade.
Globalmente, apenas um em cada cinco desempregados tem acesso
a benefícios como seguro-desemprego. Dois bilhões de pessoas trabalham no setor
informal pelo mundo - 90% nos países pobres e apenas 18% nos países ricos.
Situação no Brasil
No Brasil, para a Oxfam, a situação é ainda mais preocupante
devido às moradias precárias, à falta de saneamento básico e de água e aos
desafios no acesso a serviços essenciais para os mais pobres. O Brasil tem
cerca de 40 milhões de trabalhadores sem carteira assinada e cerca de 12
milhões de desempregados. A estimativa é que a crise econômica provocada pelo
coronavírus adicione, ao menos, mais 2 milhões de pessoas entre os
desempregados.
“O coronavírus coloca o Brasil diante de uma dura e cruel
realidade, ao combinar os piores indicadores sociais em um mesmo local e na
mesma hora. E é neste momento que o Estado tem papel fundamental para reduzir
esse impacto e cumprir sua responsabilidade constitucional tanto na redução da
pobreza e das desigualdades quanto na garantia à vida da população”, afirma
Katia Maia, diretora executiva da Oxfam Brasil, em comunicado.
Para a entidade, a renda básica emergencial de R$ 600, por
três meses, para trabalhadores informais não será suficiente para amenizar o
impacto, e o governo deverá, entre outras medidas, ampliar o número de pessoas
atendidas e estender o período de concessão.
Mulheres
De acordo com a Oxfam, as mulheres precisam de atenção
especial, pois estão na linha de frente do combate ao coronavírus e sofrerão o impacto
mais pesado da crise econômica. “As mulheres representam 70% da força de
trabalho em saúde pelo mundo e fazem 75% do trabalho de cuidado não remunerado,
atendendo a crianças, doentes e idosos. As mulheres também são maioria nos
empregos mais precários”, diz a entidade.
“Os governos precisam aprender as lições da crise financeira
de 2008, quando a ajuda a bancos e corporações foi paga pelas pessoas comuns.
Elas perderam seus empregos, tiveram seus salários achatados e serviços
essenciais, como os de saúde, sofreram profundos cortes de financiamento”,
destaca Katia Maia. “Os pacotes econômicos de estímulo têm que apoiar
trabalhadores e pequenos negócios. A ajuda a grandes corporações tem que estar
condicionadas a ações para a construção de economias mais justas e
sustentáveis”, completou.
O relatório completo, em inglês, está disponível no site da
Oxfam.
O DIA
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