Os equipamentos de proteção individual são essenciais para o
combate à pandemia do novo coronavírus.
Profissionais da saúde de vários lugares do país reclamam da
falta de equipamentos de proteção individual, essenciais para o combate à
pandemia do novo coronavírus.
As luzes das ambulâncias e o silêncio são uma homenagem dos
colegas do hospital do Campo Limpo, em São Paulo. “Esse vídeo vai em homenagem
à nossa querida colega Luzanira, que nos deixou hoje”.
Enquanto algumas cidades ainda não têm registro de casos, em
outras já há baixas na batalha contra a Covid-19. Uma batalha intensa em
hospitais como o municipal do Tatuapé, na Zona Leste de São Paulo. Os leitos da
UTI estão ocupados e a sala de observação do pronto-socorro virou uma unidade
semi-intensiva improvisada com 14 pacientes.
Um dos profissionais de saúde gravou as imagens e um outro,
que não quer ser identificado, fala da falta de equipamentos de proteção no
hospital: “Até está sendo disponibilizado o avental impermeável, porém além
dele você tem que usar o descartável por cima porque você não pode sair de um
paciente e atender o outro com o mesmo. Porém, não está tendo esse descartável.
A máscara cirúrgica também não está tendo.”
O perigo para quem está na linha de frente é enorme porque ao
trabalhar diretamente com os doentes os profissionais de saúde recebem uma
carga de vírus e podem, por isso, desenvolver as formas graves da doença. As
queixas se multiplicam no país. O Conselho Federal de Enfermagem já recebeu
quase 3,6 mil denúncias de falta, escassez ou má qualidade dos equipamentos de
proteção individual como máscaras, luvas e aventais.
“Por exemplo, no estado do Amapá, nós recebemos denúncias de
pacientes com diagnóstico positivo de Covid-19 e os profissionais atendendo sem
equipamento de proteção individual adequado”, diz o presidente do Conselho
Federal de Enfermagem, Manoel Neri.
Os pedidos de ajuda chegam também por e-mail. Um deles, de
São José do Xingu, em Mato Grosso, relata a falta de máscaras cirúrgicas,
avental, protetor facial, óculos, luvas, propé e álcool gel.
Ou por mensagem de áudio: ‘Avental é aquele avental que a
gente usa para dar banho, um avental de TNT bem fraquinho, não temos avental
impermeável.”
Também tem relatos nas redes sociais, como o de um
enfermeiro, no Rio. Ele disse que nas primeiras 12 horas de trabalho, cuidou de
conseguir material para abastecer o setor. Não havia capote nem máscara para
começar o plantão.
A Associação Médica Brasileira já acumula quase três mil
denúncias em 611 municípios.
Na Santa Casa de São Paulo, os profissionais se queixam da
capa de chuva fornecida como avental. “Não cobre o que tem que cobrir, que é a
parte do braço, e no comprimento também ele é curto.”
O Jornal Nacional conversou com uma enfermeira do Hospital
São Paulo, que é federal. Ela está afastada do trabalho por suspeita de
Covid-19. A enfermeira conta que por causa da escassez de aventais, ela e os
colegas evitam tomar água e urinar.
“Vou ao banheiro antes de entrar para trabalhar, não tomo
água e passo o período de seis horas sem beber água e sem ir ao banheiro”,
afirma.
Ela diz que o risco é grande também por falta de treinamento
para lidar com pacientes e também para usar e retirar os equipamentos: “O que
eu vejo é muita gente não fazendo de forma adequada, talvez por falta de
treinamento.”
O secretário municipal da Saúde de São Paulo, Edson
Aparecido, diz que o consumo explodiu: “Os nossos profissionais de saúde
consumiam, até 30 dias atrás, 250 mil máscaras cirúrgicas por mês. Nós estamos
consumindo 500 mil máscaras cirúrgicas por semana.”
O presidente do Conselho Nacional de Enfermagem pede ajuda da
indústria nacional para não ficarmos dependentes dos produtos chineses. “É
preciso que as empresas brasileiras, que a indústria brasileira seja
incentivada a produzir esses equipamentos, principalmente os equipamentos de
proteção individual, que têm uma linha de produção mais simples”, diz Manoel
Neri.
As baixas já são muitas. O Conselho registra mais de mil
enfermeiros e auxiliares de enfermagem afastados por suspeita de Covid-19. São
20 mortes notificadas e 11 já confirmadas por exame.
Entre os últimos, dois jovens: Paulo Henrique Lima, de 40
anos, que trabalhava no Rio, e André Augusto Cruz, de 37 anos, em São Paulo.
Sofia da Silva tinha 64 anos e trabalhava em Manaus.
Um avião que aterrissou no Aeroporto Internacional de
Guarulhos trouxe pouco mais de um milhão de máscaras e óculos. É parte de um
lote de 15,8 milhões equipamentos que o governo vai receber em doação e
distribuir pelo país.
Enquanto aguardam proteção, os profissionais de saúde falam
do medo de adoecer. Uma enfermeira de um hospital estadual no Espírito Santo
conta que, sem equipamentos, ela trabalha com medo e não só por ela.
“Eu penso todos os dias nos meus filhos. Eu não sei se vou
chegar lá bem, se eu vou voltar contaminada”, diz.
A prefeitura de São Paulo informou que já tomou todas as
medidas para garantir a compra de 4,9 milhões de máscaras de proteção. Disse
ainda que a China doou 100 mil máscaras e mil macacões.
A Santa Casa declarou que, além de doações recebidas, comprou
novos aventais e que houve atraso na entrega por falta do produto no mercado,
mas que a situação já foi regularizada.
O Hospital São Paulo afirmou que segue regras e protocolos
dos órgãos de saúde e disponibiliza equipamentos para seus colaboradores. Mas
ressalta que também tem encontrado dificuldades para encontrar os produtos no
mercado.
A Secretaria da Saúde do Amapá admite a dificuldade em repor
os equipamentos devido à escassez, ao alto preço e a logística de entrega, mas
afirma que tem garantido a disponibilidade com aquisições e doações.
A Secretaria da Saúde do Espírito Santo declarou que
atualmente não faltam equipamentos de proteção individual, mas que existem
critérios para utilização. Disse também que tem processos de compra em
andamento e que três milhões de máscaras devem ser entregues neste mês.
FONTE:GLOBO.COM
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