O presidente Jair Bolsonaro se reuniu na última segunda-feira
no Palácio do Planalto com o deputado federal David Soares (DEM-SP), filho do
missionário R. R. Soares, e com o secretário especial da Receita Federal, José
Barroso Tostes Neto. Segundo apurou o Estadão/Broadcast, no encontro, a portas
fechadas, o presidente cobrou uma solução para dívidas tributárias que as
igrejas possuem com o Fisco. Bolsonaro já ordenou à equipe econômica
"resolver o assunto", mas a queda de braço continua por resistência
do órgão.
Um eventual perdão das dívidas traria prejuízo às contas
públicas. A Igreja Internacional da Graça de Deus, fundada por R. R. Soares
(com quem o presidente já se encontrou em outras ocasiões), acumula R$ 144
milhões em débitos inscritos na Dívida Ativa da União - terceira maior dívida
numa lista de devedores que somam passivo de R$ 1,6 bilhão. A mesma igreja
ainda tem outros dois processos em curso no Carf, tribunal administrativo da
Receita, que envolvem autuações de R$ 44 milhões em valores históricos, segundo
apurou o Estadão/Broadcast.
Em um vídeo divulgado em redes sociais em outubro de 2016, R.
R. Soares aparece em um evento ao lado do ex-presidente da Câmara Eduardo
Cunha, hoje preso após condenação na Operação Lava Jato, citando multas
aplicadas às igrejas que chegavam a R$ 600 milhões até 2014.
A ordem do presidente foi recebida na área econômica como
mais uma tentativa de interferência do presidente em assuntos internos de um
órgão para atender o seu eleitorado. Na última semana, Sérgio Moro deixou o
governo acusando o presidente de exigir relatórios de investigações sigilosas
da Polícia Federal e, como revelou o jornal O Estado de S. Paulo, o Ministério
Público Federal abriu inquérito para apurar uma ordem de Bolsonaro para revogar
portarias do Exército.
Tentativas de interferir na Receita já resultaram em crises
políticas. No governo Luiz Inácio Lula da Silva, a então ministra da Casa Civil
Dilma Rousseff foi acusada pela secretária do órgão Lina Vieira de pedir para
aliviar uma investigação que envolvia a família Sarney. Lina deixou o cargo e
Dilma precisou se explicar ao Congresso. Não é a primeira vez que Bolsonaro
tenta impor à Receita a revisão das multas das igrejas. O ex-secretário da
Receita Marcos Cintra disse a interlocutores que não ceder a essa ordem foi um
dos motivos para ter deixado o cargo.
O deputado David Soares preferiu não se manifestar sobre a
reunião com o presidente que constou em agenda oficial. "Isso aí é uma
reunião com o presidente, eu não tenho nada a declarar", disse. A Igreja
Internacional da Graça de Deus não retornou até a publicação desta edição. O
Planalto não respondeu às perguntas enviadas à Secretaria de Comunicação. A
Receita disse que não se manifestaria.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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