Este ano, de 2020, o jornal Tempo News observa e constata um
fato inusitado, merecedor de um registro histórico: pela primeira vez, em 28 anos,
um pleito ocorrerá sem a liderança e até mesmo a presença à frente do processo
eleitoral, dos dois nomes que dominaram politicamente o município desde a
emancipação: Renato Jacinto e Gilson Siqueira. Eles começaram juntos, às vezes
aliados, às vezes adversários ferrenhos, e terminam a carreira juntos, sem
estar atrelados diretamente a nenhum dos pretendentes neste pleito
diferenciado, devido à pandemia do Covid-19.
Com a desistência do Prefeito Gilson Siqueira em concorrer à
eleição de 2020 e o Vice-Prefeito Renato Jacinto que também não concorrerá ao
pleito de 2020, Cardoso Moreira terá, nessa eleição atípica, quatro Novos Pré-Candidatos:
a professora e Vereadora Geane Vincler(PSD); o Vereador Renatinho Medeiros(MDB);
o Advogado e Ex-Procurador e Ex-Secretário de Educação do município, Neto Sardinha(DC); e o funcionário da
Petrobrás, Alexandre Nogueira(PSB).
Um fato inusitado que envolve o município de Cardoso Moreira
está a merecer uma análise de pesquisadores interessados na história política
do Norte/Noroeste Fluminense, que guarda semelhanças com boa parte do Nordeste
do país. Tanto no que tange às constantes estiagens, pobreza endêmica,
agricultura pobre quanto à falta de perspectivas para a população e o
coronelismo secular.
Os municípios próximos à Zona da Mata mineira, região dos
extintos nativos puris, foi ocupada por mineiros, no século XIX. A cultura do
café e do gado bovino tornou ricas algumas famílias que, no início do século XX
em nada diferenciava do Oeste dos EUA nas décadas anteriores. Grupos de
caçadores de recompensa, assassinos de aluguel, eram contratados para eliminar
ladrões de cavalos, amantes das mulheres e filhas de fazendeiros e, claro,
adversários políticos. Os federais só conseguiram eliminá-los na década de
1920.
Como toda a região pertencia a Campos, os chefes políticos
conseguiram, no final do reinado de Pedro II, a emancipação da sede, começando
por São Fidélis, que ficou com às margens do Paraíba, até a divisa com Palma/MG;
e Itaperuna, com as margens do Muriaé, até Porciúncula. Campos dos Goytacazes
preservou Italva e Cardoso Moreira, banhados pelo Rio Muriaé.
Em 1986, Italva foi emancipado e, em 1989, após uma batalha
política e judicial, Cardoso Moreira ganhou sua independência “na marra”, pois
a eleição pôs um ponto final no processo emancipatório, que foi arquivado.
Naquela oportunidade, a Usina de Outeiro proporcionava uma
arrecadação que sustentava as despesas orçamentárias ordinárias. Logo depois a
indústria faliu e, desde então, Cardoso Moreira sobrevive devido ao Fundo de
Participação dos Municípios, já que não tem receita própria que lhe garanta
autonomia.
Isso tudo para dizer que, com apoio de campistas
emancipacionistas e de Italva, recém emancipada, com Eliel Ribeiro como prefeito,
em 1992, Cardoso conhece o seu primeiro chefe do Executivo: Renato Jacinto, que
assumiu em 1993 e criou a base do que passou a ser o município.
Mesmo com uma arrecadação própria que não cobre os gastos
públicos e com uma catástrofe econômica causada pelo novo coronavírus que
causou um baque nas contas públicas em nível nacional, Cardoso Moreira,
politicamente, viverá um novo tempo. Muita expectativa, mas poucas perspectivas
para os futuros novos administradores. Condição similar a muitos outros municípios
da região e de quase todo o país.
Para refrescar a memória dos que já sabem e informar aos que
ainda não conhecem a história política de Cardoso Moreira, um resumo de seu
passado recente:
No dia 31 de julho do ano de 1988, enfim ocorreu o plebiscito
de consulta à população de Cardoso Moreira, à época chamada como o “Dia do Sim”.
O resultado final do pleito foi de maioria favorável à emancipação. Esta foi
oficializada em 30 de novembro de 1989 com a assinatura da Lei estadual nº
1.577. Somente em janeiro do ano de 1993, no entanto, Cardoso Moreira
conseguiu, finalmente, a sua autonomia plena com o encerramento do processo
contra a sua emancipação.
Relação dos Prefeitos e Vice prefeitos 1993 / 2017
1º Mandato – 1993/1996: Prefeito: Renato Jacinto da Silva -
vice: Luiz Carlos Teixeira Dias; 2º Mandato – 1997/2000: Prefeito: Gilson Nunes
Siqueira - vice: Neriete Navarro Alves; 3º Mandato – 2001/2004: Prefeito:
Gilson Nunes Siqueira - vice: Carlos Alberto Araújo de Souza; 4º Mandato –
2005/2008: Prefeito: Renato Jacinto da Silva - vice: Jeferson Faria Viana; 5º
Mandato – 2009/2012: Prefeito: Gilson Nunes Siqueira - vice: Élcio Rangel da
Silva; 6º Mandato – 2013/2016: Prefeito: Genivaldo (Gegê) da Silva
Cantarino - vice: Renato Jacinto da
Silva; 7º Mandato – 2017/2020: Prefeito: Gilson Nunes Siqueira - vice: Renato
Jacinto da Silva
Fatos importantes para análise: o prefeito Renato Jacinto, em
seu primeiro mandato, teve Gilson Siqueira como secretário de Obras. Depois,
tornaram-se adversários por mais de 20 anos. No último pleito se uniram e
ganharam as eleições do então prefeito e candidato à reeleição, Gegê Cantarino.
Na eleição deste ano, Cardoso Moreira passará a viver um novo tempo.
Origem de Cardoso
Moreira e sua denominação
José Cardozo Moreira nasceu em 1815, na Freguesia de São Tomé
de Bade, Distrito de Braga, Norte de Portugal. Em 1835, com apenas 20 anos,
chegou ao Brasil. Casou-se com a senhora Maria da Conceição Machado Cardozo.
José Cardozo Moreira, entre as muitas propriedades que
possuía, sendo um dos homens mais ricos da região, adquiriu uma fazenda, a
Santa Helena, ao lado da primeira cachoeira do rio Muriaé, sentido Campos/Minas
que, com a povoação, recebeu o no de Cardoso Moreira, em sua homenagem.
Em Cachoeiras do Muriaé, o transporte era feito por via
fluvial, através de pranchas; e terrestre, por tropas de burros, que vinham de
muitos lugares distantes, principalmente de Minas Gerais. Por volta de 1855, o
Comendador José Cardozo Moreira e outros grandes fazendeiros organizaram a
companhia “União Campista Fidelense”, diversos barcos a vapor para a navegação
nos rios Paraíba e Muriaé.
José Cardozo Moreira, por seus empreendimentos e boas
relações com o Império, foi agraciado por D. Pedro II com o título de
Comendador, um alto distintivo em termos de autoridade. Era muito respeitado em
Campos e, sendo eleito provedor da Santa Casa, cargo muito importante à época,
o Comendador construiu sua casa na beira rio, próximo ao hospital, que tinha ao
lado, na Praça do Santíssimo Salvador, a Igreja Mãe dos Homens. Há décadas, a
sua residência passou a ser o tradicional Palace Hotel.
Cardoso Moreira faleceu em 1889, em meio ao seu mandato como
46º Provedor da Santa Casa de Misericórdia de Campos. Sua morte, de pneumonia,
ocorreu em São Paulo, em 20 de outubro de 1889. Sua esposa, Maria da Conceição
Machado Cardozo, morreu em 16 de fevereiro de 1900. Já sem os mesmos bens de
antes, que foram constituídos com a escravidão negra, abolida em 1888.
*Avelino é jornalista, professor e pesquisador de História
Regional
Cardoso Moreira - RJ
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