Rave do samba. A quadra da Mangueira terá um viradão nos cinco dias de carnaval Foto: Thiago Mattos/Divulgação
RIO — No
feriado de carnaval, o silêncio deve imperar só mesmo na Sapucaí e (espera-se)
nas avenidas que são palcos dos desfiles de blocos. Porque, nos principais
espaços de eventos fechados da cidade, a folia vai ecoar alto e em ritmos
diversos: do samba e da marchinha ao sertanejo, ao piseiro e às batidas
eletrônicas. Por enquanto, sem novas restrições a essas festas — e apesar da
explosão de casos da variante Ômicron do coronavírus —, não são só mantidas as
programações planejadas antes de a prefeitura do Rio decidir adiar o espetáculo
do Sambódromo e, por ora, cancelar os cortejos de rua. Há também novas agendas,
inclusive das escolas de samba e dos blocos. É promessa de não deixar a data
passar em branco, o que, no entanto, gera preocupação de especialistas em
Saúde.
Uma busca em
três das principais plataformas de venda de ingressos mostra que, de 25 de
fevereiro a 1º de março, e no fim de semana pós-carnaval, o catálogo de opções
é amplo. Entre os blocos que farão eventos indoor, o Chora Me Liga, por
exemplo, vai ao Hipódromo da Gávea. Neste fim de semana, cortejos que compõem a
Liga Zé Pereira decidem se terão uma programação coletiva, com a sede do Cordão
da Bola Preta como QG. Vários blocos também são atrações do Festival Auê, no
Armazém da Utopia, na Zona Portuária.
Num line-up para seis dias de evento, Minha Luz É de Led e Amigos da Onça são alguns dos que se apresentam ao lado de artistas de peso, como Alceu Valença e Duda Beat, além de DJs de festas da noite carioca. Uma das organizadoras do Auê, Juliana Schultz, garante que todos os protocolos sanitários serão cumpridos.
— Antes,
fazíamos o festival num espaço menor. Desta vez, acontecerá numa área de cinco
mil metros quadrados e capacidade para dez mil pessoas. Mas vamos manter um
público entre 5 mil e 6 mil pessoas. Vamos, claro, cobrar o passaporte da
vacina. E, nesta segunda-feira, iniciaremos uma campanha para que aqueles que nos
enviarem o comprovante da terceira dose recebam um código para comprar o
ingresso com desconto — diz Juliana.
Festa
eletrônica
O Reinado de
Momo tampouco deixará de ter o paticumbum das baterias das escolas de samba.
Algumas planejam eventos nas quadras durante o feriado, embora elas só desfilem
na Sapucaí em abril. A Viradouro é uma delas: fará um grito de carnaval em 26
de fevereiro, fechado aos componentes das alas de comunidade. Já a Mangueira
promete um viradão nos cinco dias de folia.
Será um
carnaval também eletrônico, para adeptos de todos os estilos. Haverá pool
parties e raves com os DJs do tribal, festa techno e até músicas dos anos 1920
remixadas. Já o funk terá lugar na Marina da Glória, e o rap e o hip-hop, no
Clube da Aeronáutica. Enquanto que, no Alto Vidigal, o pagode ditará o ritmo.
No Parque
dos Atletas, na Barra, acontecerá o Carnaval das Artes, que em dois dias
reunirá artistas dos mais tocados no país atualmente, como Barões da Pisadinha,
Luan Santana e Wesley Safadão. Perto dali, o Riocentro será o destino da
público do CarnaRildy, em quatro dias de eventos com cantores que arrastam
multidões, como Anitta, Thiaguinho, Maiara e Maraísa, Ludmilla e Pedro Sampaio.
CEO da
Fábrica, uma das empresas que realizam o evento, Renan Coelho diz que os
anúncios recentes da prefeitura não prejudicaram os preparativos do CarnaRildy,
que ampliou sua mão de obra contratada para garantir o cumprimento das medidas
sanitárias, como a exigência do passaporte da vacina.
— Num evento
dessa magnitude, estamos alinhados com todos os órgãos, não só os sanitários —
diz ele.
Presidente
do Apresenta Rio, entidade que reúne empresas de eventos, Pedro Guimarães diz
que ainda não se pode calcular os efeitos, se positivos ou negativos, de um
feriado de carnaval em fevereiro e, depois, outro feriadão com desfiles em
abril. A expectativa, diz ele, é otimista. Mas ele ressalta que o setor foi
afetado, por exemplo, pelos pedidos de devolução de ingressos.
Independentemente disso, ele atesta que os organizadores estão preparados para
cumprir os protocolos.
— Apostamos
que a vacinação é grande passaporte para um mundo novo. E que os eventos podem
e devem continuar, dentro de responsabilidades e cuidados necessários — diz
ele, que defende a realização das festas. — É injusto dizer que as pessoas são
contaminadas nos eventos e não no transporte público ou na praia. Precisamos
tirar da berlinda os eventos como os responsáveis por gerar as grandes
transmissões — afirma ele, acrescentado a importância dos eventos para o
turismo.
Esse setor,
aliás, se mantém confiante para o feriado de carnaval, com previsão de ocupação
dos quartos perto de 85%, de acordo com Alfredo Lopes, presidente do HotéisRio.
Inclusive os hotéis, diz ele, vão realizar suas próprias celebrações. Embora em
formatos menores do que no passado, ocorrerão bailes e feijoadas tradicionais.
‘Risco
enorme’
Mas há
também vozes contrárias à realização de festas e shows nesse período. A
pneumologista Margareth Dalcolmo, da Fiocruz, considera incoerente a permissão
para os eventos, quando a Sapucaí foi adiada e o carnaval de rua, suspenso,
segundo ela, a um alto custo social.
— A meu
juízo, não faz sentido permitir eventos fechados que vão, sem dúvida, incorrer
num risco enorme de transmissão. Então, minha posição é evidentemente de
alerta, tendo em vista, inclusive, que não é plausível acreditarmos que todos
os eventos terão controle adequado do passaporte vacinal, de controle de
sintomáticos, de uso de máscara... — afirma ela.
À frente da
Casa Bloco, Rita Fernandes, que também é presidente da Sebastiana, decidiu
adiar para abril a programação de festas que aconteceriam em fevereiro, de
acordo com ela, seguindo a ciência.
— A sensação
que dá é como se a gente estivesse forçando a barra, na contramão de tudo que
está acontecendo. Temos que ir na mesma direção para ver se a gente acaba com
essa pandemia de uma vez por todas — diz ela, criticando, no entanto, a pressão
sofrida pelo carnaval num momento em que outros eventos ocorrem normalmente. —
Agora, precisava ter uma conscientização não só do povo do carnaval, mas de
todos os outros grandes eventos, porque o carnaval não pode ser punido. Se não
tiver uma ação conjugada, das igrejas, dos frequentadores da praia, de tudo que
aglomera, a gente nunca vai sair disso. E o carnaval vai ficar pagando essa
conta.
No Rio, até
agora não foram editadas novas restrições à realização de eventos diante do
avanço da Ômicron, ao contrário de cidades como Belo Horizonte, que esta semana
passou a exigir, além do comprovante da vacina, testes negativos de Covid-19
para o público.
Sobre as
autorizações para festas, a Secretaria de Ordem Pública (Seop), que concede o
alvará transitório, diz que, no período do carnaval, fará as fiscalizações de
acordo com as determinações e os regramentos vigentes no momento. Um dos focos,
diz o órgão, será coibir os eventos clandestinos, fechados ou na rua.
FONTE: EXTRA
Nenhum comentário:
Postar um comentário